Areia seca é a zona mais contaminada das praias
Preocupada com o facto de não haver nem estudos nem legislação sobre a qualidade das areias, esta organização não-governamental decidiu envolver entidades públicas e privadas num levantamento pioneiro sobre o estado dos locais onde os banhistas passam mais tempo, com o objectivo de definir parâmetros para análises futuras. Para esta primeira abordagem, foram escolhidas 15 praias das regiões Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.
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Preocupada com o facto de não haver nem estudos nem legislação sobre a qualidade das areias, esta organização não-governamental decidiu envolver entidades públicas e privadas num levantamento pioneiro sobre o estado dos locais onde os banhistas passam mais tempo, com o objectivo de definir parâmetros para análises futuras. Para esta primeira abordagem, foram escolhidas 15 praias das regiões Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.
Foram eleitas cinco praias consideradas quase selvagens (Canto Marinho, Praia das Dunas da Costa Nova, Abano, Atlântica e Castelejo), outras cinco galardoadas com bandeira azul (Afife, Costa Nova, Guincho, Tróia e Salema) e as restantes com elevada ocupação humana, mas sem bandeira azul (Árvore, Vieira de Leiria, Rainha, Zambujeira do Mar e Cais da Solaria).
Durante um ano, foram recolhidas amostras da água e de areia molhada e seca. O objectivo era caracterizar duas zonas distintas da praia - "a zona seca, que normalmente não é banhada pela água do mar, correspondente à área habitualmente frequentada pelos banhistas, e a zona húmida, que sofre influência das marés e é o local privilegiado pelas crianças e idosos", lê-se no relatório.
A principal conclusão é a "correspondência muito estreita entre a boa e a aceitável qualidade da areia e a baixa taxa de ocupação humana e a inexistência de resíduos sólidos". Ou seja, são as praias selvagens que menos contaminação apresentam ao longo de todo o ano.
Nas praias com bandeira azul, "o número de leveduras tanto na areia seca como na areia molhada não é muito elevado, sendo os valores máximos atingidos em Julho tanto para o indicador micológico como para o grupo dos fungos potencialmente patogénicos e fungos ambientais, o que poderá estar relacionado com o início da época balnear". De uma forma geral, os resultados globais destas praias indicam areia de boa qualidade.
Já nas praias situadas em frentes urbanas, a contaminação é elevada, com picos em Julho e Setembro. "Além disso, os valores são superiores em todos os parâmetros para a areia seca."
Aliás, no conjunto do três tipos de praia "observou-se que a areia seca mostrou sempre resultados superiores aos da água e da areia húmida nas contagens totais de fungos". Esta situação deve-se "ao efeito da lavagem da areia pelo mar, que minimiza os focos de contaminação", explicou ao PÚBLICO José Archer, presidente da ABAE.
Embora haja uma relação directa entre a qualidade da água e a contaminação da areia húmida, o mesmo já não acontece em relação à parte seca, pois é ali que se acumulam o lixo e os dejectos produzidos por animais, por exemplo, independentemente de a água do mar ser de boa qualidade ou não. Ou seja, "é na areia seca que é mais visível o efeito da poluição provocada pelo comportamento humano", acrescentou José Archer.
O ideal seria recomendar uma limpeza das praias ao longo de todo o ano e não apenas na época balnear, "mas isso não seria viável pois as intempéries dificultam a tarefa, os concessionários não estão a funcionar e há, como se sabe, uma grande dispersão de responsabilidades sobre a orla costeira por várias tutelas", explicou o presidente da ABAE.
Mas há passos que se podem dar: no relatório propõe-se que no âmbito da definição de "Perfil de Praia", actualmente em fase de execução pelo Instituto da Água, seja incluído o critério "Qualidade microbiológica das areias", no qual fosse obrigatória a realização de três campanhas de amostragens anuais - antes, durante e após a época balnear.
Além disso, na próxima reunião da Fundação para a Educação Ambiental na Europa (que reúne 24 associações congéneres da ABAE), que decorre em Novembro em Vilamoura, vai ser proposto que a qualidade das areias passe a integrar os critérios da atribuição da bandeira azul. Pretende-se ainda alterar a directiva sobre a qualidade das águas balneares, de forma a integrar a qualidade das areias nesta legislação.
Além disso, a ABAE vai ainda convidar todos os municípios da orla costeira a fazer, a partir de 2003, a monitorização da areia das suas praias.