Pentágono compra imagens da guerra captadas por satélite civil
Segundo o diário britânico, o Pentágono terá adquirido as imagens da Space Imaging, uma empresa de venda de imagens de detecção remota, que disponibiliza gratuitamente fotografias captadas pelo satélite civil Ikonos, lançado em 1999. As imagens da Space Imaging têm grande precisão e, através delas, seria possível ver a extensão dos danos materiais e até mesmo o número de corpos no solo resultantes dos bombardeamentos das forças aliadas no Afeganistão. Essa mesma precisão tinha já sido comprovada, quando a Space Imaging divulgou as imagens do World Trade Center, em Nova Iorque, e do Pentágono, em Washington, antes e depois dos atentados perpetrados contra os Estados Unidos no passado dia 11 de Setembro. Estas imagens, divulgadas no sítio da empresa, podiam ser reproduzidas pelos media, desde que fosse feita uma referência à sua origem.
O Pentágono poderia ter impedido legalmente que as imagens do satélite civil fosse usadas, activando o chamado "shutter control", uma lei que proíbe que sejam divulgadas imagens de satélites civis em tempo de guerra, pois podem ser usadas pelo inimigo. No entanto, em vez de usar este dispositivo legal, o Pentágono resolveu adquirir os direitos de exclusividade destas imagens. De acordo com John Pike, da Globalsecurity, um sítio americano que publica imagens de satélite de instalações militares e de alegados campos terroristas à volta do mundo, o Pentágono terá tomado esta decisão, porque se tivesse decidido exercer o "shutter control", provavelmente, as empresas de comunicação social teriam processado o Governo por censura. Outra explicação possível é que a compra tenha sido escolhida por ser o meio mais expedito de atingir o objectivo.
O "Guardian" revela ainda que a decisão foi tomada na passada quinta-feira, depois de notícias que referiam que os bombardeamentos nos arredores de um campo de treino perto de Darunta, a Noroeste de Jalalabad, tinham provocado inúmeras vítimas civis [nesse dia, um responsável da agência oficial taliban Bakthar acusava os EUA de terem provocado a morte de mais de 200 vítimas civis em Kadam].
O departamento de Defesa norte-americano não necessita destas imagens para fins militares, uma vez que tem já sete satélites-espiões em órbita, quatro dos quais da série Keyhole (buraco de fechadura), que podem tirar fotografias com seis a dez vezes mais resolução do que o satélite Ikonos. Enquanto que o Ikonos tira imagens com uma resolução de um metro, um Keyhole-12, que consegue recolher séries de imagens quase em tempo real, pode obter fotografias com uma resolução de dez centímetros.
Desde que os satélites civis como o Ikonos e os SPOT franceses começaram a atingir uma resolução passível de permitir o uso das suas imagens para fins militares que os teóricos de defesa discutem o que se deve e pode fazer para impedir que um inimigo as compre em caso de conflito.
No caso da Guerra do Golfo, em 1991, sabe-se que o Iraque comprou imagens do SPOT antes da sua invasão do Kuwait e que a empresa Spotimage, que gere estes satélites, decidiu suspender essas transacções após a invasão. Mas a própria empresa avisou que voltaria a retomar os fornecimentos ao Iraque caso alguma outra empresa decidisse fazer o mesmo.
Com a multiplicação de empresas comerciais de diversos países nesta área, será cada vez mais difícil para um dos lados de um conflito garantir o uso exclusivo destas imagens. Certos autores têm defendido que, caso não haja alternativa, os satélites civis de detecção remota poderão ser considerados alvos militares legítimos e passíveis de serem abatidos... por quem tenha a capacidade de o fazer
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Segundo o diário britânico, o Pentágono terá adquirido as imagens da Space Imaging, uma empresa de venda de imagens de detecção remota, que disponibiliza gratuitamente fotografias captadas pelo satélite civil Ikonos, lançado em 1999. As imagens da Space Imaging têm grande precisão e, através delas, seria possível ver a extensão dos danos materiais e até mesmo o número de corpos no solo resultantes dos bombardeamentos das forças aliadas no Afeganistão. Essa mesma precisão tinha já sido comprovada, quando a Space Imaging divulgou as imagens do World Trade Center, em Nova Iorque, e do Pentágono, em Washington, antes e depois dos atentados perpetrados contra os Estados Unidos no passado dia 11 de Setembro. Estas imagens, divulgadas no sítio da empresa, podiam ser reproduzidas pelos media, desde que fosse feita uma referência à sua origem.
O Pentágono poderia ter impedido legalmente que as imagens do satélite civil fosse usadas, activando o chamado "shutter control", uma lei que proíbe que sejam divulgadas imagens de satélites civis em tempo de guerra, pois podem ser usadas pelo inimigo. No entanto, em vez de usar este dispositivo legal, o Pentágono resolveu adquirir os direitos de exclusividade destas imagens. De acordo com John Pike, da Globalsecurity, um sítio americano que publica imagens de satélite de instalações militares e de alegados campos terroristas à volta do mundo, o Pentágono terá tomado esta decisão, porque se tivesse decidido exercer o "shutter control", provavelmente, as empresas de comunicação social teriam processado o Governo por censura. Outra explicação possível é que a compra tenha sido escolhida por ser o meio mais expedito de atingir o objectivo.
O "Guardian" revela ainda que a decisão foi tomada na passada quinta-feira, depois de notícias que referiam que os bombardeamentos nos arredores de um campo de treino perto de Darunta, a Noroeste de Jalalabad, tinham provocado inúmeras vítimas civis [nesse dia, um responsável da agência oficial taliban Bakthar acusava os EUA de terem provocado a morte de mais de 200 vítimas civis em Kadam].
O departamento de Defesa norte-americano não necessita destas imagens para fins militares, uma vez que tem já sete satélites-espiões em órbita, quatro dos quais da série Keyhole (buraco de fechadura), que podem tirar fotografias com seis a dez vezes mais resolução do que o satélite Ikonos. Enquanto que o Ikonos tira imagens com uma resolução de um metro, um Keyhole-12, que consegue recolher séries de imagens quase em tempo real, pode obter fotografias com uma resolução de dez centímetros.
Desde que os satélites civis como o Ikonos e os SPOT franceses começaram a atingir uma resolução passível de permitir o uso das suas imagens para fins militares que os teóricos de defesa discutem o que se deve e pode fazer para impedir que um inimigo as compre em caso de conflito.
No caso da Guerra do Golfo, em 1991, sabe-se que o Iraque comprou imagens do SPOT antes da sua invasão do Kuwait e que a empresa Spotimage, que gere estes satélites, decidiu suspender essas transacções após a invasão. Mas a própria empresa avisou que voltaria a retomar os fornecimentos ao Iraque caso alguma outra empresa decidisse fazer o mesmo.
Com a multiplicação de empresas comerciais de diversos países nesta área, será cada vez mais difícil para um dos lados de um conflito garantir o uso exclusivo destas imagens. Certos autores têm defendido que, caso não haja alternativa, os satélites civis de detecção remota poderão ser considerados alvos militares legítimos e passíveis de serem abatidos... por quem tenha a capacidade de o fazer