Diferença entre homens e chimpanzés pode estar na actividade genética no cérebro

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As alterações nos padrões de expressão das informações codificadas no ADN dos neurónios podem explicar evolução humana DR

Isto quer dizer que, com o mesmo material genético, as duas espécies fazem coisas diversas. A informação codificada nos genes é activada de forma diferente no cérebro de homens e chimpanzés, o que produz padrões de expressão genética próprios de cada espécie, sublinha a equipa de Svante Pääbo, do Instituto Max-Planck de Antropologia Evolutiva (em Leipzig, na Alemanha).

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Isto quer dizer que, com o mesmo material genético, as duas espécies fazem coisas diversas. A informação codificada nos genes é activada de forma diferente no cérebro de homens e chimpanzés, o que produz padrões de expressão genética próprios de cada espécie, sublinha a equipa de Svante Pääbo, do Instituto Max-Planck de Antropologia Evolutiva (em Leipzig, na Alemanha).

Ou seja, no cérebro do homem são produzidas algumas proteínas ligeiramente diferentes das produzidas pelos chimpanzés, mas a grande diferença está na quantidade de proteínas fabricadas pelas células cerebrais dos humanos, que é muito maior: 5,5 vezes mais elevada.

"O padrão de expressão [genética] do córtex cerebral dos chimpanzés é mais parecido com o dos macacos Rhesus do que com o dos humanos", concluem os investigadores. "Estes resultados indicam que as alterações da expressão genética no cérebro ao longo da evolução foram muito aceleradas na linhagem que deu origem ao homem do que na do chimpanzé", escrevem.

Esta diferença tão acentuada entre o homem e o chimpanzé não se nota ao nível dos glóbulos brancos (leucócitos) do sangue nem no fígado, que os cientistas também analisaram para fazer comparações entre a a nossa espécie ("Homo sapiens"), chimpanzés ("Pan troglodytes"), orangotangos ("Pongo pygmaeus") e macacos Rhesus ("Macaca mulatta").

No que diz respeito aos leucócitos e ao fígado, homens e chimpanzés revelam-se sempre parentes muito próximos, praticamente idênticos entre si e bastante diferentes dos orangotangos e dos macacos Rhesus.

Para verificar se as diferenças e semelhanças de expressão genética entre homens e chimpanzés eram reproduzidas noutras espécies de mamíferos muito próximas, os investigadores realizaram análises aos tecidos de três espécies de ratos: "Mus musculus", "Mus spretus" e "Mus caroli". As duas últimas espécies divergem da primeira em grau semelhante ao que acontece com os chimpanzés e os orangotangos em relação aos homens.

Tal como acontece com homens e chimpanzés, o "Mus musculus" e o Mus spretus", que são espécies próximas, partilham padrões de expressão genética que os separam do "Mus caroli", mais distante. Mas não se verifica a grande discrepância na actividade genética dos tecidos do cérebro que os investigadores descobriram entre homens e chimpanzés. Assim sendo, a equipa defende que a alteração dos níveis de expressão genética sofrida pelo homem se deu muito recentemente na história evolutiva comum de humanos e chimpanzés. O que terá desencadeado este processo evolutivo é que os cientistas não são ainda capazes de definir. "É provável que os motivos sejam muito variados, por exemplo duplicações e delecções de genes, alterações das sequências promotoras ou dos factores de transcrição, ou até modificações na composição celular dos tecidos", escrevem os investigadores.