Erosão e extracção de areias foram as causas da queda da ponte Hintze Ribeiro

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Ferro Rodrigues vai enviar ainda hoje o relatório da comissão de inquérito à Procuradoria-Geral da República e à Assembleia da República Público

Numa curta declaração à imprensa, no Ministério do Equipamento Social, em Lisboa, a comissão de inquérito citou a extinta Junta Autónoma das Estradas e os organismos que lhe sucederam, nomeadamente o Instituto das Estradas de Portugal, para referir que "não evidenciaram a devida percepção para os riscos envolvidos" na Ponte Hintze Ribeiro.Apesar de inspecções realizadas às fundações da estrutura sinistrada, esses organismos "não desenvolveram acções que evitassem ou reduzissem os riscos" de ruína, realça o relatório, que denuncia não haver "uma fiscalização adequada à extracção de inertes" no rio Douro.
Isso acontece - acrescenta o documento - porque "estão dispersas as competências" de fiscalização por diversas entidades, faltando depois a necessária articulação entre elas.
O relatório não refere, porém, as entidades que têm sido responsáveis pela gestão do leito do Douro em matéria de autorizações e fiscalização de extracção de areias.
O texto sublinha, contudo, que "mesmo depois da entrada em vigor do Decreto-Lei 46/94, de 22 de Fevereiro, as actividades de extracção de inertes no rio Douro, e em particular na albufeira de Crestuma, continuaram a ser feitas sem o suporte de planos específicos e de estudos técnicos que demonstrem que, entre outros valores de natureza ambiental, não é afectada a integridade do leito e das margens".
"Não parece existir uma fiscalização adequada de extracção de inertes no rio Douro, facto a que não será alheia a dispersão, por diversas entidades, de competência nesta matéria", adiantam as conclusões.
As conclusões do relatório às causas do desastre foram apresentadas cerca das 00h00 horas de hoje no auditório do Ministério do Equipamento por Rui Correia, presidente da comissão de inquérito, que esteve acompanhado pelos outros dois membros do órgão, António Flores de Andrade e Francisco de Sousa Soares.
Para a comissão, "o mecanismo provável de colapso da ponte consistiu na queda do quarto pilar por perda de sustentação do terreno sob a base do caixão de fundação e no subsequente colapso da estrutura da tabuleiro".
A comissão apurou ainda que nas últimas três décadas o perfil longitudinal do que é hoje a albufeira da barragem de Crestuma "sofreu um forte e generalizado abaixamento, que nalguns pontos chega a atingir 28 metros".
O relatório refere também que, entre Fevereiro de 2000 e Março de 2001, "o leito sofreu uma descida adicional muito acentuada, tendo ficado perto da base do caixão, em virtude da persistência de caudais elevados", resultantes das chuvas intensas.

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Numa curta declaração à imprensa, no Ministério do Equipamento Social, em Lisboa, a comissão de inquérito citou a extinta Junta Autónoma das Estradas e os organismos que lhe sucederam, nomeadamente o Instituto das Estradas de Portugal, para referir que "não evidenciaram a devida percepção para os riscos envolvidos" na Ponte Hintze Ribeiro.Apesar de inspecções realizadas às fundações da estrutura sinistrada, esses organismos "não desenvolveram acções que evitassem ou reduzissem os riscos" de ruína, realça o relatório, que denuncia não haver "uma fiscalização adequada à extracção de inertes" no rio Douro.
Isso acontece - acrescenta o documento - porque "estão dispersas as competências" de fiscalização por diversas entidades, faltando depois a necessária articulação entre elas.
O relatório não refere, porém, as entidades que têm sido responsáveis pela gestão do leito do Douro em matéria de autorizações e fiscalização de extracção de areias.
O texto sublinha, contudo, que "mesmo depois da entrada em vigor do Decreto-Lei 46/94, de 22 de Fevereiro, as actividades de extracção de inertes no rio Douro, e em particular na albufeira de Crestuma, continuaram a ser feitas sem o suporte de planos específicos e de estudos técnicos que demonstrem que, entre outros valores de natureza ambiental, não é afectada a integridade do leito e das margens".
"Não parece existir uma fiscalização adequada de extracção de inertes no rio Douro, facto a que não será alheia a dispersão, por diversas entidades, de competência nesta matéria", adiantam as conclusões.
As conclusões do relatório às causas do desastre foram apresentadas cerca das 00h00 horas de hoje no auditório do Ministério do Equipamento por Rui Correia, presidente da comissão de inquérito, que esteve acompanhado pelos outros dois membros do órgão, António Flores de Andrade e Francisco de Sousa Soares.
Para a comissão, "o mecanismo provável de colapso da ponte consistiu na queda do quarto pilar por perda de sustentação do terreno sob a base do caixão de fundação e no subsequente colapso da estrutura da tabuleiro".
A comissão apurou ainda que nas últimas três décadas o perfil longitudinal do que é hoje a albufeira da barragem de Crestuma "sofreu um forte e generalizado abaixamento, que nalguns pontos chega a atingir 28 metros".
O relatório refere também que, entre Fevereiro de 2000 e Março de 2001, "o leito sofreu uma descida adicional muito acentuada, tendo ficado perto da base do caixão, em virtude da persistência de caudais elevados", resultantes das chuvas intensas.

Comissão recomenda inspecções periódicas

Entretanto, a comissão fez um conjunto de recomendações, a primeira das quais se refere à necessidade de realização de inspecções às pontes.A comissão admite mesmo que haja "pilares de pontes em situação de risco de colapso provocado por fenómenos" semelhantes aos de Entre- os-Rios. A comissão recomenda que os institutos rodoviários implementem um sistema adequado de inspecções periódicas de pontes e de intervenções para a sua conservação, adiantando que o ICOR e o ICERR devem clarificar as suas responsabilidades e competências em matéria de conservação de pontes e viadutos.
A comissão recomenda ainda a definição de "uma política integrada de gestão de sedimentos dos rios" para se garantir a estabilidade e integridade dos leitos e considera que no Douro "tal política assume particular acuidade".
O ministro do Equipamento Social, Ferro Rodrigues, vai enviar ainda hoje o relatório da comissão de inquérito à Procuradoria-Geral da República e à Assembleia da República.
O relatório, de 54 páginas, foi entregue terça-feira à noite ao ministro do Equipamento, Ferro Rodrigues.

Cronologia da Tragédia de Entre-os-Rios


4 de Março de 2001
  • A Ponte que ligava Entre-os-Rios a Castelo de Paiva desabou, arrastando consigo um autocarro e três ligeiros.


  • 5 de Março de 2001
  • O ministro do Equipamento Social, Jorge Coelho, demite-se, juntamente com os cinco secretários de Estado do Ministério.

  • É retirado o primeiro corpo do rio Douro, uma mulher de 50 anos, que viajava no autocarro.

  • António Guterres chega a Castelo de Paiva e é apupado a gritos de "assassino".

  • Jorge Sampaio lamenta "a tragédia que se "abateu sobre os portugueses"

  • Autarcas apontam o dedo à extracção ilegal de areias.

  • Principais dirigentes políticos apresentam as condolências às famílias.

  • É aberto um inquérito para apurar as causas do acidente.


  • 6 de Março de 2001
  • Realiza-se o funeral da primeira vítima. Chega ao Douro um sonar da Marinha Portuguesa para tentar detectar no rio o autocarro e os três veículos.


  • 7 de Março de 2001
  • Governo anuncia apoios às famílias das vítimas.

  • O primeiro mergulho no rio Douro falha devido à força da corrente.

  • No mesmo dia, são encontrados dois bancos do autocarro em Matosinhos.


  • 8 de Março de 2001
  • Chega a Castelo de Paiva um sonar multi-feixes para reforçar as operações de busca no Douro.

  • São encontrados quatro corpos na costa da Galiza, uma mochila e bancos de autocarros.

  • Chega ao Douro uma equipa de mergulhadores franceses para apoiar a equipa portuguesa.


  • 9 de Março de 2001
  • Equipa francesa abandona as buscas.

  • É encontrado um quinto corpo na costa da Galiza e um sexto na Ria de Corcubion, em Espanha.

  • Chegam a Portugal os dois primeiros corpos recolhidos na Galiza.

  • Prossegue uma operação conjunta entre as autoridades portuguesas e as autoridades espanholas da Galiza para encontrar mais corpos.


  • 11 de Março de 2001
  • O objecto detectado pelo sonar no fundo do rio não corresponde ao autocarro mas sim a um batelão afundado.
    Jorge Sampaio e os líderes dos principais partidos da oposição assistem às missas de Sétimo Dia.


  • 12 de Março de 2001
  • Começa a segunda semana de buscas em Entre-os-Rios.

  • É encontrado mais um corpo na costa da Corunha, elevando assim para oito o número de vítimas resgatadas, sete das quais em Espanha. António Guterres assegura que não há limite temporal para as operações de resgate dos corpos e das viaturas.


  • 13 de Março de 2001
  • Presidente da câmara de Castelo de Paiva exige mais acção do Governo.


  • 15 de Março de 2001
  • Começam as ligações fluviais provisórias entre Castelo de Paiva e Entre-os-Rios. A travessia, garantida pelo Instituto de Navegabilidade do Douro, é gratuita para os passageiros.


  • 19 de Março de 2001
  • É encontrado o autocarro, mas a primeira tentativa para içar o veículo falha.


  • 20 de Março de 2001
  • O autocarro é içado e puxado para a margem. São encontrados seis corpos no seu interior - três do sexo masculino e três do sexo feminino.


  • 21 de Março de 2001
  • Foi encontrado mais um corpo dentro do autocarro, mas as operações de resgate são suspensas por dois dias devido ao agravamento do estado do tempo.


  • 22 de Março de 2001
  • Foi encontrado o corpo do organizador da excursão a doze quilómetros a jusante do local da queda da ponte de Entre-os-Rios. Trata-se da 16ª vítima resgatada pelas autoridades.


  • 23 de Março de 2001
  • Autocarro de Entre-os-Rios já está em terra firme.


  • 26 de Março de 2001
  • É encontrada a 17ª vítima da tragédia de Entre-os-Rios. O corpo foi encontrado no mar, ao largo da costa de Matosinhos.


  • 28 de Março de 2001
  • Recomeçaram os mergulhos no rio Douro para encontrar os ligeiros que caíram ao rio e tentar resgatar mais corpos. As buscas são infrutíferas.


  • 31 de Março de 2001
  • A cobertura noticiosa da tragédia em Entre-os-Rios foi debatida em Aveiro, com as participações de Diana Andringa, José Alberto Lemos, Mário Mesquita e Óscar Mascarenhas.


  • 1 de Abril de 2001
  • Foi resgatado um dos ligeiros. Os dois corpos dos passageiros ainda estavam no interior da viatura. Ao todo, já foram resgatadas 19 pessoas.


  • 2 de Abril de 2001
  • Relatório diz que a extracção de areias esteve na origem da queda da ponte de Entre-os-Rios.


  • 3 de Abril de 2001
  • O relatório final da comissão de inquérito responsável pelo apuramento das causas da queda da ponte de Entre-os-Rios está a ser finalizado e vai ser entregue no próximo dia 10 ao ministro do Equipamento Social, Ferro Rodrigues.


  • Marta Fernandes