A estreia de Lenny Kravitz: quem conquistou quem?
“Mais vale tarde que nunca”, “Quem espera sempre alcança” ou “Tarda mas não falha” são exemplos de adágios que podem muito bem definir um pouco do que foi este concerto. Foi a primeira vez. E nem Lenny nem público estavam dispostos a prescindir um mílimetro que fosse da preciosidade do momento. Um momento que, aliás, se esticou bem para lá das duas horas de duração, numa verdadeira maratona musical que já poucos artistas arriscam – ou conseguem – levar a cabo. Não se pense sequer por um momento que isso significou tempos mortos ou sonolência na assistência. Nada mais falso. Quando tudo acabou, perante o magnífico fogo de artifício oferecido pela Super Bock (passe a publicidade) para marcar os seus 75 anos, não parecia ter passado tanto tempo. E havia muito quem dissesse que ainda haveria muitas mais músicas para tocar...
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“Mais vale tarde que nunca”, “Quem espera sempre alcança” ou “Tarda mas não falha” são exemplos de adágios que podem muito bem definir um pouco do que foi este concerto. Foi a primeira vez. E nem Lenny nem público estavam dispostos a prescindir um mílimetro que fosse da preciosidade do momento. Um momento que, aliás, se esticou bem para lá das duas horas de duração, numa verdadeira maratona musical que já poucos artistas arriscam – ou conseguem – levar a cabo. Não se pense sequer por um momento que isso significou tempos mortos ou sonolência na assistência. Nada mais falso. Quando tudo acabou, perante o magnífico fogo de artifício oferecido pela Super Bock (passe a publicidade) para marcar os seus 75 anos, não parecia ter passado tanto tempo. E havia muito quem dissesse que ainda haveria muitas mais músicas para tocar...
Mas voltando ao início, tudo começou com outra norte-americana que também nunca por cá tinha tocado: Macy Gray. Comunicativa, doce e encantada com a calorosa recepção, não teve dificuldades em pôr todo o público a pular e a dançar pelo seu diapasão. A boa-disposição passou por ali em grande, com a “funk soul sister” a não esquecer os temas que lhe deram a fama, como “I try”, “Sexual revolution” e “Sweet baby”.
Composto e aquecido que estava o estádio, subiu ao palco (montado de costas para o Tejo) uma figura mais do que conhecida, seja pelo “look”, seja pelo cabelo, seja pela guitarra que transporta consigo. Mas aqui a identificação é sobretudo com a voz e com um estilo de fazer música inconfundível, imediatamente revelado no ataque a “Bank robber man”, um dos temas do recente “Lenny” (2002). Afinal, foi esse álbum que o trouxe a Portugal. Mas, apesar de ser o mote, não foi a personagem maior. Esse papel ficou para o próprio e para uma carreira feita de êxitos atrás de êxitos. É que Lenny sentiu que tinha de compensar o público português pela longa espera (recorde-se que o músico já conta com 13 anos de carreira). E lá vai uma voltinha no carrossel dos clássicos. Que começou, aliás, logo na segunda música, nada mais nada menos do que o emblemático – e irónico – “Rock & roll is dead”. Emblemático, porque é um dos temas mais conhecidos de Lenny e um dos que melhor espelha a essência do rock que pratica. Irónico porque, a julgar por esta noite, o rock nunca esteve tão vivo.
Do álbum “Lenny”, ouviram-se temas como “Dig in”, “Pay to play”, “If I could fall in love” e “Stillness of heart”. Este último foi um dos candidatos a momento da noite por ter gerado um coro monumental, tanto quanto permite um Estádio do Restelo cheio de gente que trata por “tu” a música de Kravitz. Foi também aqui que a emoção do cantor se tornou mais visível. Pela primeira vez desde o início do concerto, olhou o público nos olhos. Ou seja, tirou os óculos “a la polícia americano” e tomou um banho de multidão, fez véneas, agradeceu sem parar. Várias vezes, a partir daqui. Visivelmente feliz, diz-nos que somos maravilhosos, lindíssimos, que não se lembra de ter sido tão bem recebido. Lábia? Não, porque os lábios do músico não enganam e esboçam um sorriso que não desarma.
As grandes explosões de partilha viriam ainda com os tais clássicos: “Beyond the 7th sky”, “Let love rule”, “Blues for sister someone”, “Fields of joy”, “American Woman” e o rasgado “Are you gonna go my way”. Para o primeiro encore, Lenny Kravitz guardou duas das suas mais belas baladas: “Believe” e “Again”. E muitos isqueiros acesos no meio da emoção. O público não desistiu e chamou Lenny mais uma vez. O músico não se fez rogado e atacou “Fly away”, o útlimo êxtase musical.
Resta destacar a qualidade do som (inédita por aquelas paragens), o profissionalismo dos músicos e os cenários projectados ao fundo do palco, pensados para caberem em cada música como se nelas tivessem nascido: ora paisagens, ora imagens psicadélicas, ora vitrais. Para todos os gostos.
Quanto ao público português, rendeu-se sem condições, mas, por seu lado, também pode dizer que conquistou mais um. Ou que inaugurou um novo caso de amor, a acrescentar à lista de bandas que já parecem não conseguir viver muito tempo sem passar por aqui. O regresso ficou prometido. “Prometo que, a partir de agora, Portugal vai ser uma paragem regular...”, disse Lenny Kravitz enquanto, estupefacto e encantado, olhava a multidão em coro.