Hoje é o primeiro dia de Coimbra 2003
O evento abre com um programa variado e muitos convidados, mas sem discursos oficiais. É o início da concretização de uma iniciativa que teve um parto difícil. E cujo orçamento global ninguém consegue ainda quantificar.
Trezentos e oitenta e nove dias passados sobre a primeira data prevista para o arranque da primeira CNC - sucessivamente marcado para Janeiro de 2002, Outubro do mesmo ano e Janeiro de 2003, com fontes ligadas à organização a assegurarem ao PÚBLICO que, em meados do ano passado, se ponderou mesmo um novo adiamento, para Janeiro de 2004 -, a ideia apresentada há dois anos pelo então ministro da Cultura, José Sasportes, começa hoje a concretizar-se, pondo-se assim um ponto final num processo conturbado.
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Trezentos e oitenta e nove dias passados sobre a primeira data prevista para o arranque da primeira CNC - sucessivamente marcado para Janeiro de 2002, Outubro do mesmo ano e Janeiro de 2003, com fontes ligadas à organização a assegurarem ao PÚBLICO que, em meados do ano passado, se ponderou mesmo um novo adiamento, para Janeiro de 2004 -, a ideia apresentada há dois anos pelo então ministro da Cultura, José Sasportes, começa hoje a concretizar-se, pondo-se assim um ponto final num processo conturbado.
Durante largos meses, Abílio Hernandez, indicado pelo Governo, em Março de 2001, para presidir à estrutura organizativa do evento, avisou que a tutela tardava em definir o modelo de gestão e a envolvente financeira do mesmo. Num episódio aparentemente superado (ver entrevista ao lado), Sasportes chegou a qualificar como "falsidades" as queixas de Hernandez, que acusava o Governo de tardar em cumprir a sua parte. A verdade é que o responsável só foi empossado em Novembro de 2001, e não como presidente da Sociedade Anónima - que Hernandez sempre defendeu, e que Sasportes também preconizou inicialmente - mas como presidente de uma estrutura de projecto, administrativamente dependente do Ministério da Cultura.
A questão do orçamento, numa altura em que Hernandez e a generalidade dos agentes culturais de Coimbra diziam estar-se a trabalhar sobre "prazos-limite", só ficou definitivamente definida durante a passagem de Augusto Santos Silva pela pasta da Cultura. O ministério investiu sete milhões de euros na CCNC. Mas sabe-se também que o evento custará muito mais, ainda que nem Abílio Hernandez arrisque uma estimativa. É que, como decorre da própria resolução do Conselho de Ministros que a instituiu, a CCNC é um projecto transversal a vários ministérios e a organização do evento passou pelo estabelecimento de uma parceria com outras entidades locais que também procuraram outros financiamentos. A título de exemplo, refira-se que só o projecto "Rota dos Escritores do Séc. XX" da Comissão de Coordenação da Região Centro - inscrito no programa da CCNC, apesar de não se circunscrever a 2003 - tem um orçamento que ronda os dez milhões de euros...
Vários agentes culturais de Coimbra nunca se renderam incondicionalmente à CCNC. Queixaram-se de falta de informação sobre a preparação do evento, que teria obstado a um maior envolvimento dos artistas e da própria população. Mesmo algumas das individualidades convidadas para responder por áreas de programação foram-se queixando discretamente, ou por interposta pessoa, de que a colaboração para a qual tinham sendo solicitados ficava aquém do estatuto de programador. A verdade é que também nem todos foram formalmente apresentados como tais e, em muitos casos, a falta de tempo e dinheiro foi reconhecida como constrangimento que dificilmente deixaria de prejudicar a existência de programadores na verdadeira acepção do termo, com orçamentos pré-definidos por área e razoável grau de autonomia. E até no conselho consultivo escolhido pelo próprio presidente da CCNC houve demissões, justificadas com a "gestão exagerada e desnecessariamente centralizadora de Abílio Hernandez". O programa da CCNC, sem ser consensual, acabou por merecer o benefício da dúvida dos agentes locais.
Hoje, o espírito prevalecente parece ser o de, a partir de agora, fazer com que a CCNC corra o melhor possível. E um concerto da Orquestra Gulbenkian é sempre uma garantia de harmonia. Assim, às 21h30, depois do hino nacional, a orquestra dirigida por Yaron Traub, com Pedro Burmester como pianista convidado, vai interpretar um programa com composições de Alexandre Delgado, Schumann e Tchaikovsky.
À tarde, às 16h30, é inaugurada a exposição "... a ver correr serenas as águas do Mondego", a evocar Miguel Torga. Patente na Casa da Cultura, a mostra está incluída na "Rota dos Escritores", que pretende divulgar a obra de sete autores literários da região, relacionando-a com outro tipo de iniciativas, do turismo à recuperação patrimonial. Além de edições relativas à obra e vida do escritor, será apresentado o projecto da Casa da Escrita, para instalar espólio relacionado com Torga e acolher outros autores que demandem Coimbra, quando esta aderir à rede de cidades-refúgio de escritores.
Uma hora mais tarde, é inaugurada na Sala da Cidade a exposição "Escultura de Coimbra: do Gótico ao Maneirismo", com fotografias e obras de mestres como João de Ruão ou Tomé Velho.