Rivalidade entre cientistas marca aniversário da sequenciação do genoma
Craig Venter, que até 22 de Janeiro presidia à empresa Celera, tinha sido até convidado por um "site" britânico de notícias sobre ciência, o BioMedNet, para comentar o livro de Sulston, numa sessão que se realiza esta quinta-feira, em Londres, na Royal Institution. Mas Sulston, que teve o apoio da jornalista de ciência Georgina Ferry, repete neste livro a sua defesa da ciência como bem público, que não pode ser patenteável nem propriedade de ninguém, atacando os cientistas e as empresas que exploram comercialmente as suas descobertas - usando termos pouco simpáticos para falar dos que o fazem, como é seu hábito.
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Craig Venter, que até 22 de Janeiro presidia à empresa Celera, tinha sido até convidado por um "site" britânico de notícias sobre ciência, o BioMedNet, para comentar o livro de Sulston, numa sessão que se realiza esta quinta-feira, em Londres, na Royal Institution. Mas Sulston, que teve o apoio da jornalista de ciência Georgina Ferry, repete neste livro a sua defesa da ciência como bem público, que não pode ser patenteável nem propriedade de ninguém, atacando os cientistas e as empresas que exploram comercialmente as suas descobertas - usando termos pouco simpáticos para falar dos que o fazem, como é seu hábito.
Para Sulston, a genética hoje em dia é uma espécie de cruzamento entre um circo de três pistas, projectos megalómanos e um desafio à democracia, escreve Tim Radford, editor de ciência do diário britânico "The Guardian".
Sulston salienta que continua praticamente tudo por fazer - ainda mal começámos a decifrar o código genético, depois de o sequenciarmos. "Uma das analogias que me parece mais interessante é a de que o genoma é um hieróglifo. Até agora, apenas conseguimos desenterrá-lo, e sacudir-lhe a areia de cima. Ainda temos que aprender quase tudo sobre ele."
Mas, para avançar nessa descoberta, o caminho está minado, afirma Sulston, num outro trecho do livro citado pelo "The Guardian": "É um truismo dizer que o ritmo das descobertas é cada vez mais acelerado, o que eu acho que é verdade. Mas penso que temos de ter mecanismos decentes para lidar com isto. Estamos a prestar demasiada atenção às forças do mercado. O que está a acontecer é que a utilização das descobertas está a ser feita levando em conta apenas considerações financeiras, quando devíamos estar a injectar-lhe cada vez mais democracia e ética."
Ora Craig Venter sempre foi um dos alvos preferidos destas críticas de Sulston à mistura da ciência com as finanças: Venter presidia a uma empresa que entrou em competição directa com o consórcio público para a sequenciação do genoma, e que nunca escondeu a intenção de cobrar pelos seus dados de sequenciação. Aliás, a Celera está a dar um passo em frente, para se transformar numa empresa cujo negócio é o de desenvolver medicamentos com base na genética - foi precisamente porque a empresa está a mudar de rumo que Venter foi afastado da presidência.
Com este livro, no qual Sulston põe preto no branco as suas críticas à exploração comercial do genoma, Venter sentiu-se mais uma vez incomodado. Até porque o cientista britânico, que foi tornado nobre pela rainha Isabel II no ano passado, continua a atacar ferozmente a mistura do dinheiro com a ciência: "O problema é que quando se entra para o conselho de administração de uma empresa, deixa de haver escolha. A empresa tem accionistas. O que acontece é que tem de se deixar os princípios à porta do conselho de administração", escreve Sulston.
Para Venter, foi demais. Nem sequer aceitou o convite para comentar o livro de Sulston. "O Dr. Venter teve finalmente tempo para ler o livro, e como suspeitava (embora tivesse a esperança de que assim não fosse), a obra concentra-se nos mesmos argumentos mesquinhos que inquinaram todo o processo de sequenciação do genoma humano", afirmou Heather Kowalski, porta-voz da Celera Genomics, em resposta ao convite do "site" BioMedNet.