Investigador português define nova espécie de ave na Península Ibérica
Baseado em estudos genéticos que compararam o DNA mitocondrial da pega-azul que vive na Ásia e o da vive na Península Ibérica, Pedro Cardia, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, concluiu que as duas espécies "estão separadas há três milhões de anos e evoluiram separadamente, seguindo um caminho independente".
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Baseado em estudos genéticos que compararam o DNA mitocondrial da pega-azul que vive na Ásia e o da vive na Península Ibérica, Pedro Cardia, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, concluiu que as duas espécies "estão separadas há três milhões de anos e evoluiram separadamente, seguindo um caminho independente".
A questão que agora foi solucionada consistia em saber porque a mesma espécie de ave se encontrava com uma distribuição tão distante. Até ao momento existiam duas teses. A primeira, a mais "romântica", seria a de que teriam sido os navegadores portugueses a trazer da Ásia a espécie, no século XVI e que esta se teria adaptado bem à região. A outra defendia que a pega-azul tinha uma distribuição mundial muito grande e que, com as glaciações, tivesse ficado reduzida à Ásia e à Península Ibérica.
Agora, a tese de mestrado de Pedro Cardia veio esclarecer as dúvidas e defende que a pega-azul ou charneco (Cyanopica cooki) é uma espécie autóctone (natural desta região) e endémica (que apenas existe na Península Ibérica).
Duas espécies parecidas a nível morfológico"A nível morfológico, as diferenças são muito poucas. Fundamentalmente, e utilizando valores médios, a pega asiática é ligeiramente maior e mais clara, a cauda é proporcionalmente mais comprida e na sua extremidade tem uma barra branca bastante grande. A pega ibérica não tem essa barra ou quando a tem é muito reduzida", explicou o investigador ao PUBLICO.PT.
Segundo Luís Costa, director de conservação da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), a pega-azul "é uma espécie relativamente comum no país" e está distribuída "desde a Beira Interior ao Algarve" e "apresenta um efectivo bastante razoável". No entanto, como agora se descobriu que é uma espécie nova, "o seu estatuto deve ser revisto".
Pedro Cardia lembrou ainda que a espécie pode ser "relativamente vulnerável, dado que apenas existe na Península Ibérica - uma área muito pequena no mundo - e apenas em algumas regiões". A "alteração dos seus habitats - meios florestais e agro-florestais - são uma das principais ameaças" à espécie.
A ideia da investigação, reconheceu Pedro Cardia, "partiu da curiosidade" de esclarecer as dúvidas quanto às duas teses existentes e foi anterior ao início dos trabalhos, em 2000.
Agora surgem novas questões, nomeadamente, saber onde se refugiou a espécie durante as glaciações que também atingiram a Península Ibérica. Mas, segundo Pedro Cardia, esta investigação ainda não tem data de arranque marcada. O que já está previsto é a "colaboração com investigadores britânicos da Universidade de Nottingham que realizaram investigações semelhantes.