Hugo Chávez transferido para base naval a cem quilómetros da capital
"Estão em vias de o transportar para Turiamo", na costa caribenha, precisou o membro do serviço de imprensa de Hugo Chávez, que pediu o anonimato. A fonte adiantou que se baseia em informações de militares apoiantes de Chávez, presentes em Fort Tiuna. "Penso que ele receia que o matem", acrescentou.
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"Estão em vias de o transportar para Turiamo", na costa caribenha, precisou o membro do serviço de imprensa de Hugo Chávez, que pediu o anonimato. A fonte adiantou que se baseia em informações de militares apoiantes de Chávez, presentes em Fort Tiuna. "Penso que ele receia que o matem", acrescentou.
A base naval de Turiamo, a norte do Parque Nacional Henry Pittier, no estado de Aragua, é apenas acessível por uma estreita estrada de montanha.
Interrogada pela televisão cubana, a filha do ex-Presidente, Maria Gabriela, indicou esta manhã que militares partidários de Chávez lhe disseram que o pai foi "levado de helicóptero" para local desconhecido.
O Presidente reeleito em 2000 para um mandato de seis anos foi forçado a demitir-se do cargo pelos militares, na sequência da repressão policial das manifestações populares contra a política de Chávez, que causou a morte a 15 pessoas e feriu centenas.
Pedro Carmona, um dos principais promotores da greve geral na origem da queda do ex-chefe de Estado, foi empossado ontem como Presidente da República da Venezuela, à cabeça de "um Governo de transição democrática e de união nacional".
O anúncio da transferência de Chávez para a base naval surgiu poucas horas depois de duas centenas de pessoas se terem manifestado contra o derrube do Presidente em frente à base militar de Fort Tiuna. Helicópteros sobrevoaram a manifestação e, segundo testemunhas, ouviram-se trocas de tiros nos bairros de El Valle e Coche, em Caracas. No bairro de Nueva Tacagua, a polícia chegou mesmo a atirar contra os manifestantes.
"Queremos um referendo", pediam os apoiantes de Chávez, prometendo que "os pobres não deixarão cair" o Presidente eleito.
O ex-ministro da Defesa venezuelano José Vincente Rangel considerou ter havido uma "clara rebelião dos militares", que originou o afastamento de Chávez, e uma ruptura "evidente" da ordem constitucional.
Em declarações ao jornal "El Nacional", Rangel voltou a sublinhar que Hugo Chávez "não se demitiu".
Governo provisório é uma clara viragem à direitaNão foi só Chávez que caiu ontem, com ele caiu também a esquerda populista venezuelana. O chefe do Governo provisório, Pedro Carmona, é uma figura da direita conservadora e tradicionalista.
O novo ministro das Relações Externas, José Rodríguez Iturbe, é membro da Opus Dei e presidiu a comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia Nacional durante a Presidência do democrata-cristão Luis Herrera Campins (1979-84). O ministério por ele liderado deverá, segundos os especialistas, pautar-se por uma aproximação aos EUA.
As Finanças ficarão sob a alçada de um ministro da direita Leopoldo Martinez, que vai tentar dar novas garantias e seguranças aos investidores, depois dos receios inspirados pelo regime de Chávez, nomeadamente com o pacote de 49 decretos-lei — incluindo uma reforma agrária e uma restruturação do sector petrolífero. Este pacote foi já anulado por Pedro Carmona.
"Está suspensa a aplicação dos 49 decretos-lei, com força de lei. O Presidente criará uma comissão de revisão desses decretos, formada por diversos sectores da sociedade", informou o porta-voz do novo Governo, Daniel Romero.
O novo ministro do Interior é o general da Guarda Nacional Rafael Damiani, que se rebelou contra Chávez na véspera do golpe militar.
Pedro Carmona também já dissolveu a Assembleia Nacional, com base no artigo 3º do acto constitutivo oficial, sobre a criação de "um Governo de transição democrática e de união nacional". O acto constitutivo oficial — na origem do novo Executivo — foi assinado por oito personalidades em representação da sociedade civil: o arcebispo de Caracas, Ignacio Cardenal (em representação das igrejas), Luis Enrique Ball (empresas), José Curiel (partidos políticos), Rocio Jigarro (ONG's), Miguel Angel Martinez ("media"), o governador do estado de Zulia, Manuel Rosales (governos regionais), Alfredo Ramos (sindicatos) e Carlos Fernandez (patronato).
Críticas externas ao derrube de ChávezO Irão defende que os EUA estão por trás do derrube do Presidente Chávez. "A política externa do Governo de Chávez era contrária à estratégia dos Estados Unidos para a América Latina", justificou a televisão estatal iraniana num boletim informativo, adiantando que o golpe militar venezuelano faz lembrar "quando em 1973 a Administração norte-americana apoiou o golpe de Estado do general Augusto Pinochet no Chile".
"A razão mais importante para a preocupação norte-americana é o negócio do petróleo. Havia cada vez mais possibilidades de a Venezuela se juntar ao embargo petrolífero" aos EUA, acrescentou a televisão iraniana.
Também o Presidente argentino considerou que o novo Governo venezuelano teve uma atitude "típica de uma ditadura". Para Eduardo Duhalde, a Organização dos Estados Americanos deve aplicar sanções ao novo Executivo.
Admitindo que o golpe militar resultou da "pouca habilidade do Presidente Chávez", nomeadamente em "dar-se bem com os seus vizinhos", Duhalde realçou que se quebrou "a ordem constitucional".