Células estaminais são futuro do tratamento dentário

O feito não é completamente novo, visto que em Agosto passado uma outra equipa, do King's College de Londres, já tinha conseguido fazer o mesmo, criando dentes novos de ratinhos mas apenas num prato de laboratório. Um dentista, contactado pelo PÚBLICO não tem dúvidas em reconhecer que esta será a terapia do futuro. Mas por enquanto é apenas isso.

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O feito não é completamente novo, visto que em Agosto passado uma outra equipa, do King's College de Londres, já tinha conseguido fazer o mesmo, criando dentes novos de ratinhos mas apenas num prato de laboratório. Um dentista, contactado pelo PÚBLICO não tem dúvidas em reconhecer que esta será a terapia do futuro. Mas por enquanto é apenas isso.

Há dois anos, cientistas dos Institutos Nacionais de Saúde norte-americanos, em Washington, descobriram que a polpa do dente - a zona irrigada a que popularmente chamamos nervo - continha células estaminais, isto é, células ainda com indiferenciadas, mas capazes de se especializarem em vários tipos de células com funções específicas. Neste caso, as células estaminais da polpa, a que chamaram odontoblastos, eram capazes de se especializar em células da dentina - a camada nobre do dente, que fica a seguir à polpa e que é protegida pelo esmalte, a camada branca visível.

A equipa do Instituto Forsyth de Investigação Oral e Facial, coordenada por Dominick DePaola, conseguiu extrair odontoblastos da polpa de dentes imaturos de porcos com seis meses. Tratou essas células com enzimas em culturas de laboratório e juntou-as a uma estrutura esponjosa, artificial e biodegradável, capaz de fazer o papel da gengiva, para que os dentes pudessem formar-se. Entre os milhões de células da polpa do dente existem cerca de 80 células estaminais, dizem os cientistas.

O passo seguinte foi implantar a experiência no abdómen de ratinhos. O resultado, anunciado este mês no "Journal of Dental Research", foi uma coroa de dente imaturo, de porco, em que a equipa identificou a dentina e o esmalte completamente formados.

O dentista Fernando Almeida, um dos primeiros a aplicar em Portugal implantes de titânio - a técnica mais moderna da substituição dentária e sobre a qual está a fazer o doutoramento, afirma que os tratamentos com células estaminais serão o futuro: "Isto é o princípio do que um dia, daqui a alguns anos, será o futuro dos tratamentos dentários para pessoas que perderam dentes. Mas estamos no início, ao nível dos testes com animais, e não sabemos se o progresso vai ser rápido ou não".

O dentista afirma que o mesmo se espera da vacina contra a cárie, provocada por bactérias, que também ainda aguarda aperfeiçoamento: "Até lá, restam-nos os implantes de titânio, o melhor de que dispomos actualmente".

Mais optimista, a equipa norte-americana arrisca definir quanto tempo vamos ter de esperar para ter dentes novos, a qualquer altura da vida, criados a partir de células estaminais: "Dentro de cinco anos vamos saber se é ou não possível manipular células estaminais para conseguir ter um dente completo. E talvez dentro de dez anos se consiga criar um dente novo humano", disse a equipa à BBC Online.

Fernando Almeida explica que o problema da substituição de dentes é cada vez mais pertinente, à medida que a esperança média de vida aumenta: "Nos Estados Unidos já há estudos que indicam que, por volta de 2010, não vai haver dentistas suficientes para responder à necessidade de implantes dentários da população, uma vez que as pessoas vivem cada vez mais".