João Amaral: Morreu o ex-deputado que adorava ser deputado

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João Amaral era considerado pelos seus pares na Assembleia como o príncipe dos deputados que nunca perdia o seu refinado humor Tiago Petinga/Lusa

Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, o estado de saúde de João Amaral agravara-se no último mês, tendo participado em Dezembro no lançamento público do livro de Cipriano Justo e depois na inauguração do retrato a óleo de António de Almeida Santos, na galeria dos ex-presidentes, na Assembleia da República, órgão de soberania de que foi vice-presidente, exactamente com Almeida Santos, entre 1999 e 2002.

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Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, o estado de saúde de João Amaral agravara-se no último mês, tendo participado em Dezembro no lançamento público do livro de Cipriano Justo e depois na inauguração do retrato a óleo de António de Almeida Santos, na galeria dos ex-presidentes, na Assembleia da República, órgão de soberania de que foi vice-presidente, exactamente com Almeida Santos, entre 1999 e 2002.

Deputado desde 1979 até 2002, João Amaral não foi candidato às eleições legislativas intercalares de Março passado, porque não aceitou ser remetido para um lugar não elegível, na lista do Porto, que tinha encabeçado dois anos antes, então em substituição do falecido Luís Sá.

Um convite que é visto então pelo próprio como um pretexto para o afastarem da lista, num momento em que João Amaral era já um dos líderes da terceira vaga do movimento interno em defesa das mudanças no partido. Um movimento que protagonizou no congresso de Dezembro de 2000 tendo então ficado afastado da direcção, em ruptura com a direcção eleita. Pouco depois estava a defender um novo congresso para que fosse feita a renovação ideológica e orgânica do partido.

Sem cargos no PCP, João Amaral era então vice-presidente da AR e presidente da Assembleia Municipal de Lisboa. E se não foi recandidato à Assembleia, em Março passado, foi-o ainda à Assembleia Municipal, no âmbito da coligação com o PS.

É precisamente no período que antecede as eleições autárquicas de Dezembro que João Amaral sabe que os problemas de saúde que o afectam há um tempo são um cancro no esófago, doença que não esconde, mas de que não fala, prosseguindo a sua actividade política e partidária, mantendo mesmo algumas actividades de campanha e procurando continuar a viver em normalidade e a apostar nas causas que o entusiasmavam, a vida parlamentar e a renovação do PCP.

Esta última manteve-o ligado à política activa até ao fim. Mas apenas como militante de base consentido. Ou seja, quando o PCP expulsa Edgar Correia e Carlos Luís Figueira e suspende Carlos Brito, em Junho passado, inibe-se de expulsar também João Amaral: a doença do ex-dirigente é já um facto público e o escândalo seria devastador para a imagem do partido.

Mas se a actividade política foi mantida até ao fim, a parlamentar não, por força de um convite para um lugar manifestamente não elegível, quando já está doente e e a direcção comunista sabe que a doença é irreversível. A ruptura política e a intransigência da direcção do PCP em relação a João Amaral foi também ela irreversível. Na actual legislatura, o homem que adorava ser deputado passou a participar em momentos solenes como o último aniversário do 25 de Abril e agora em Dezembro, a convite de Almeida Santos.