Dicionário da Academia das Ciências hoje à venda
O Dicionário contempla mil estrangeirismos recentes, propondo a alteração do uso de aproximadamente três quartos dessas palavras, pela via ortográfica (aportuguesando ou semi-aportuguesando a grafia), ou recorrendo à tradução por decalque semântico.Pela via ortográfica, "atelier" passa a escrever-se ateliê, "briefing" passa a brífingue, "stress" passa a "stresse" e "lobby" a lóbi. Pela tradução por decalque semântico, "e-mail" passa a escrever-se "correio electrónico", "score" passa a resultado e "know-how" a saber-fazer.
"O Dicionário apresenta cerca de mil estrangeirismos. Só um quarto é que aparece na forma original, como é o caso de design, toilette ou software. Em relação aos restantes propôs-se uma tradução", explicou ao PUBLICO.PT Malaca Casteleiro, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia (ILL) da Academia das Ciências e coordenador científico da obra.
Embora reclame predominantemente uma função descritiva do uso da Língua, o dicionário assume uma preocupação normalizadora - que o peso institucional da Academia legitima - em aspectos como a grafia, a fonética, a tradução de estrangeirismos e a hifenização de compostos.
"O principal objectivo da Academia das Ciências é defender e promover a Língua Portuguesa. E, hoje, a Língua Portuguesa está cheia de estrangeirismos, que são usados a torto e a direito. Como tal, houve uma preocupação de normalizar", explicou Malaca Casteleiro.
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O Dicionário contempla mil estrangeirismos recentes, propondo a alteração do uso de aproximadamente três quartos dessas palavras, pela via ortográfica (aportuguesando ou semi-aportuguesando a grafia), ou recorrendo à tradução por decalque semântico.Pela via ortográfica, "atelier" passa a escrever-se ateliê, "briefing" passa a brífingue, "stress" passa a "stresse" e "lobby" a lóbi. Pela tradução por decalque semântico, "e-mail" passa a escrever-se "correio electrónico", "score" passa a resultado e "know-how" a saber-fazer.
"O Dicionário apresenta cerca de mil estrangeirismos. Só um quarto é que aparece na forma original, como é o caso de design, toilette ou software. Em relação aos restantes propôs-se uma tradução", explicou ao PUBLICO.PT Malaca Casteleiro, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia (ILL) da Academia das Ciências e coordenador científico da obra.
Embora reclame predominantemente uma função descritiva do uso da Língua, o dicionário assume uma preocupação normalizadora - que o peso institucional da Academia legitima - em aspectos como a grafia, a fonética, a tradução de estrangeirismos e a hifenização de compostos.
"O principal objectivo da Academia das Ciências é defender e promover a Língua Portuguesa. E, hoje, a Língua Portuguesa está cheia de estrangeirismos, que são usados a torto e a direito. Como tal, houve uma preocupação de normalizar", explicou Malaca Casteleiro.
O catedrático acredita que estas alterações vão ser sobretudo bem acolhidas pelos jovens, tendencialmente mais receptivos à mudança. Malaca Casteleiro considera também que a adesão da comunicação social "será fulcral neste processo", já que actualmente "cabe aos jornalistas e outros profissionais dos media um importante papel pedagógico sobre o uso da Língua".Para sensibilizar esta classe profissional, Malaca Casteleiro anunciou que está em preparação um documento em suporte digital destinado às redacções (que estará finalizado em Maio) contendo uma listagem de todos os vocábulos que o dicionário altera.
Esta é a terceira tentativa da elaboração de um Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, desde a criação da Academia das Ciências, em 1779. Em 1793, fez-se uma primeira tentativa, mas foi apenas compilado o primeiro volume, correspondente à letra "A". Em 1956, o projecto foi retomado, mas por "falta de financiamento e apoio", relembra o coordenador, também "não logrou cumprir todos os objectivos". Já em 1988, o projecto ganhou vida novamente, graças ao apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, a que se seguiu a colaboração do Ministério da Educação, que destacou professores dos seus quadros para integrar as sucessivas equipas de trabalho.
No entanto, foram precisos doze anos para compilar todas as palavras nestes dois volumes. Malaca Casteleiro justifica os atrasos com as dificuldades que foi necessário enfrentar ao longo de todo o processo. "Foi muito difícil compatibilizar horários. Só nos últimos anos é que dispusemos de instalações próprias que podíamos usar sete dias por semana e 24 horas por dia. A substituição permanente de pessoas também dificultou o processo", explicou Malaca Casteleiro.
O lançamento oficial do Dicionário - que é editado pela Verbo - será dia 26 na Academia das Ciências e contará com a presença do Presidente da República, Jorge Sampaio, e do ministro da Ciência e da Tecnologia, Mariano Gago.
As receitas das vendas do dicionário, que custará cerca de 25 contos, reverterão a favor da Academia das Ciências, já que a Fundação Gulbenkian abdicou dos seus direitos, e deverão ser directamente aplicados em novas actividades do Instituto de Lexicologia e Lexicografia.
Confrontado com o facto de não existir uma Academia de Letras em Portugal responsável pelas questões da Língua (à semelhança do que existe noutros países), Malaca Casteleiro foi peremptório: "Não é necessária. É muito salutar que a Academia das Ciências trate não só das ciências mas também das letras".
Os números do Dicionário da Academia das Ciências Data de início do projecto: 1988 Número de colaboradores externos: Cerca de 60 Custo da obra: 400 mil contos Volumes: Dois Tiragem: 10 mil exemplares Preço de venda ao público: 24.750$00 Número de páginas: Quatro mil Entradas lexicais: 70 mil Sinónimos: 85 mil Antónimos: 16 mil Locuções e expressões idiomáticas: 14 mil Termos das áreas científicas e técnicas: 32 mil Regionalismos: Três mil Brasileirismos: Seis mil Africanismos: Mil Estrangeirismos: Mil Asiaticismos: 150 |
Os colaboradores do Dicionário O dicionário foi elaborado sob a coordenação científica de Malaca Casteleiro, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia (ILL) da Academia das Ciências. Mais de 60 colaboradores participaram ao longo de doze anos na elaboração do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. As várias equipas integraram estudantes, licenciados, pós-graduados, professores destacados do Ministério da Educação e bolseiros de diferentes áreas do conhecimento, desde a Linguística à História, passando pela Filosofia, Estudos Clássicos e Línguas e Literaturas Modernas. De acordo com Malaca Casteleiro, o trabalho fez-se com "muita paciência e atenção", já que elaborar uma única entrada "pode demorar um dia ou mais a alcançar o nível de perfeição desejado". Na obra colaboraram ainda dois académicos de Ciências, Fernando Dias Agudo e Lídia Salgueiro, que analisaram cerca de 32 mil termos de diferentes áreas científicas e técnicas. Às pessoas envolvidas - fosse a tempo inteiro ou a meio tempo - exigia-se sobretudo "uma razoável cultura geral e um bom domínio da Língua Portuguesa", a par de qualidade de "rigor e perseverança". |