A ténue fronteira entre ficção e realidade

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Dois dos «best-sellers» de Tom Clancy descrevem cenas muito semelhantes às que todo o mundo pôde ver, na televisão DR

Há autores que têm a particularidade de, nas suas obras de ficção, se anteciparem à realidade. Nostradamus e profecias à parte, os exemplos desta capacidade de antecipação remontam aos romances que o escritor francês Julio Verne publicou, na segunda metade do século XIX. Também Hergé, o criador de Tintin, um dos mais célebres personagens da Banda Desenhada, editou em 1953 e 1954 dois álbuns em que o herói consegue viajar até à Lua. Os passos saltados e o fato espacial de Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar solo lunar, em 1969, faziam lembrar o boneco e a história saídos da imaginação do autor belga, 16 anos antes. O ritmo de evolução é cada vez mais rápido, e a diferença temporal que separa ficção e realidade torna-se também, por isso, mais curta. Em 1990 Michael Crichton escreve “Parque Jurássico”, que tem por base a clonagem de dinossauros. Sete anos depois a ovelha “Dolly”, o primeiro a ser clonado com sucesso, é manchete nos jornais de todo o mundo.
Em 1994 o escritor norte-americano de “best-sellers” Tom Clancy publicou “Debt of Honor”. A trama desenrola-se em torno de um poderoso industrial japonês, que pretende mergulhar os EUA no caos económico, provocando ao gigante americano uma humilhação, se possível maior, do que a sofrida pelo Japão no decurso da II Guerra Mundial. Uma das cenas do livro descreve, precisamente, o choque deliberado de um avião comercial com uma das “Twin Towers” do World Trade Center, em Manhattan. O livro que se segue, “Executive Orders”, de 1996, é a continuação do anterior e inicia-se com um cenário catastrófico: um Jumbo sequestrado por terroristas japoneses despenha-se em cima do Capitólio vitimando o Presidente, a maioria dos elementos do seu gabinete e grande parte dos membros do Congresso.
Tom Clancy, que há pouco mais de uma década era apenas um vendedor de seguros, licenciado em Literatura Inglesa, começou a escrever artigos de opinião que se prendiam com a sua paixão pela história naval. Publicou diversos livros sobre temas militares, que constituem quase manuais sobre as armas e os procedimentos utilizados no exército: aviação, infantaria, marinha e submarinos, não houve ramo que lhe escapasse. O primeiro grande sucesso na área da ficção veio com “A Caça ao Outubro Vermelho”, que foi adaptado ao cinema, tal como “Jogos de Guerra” e “Perigo Imediato”. Aos 54 anos Clancy, que é dono de um clube de futebol americano e que tem, a decorar o seu jardim, um tanque M4 Sherman, usado na II Guerra Mundial, possui também uma empresa de vídeojogos, para a qual escreve pequenas histórias que servem de suporte aos jogos. Infelizmente, o que aconteceu na passada terça-feira não vai ter, no final, um ecrã que aparece a dizer: “Ainda lhe restam mais duas vidas. Pretende recomeçar?”.

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Há autores que têm a particularidade de, nas suas obras de ficção, se anteciparem à realidade. Nostradamus e profecias à parte, os exemplos desta capacidade de antecipação remontam aos romances que o escritor francês Julio Verne publicou, na segunda metade do século XIX. Também Hergé, o criador de Tintin, um dos mais célebres personagens da Banda Desenhada, editou em 1953 e 1954 dois álbuns em que o herói consegue viajar até à Lua. Os passos saltados e o fato espacial de Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar solo lunar, em 1969, faziam lembrar o boneco e a história saídos da imaginação do autor belga, 16 anos antes. O ritmo de evolução é cada vez mais rápido, e a diferença temporal que separa ficção e realidade torna-se também, por isso, mais curta. Em 1990 Michael Crichton escreve “Parque Jurássico”, que tem por base a clonagem de dinossauros. Sete anos depois a ovelha “Dolly”, o primeiro a ser clonado com sucesso, é manchete nos jornais de todo o mundo.
Em 1994 o escritor norte-americano de “best-sellers” Tom Clancy publicou “Debt of Honor”. A trama desenrola-se em torno de um poderoso industrial japonês, que pretende mergulhar os EUA no caos económico, provocando ao gigante americano uma humilhação, se possível maior, do que a sofrida pelo Japão no decurso da II Guerra Mundial. Uma das cenas do livro descreve, precisamente, o choque deliberado de um avião comercial com uma das “Twin Towers” do World Trade Center, em Manhattan. O livro que se segue, “Executive Orders”, de 1996, é a continuação do anterior e inicia-se com um cenário catastrófico: um Jumbo sequestrado por terroristas japoneses despenha-se em cima do Capitólio vitimando o Presidente, a maioria dos elementos do seu gabinete e grande parte dos membros do Congresso.
Tom Clancy, que há pouco mais de uma década era apenas um vendedor de seguros, licenciado em Literatura Inglesa, começou a escrever artigos de opinião que se prendiam com a sua paixão pela história naval. Publicou diversos livros sobre temas militares, que constituem quase manuais sobre as armas e os procedimentos utilizados no exército: aviação, infantaria, marinha e submarinos, não houve ramo que lhe escapasse. O primeiro grande sucesso na área da ficção veio com “A Caça ao Outubro Vermelho”, que foi adaptado ao cinema, tal como “Jogos de Guerra” e “Perigo Imediato”. Aos 54 anos Clancy, que é dono de um clube de futebol americano e que tem, a decorar o seu jardim, um tanque M4 Sherman, usado na II Guerra Mundial, possui também uma empresa de vídeojogos, para a qual escreve pequenas histórias que servem de suporte aos jogos. Infelizmente, o que aconteceu na passada terça-feira não vai ter, no final, um ecrã que aparece a dizer: “Ainda lhe restam mais duas vidas. Pretende recomeçar?”.