As Identidades do Género na Sétima Arte
"O amor é que é essencial / O sexo é só um acidente / Pode ser igual/ Ou diferente" São versos de Fernando Pessoa que dão o mote ao V Festival de Cinema Gay e Lésbico, que começa hoje, em Lisboa. O certame, que vai ser dedicado às "Identidades do Género", reflecte bem esses versos: é uma mostra de filmes, em que o sexo não é o principal e não é discriminatório, pode ser igual ou diferente, por isso o festival está aberto a toda a gente.
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"O amor é que é essencial / O sexo é só um acidente / Pode ser igual/ Ou diferente" São versos de Fernando Pessoa que dão o mote ao V Festival de Cinema Gay e Lésbico, que começa hoje, em Lisboa. O certame, que vai ser dedicado às "Identidades do Género", reflecte bem esses versos: é uma mostra de filmes, em que o sexo não é o principal e não é discriminatório, pode ser igual ou diferente, por isso o festival está aberto a toda a gente.
Entre os dias 14 e 29 de Setembro, o festival estende-se a quatro salas em Lisboa (Fórum Lisboa, Cinemateca Portuguesa, Instituto Franco-Português e Cinemas King) e ao Teatro do Campo Alegre no Porto, com uma programação rica e variada.Durante a conferência de imprensa de apresentação do evento, o presidente da associação de Festival de Cinema Gay e Lésbico, Celso Júnior, frisou que o objectivo deste certame é abrir-se a um número cada vez maior de pessoas. Por isso mesmo foram programadas noites "transgenders" para os homossexuais, mas também noites "straight", a designação dada aos heterossexuais. O festival começa assim sob o signo da tolerância - ao mesmo tempo que o mundo assiste a um dos mais violentos atentados de sempre.
"Seja qual for a opção sexual ela tem que estar no nosso festival", disse Celso Júnior, acrescentando que os principais objectivos são a abertura e a diversidade, numa tentativa de mostrar os diversos olhares sobre o feminino, o masculino, a sensualidade e a sexualidade.
É "Sagitario", o primeiro filme realizado pelo escritor espanhol Vicente Molina Foix que abre esta noite, às 21h30 o festival no Fórum Lisboa. A apresentação da longa-metragem conta com a presença do cineasta e dos dois actores: Angela Molina e Eusebio Poncela.
Mas talvez o grande destaque vá para a noite de amanhã, com o último filme de Tsai Ming-liang, "Et lá-bas quelle heure est-il?" a ser exibido na Cinemateca Portuguesa com a presença do realizador. Esta longa-metragem é a primeira em o cineasta abandona Taipé para ir filmar também em Paris, numa história de dois personagens desencontrados, com os relógios ao ritmo de uma cidade distante. Na mesma sala, será ainda exibida ao longo do festival, uma retrospectiva do cineasta natural da Malásia, em que será possível rever "O Rio", "Vive l'amour" ou "The Hole".
A Lei do Desejo
Outra das retrospectivas a destacar é a da filmografia, quase completa à excepção das primeiras obras já exibidas noutras edições do certame, do espanhol Pedro Almodóvar. O cineasta ilustra como ninguém esta capacidade de olhar o universo das mulheres, mas também o dos homens, as relações, o desejo, a homossexualidade, o transformismo. No King, passam entre outros os clássicos "Negros Hábitos", "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos", "Saltos Altos", "A Lei do Desejo" e "Em Carne Viva".A francesa Claire Denis, que este ano "chocou" Cannes com o filme "Trouble Every Day" em que um casal se ama até se devorar, ficará encarregue de dar um olhar feminino sobre o universo masculino com a longa-metragem "Beau Travail" (25 na Cinemateca, em Lisboa/ 29 no Teatro Campo Alegre, no Porto).
A destacar ainda a ante-estreia, em parceria com a Atalanta Filmes, de "Gohatto", de Nagisha Oshima, uma história da homossexualidade e tensões entre guerreiros samurais japoneses, "Domésticas", de Fernando Meirelles e Nando Olival, o único filme de língua portuguesa em exibição, e "Sous le Sable", de François Ozon, que marca o regresso, depois de anos de ausência, da actriz Charlotte Rampling.
Bruce LaBruce, o realizador, escritor, actor e fotógrafo, fundador do "queer core", também será alvo de retrospectiva e estará presente no certame.
Já quase no fim, no dia 28 de Setembro, em Lisboa, será apresentado, com a presença do realizador, uma das pérolas do festival, que recentemente teve uma passagem relâmpago pelo Ciclo de Cinema Nórdico no Cine 222. "101 Reykjavík" , a primeira longa-metragem do actor e dramaturgo islandês Baltasar Kormákur, cruza as paisagem glaciais e frias da Islândia com um vulcão espanhol e quente chamado Victoria Abril. A actriz espanhola dá corpo a Lola, a obsessão de um homem de 28 anos que ainda vive debaixo das saias da mãe, que por sua vez é a amante de Lola.
Vai ser Almodóvar a encerrar os reposteiros desta 5ª edição do Festival com a projecção de "Tudo sobre a minha Mãe", a última longa-metragem do realizador que conquistou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Mas há ainda surpresas por anunciar na sessão de encerramento, confessa a organização ao PUBLICO.PT. Os espectadores terão direito a um presente extra-filme, quem sabe com um sabor vindo directamente de terras espanholas.
É assim, que este festival parece de Gay e Lésbico só guardar o nome e se arrisca a tornar o festival de cinema que Lisboa já merece.