Kaurismaki refina-se
Um Kaurismaki vintage para superar a decepção de "Juha", o seu filme mais falhado e mais denunciado (Kaurismaki sempre fez cinema mudo, a diferença de "Juha" é que o deixa demasiado bem explicado). "O Homem sem Passado" é tão mudo e tão básico como um burlesco chaplino-keatoniano, filmado com as cores e com a luz do cinema de Michael Powell, animado pela dignidade moral dos grandes americanos clássicos e habitado pelo silencioso pudor melodramático de Ozu (a piada do saké no comboio é mais uma vénia que uma referência, não?). Diz-se que Kaurismaki se repete? Nem seria o único, mas parece mais justo dizer que se refina. Se alguma coisa se repete aqui é o prazer de se ser espectador de cinema, e isso (a redescoberta de um prazer repetido, como os copos e como os cigarros) até é qualquer coisa de absolutamente central na obra do finlandês. E "O Homem sem Passado" pode nem ser o melhor filme estreado este ano, mas é seguramente o que mais prazer dá.
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Um Kaurismaki vintage para superar a decepção de "Juha", o seu filme mais falhado e mais denunciado (Kaurismaki sempre fez cinema mudo, a diferença de "Juha" é que o deixa demasiado bem explicado). "O Homem sem Passado" é tão mudo e tão básico como um burlesco chaplino-keatoniano, filmado com as cores e com a luz do cinema de Michael Powell, animado pela dignidade moral dos grandes americanos clássicos e habitado pelo silencioso pudor melodramático de Ozu (a piada do saké no comboio é mais uma vénia que uma referência, não?). Diz-se que Kaurismaki se repete? Nem seria o único, mas parece mais justo dizer que se refina. Se alguma coisa se repete aqui é o prazer de se ser espectador de cinema, e isso (a redescoberta de um prazer repetido, como os copos e como os cigarros) até é qualquer coisa de absolutamente central na obra do finlandês. E "O Homem sem Passado" pode nem ser o melhor filme estreado este ano, mas é seguramente o que mais prazer dá.