Halloween H20 - O Regresso
Vinte anos depois do "Halloween" de John Carpenter, entretanto transformado num dos marcos do cinema de terror, eis que chega um "número especial", comemorativo ? como bem o vinca o título original, "H20" ? da efeméride. A "Halloween" aconteceu quase a mesma coisa do que ao "Psico" de Hitchcock: o seu sucesso e a sua promoção ao estatuto de "filme-culto" deram origem a uma gama de sequelas mais ou menos apócrifas (as duas primeiras ainda tiveram a chancela de Carpenter como produtor) que já pouco tinham a ver com original, presente apenas ao nível da repescagem de personagens, situações e efeitos. Em que é que "H20" pretende diferir dessas sequelas, que inclusivamente acabaram por dar mau nome à série? Pois bem, apostando num regresso à "pureza" do original (consubstanciado na presença de Jamie Lee Curtis, protagonista do filme de Carpenter e ausente da série desde o tomo II) e numa narrativa destinada a fechar o círculo: tudo se conclui pelo confronto definitivo (?) entre a personagem de Curtis e o seu irmão psicopata, o famigerado Michael Myers. Claro que entretanto aconteceram coisas novas no universo do filme de terror, e "H20" não se esqueceu delas. A principal terá sido o sucesso dos "Screams" de Wes Craven, e a consequente imposição de um modelo narrativo e temático ? dir-se-ia mesmo que este "H20", no seu modo de funcionamento, deve mais ao filme de Craven (que é explicitamente citado) do que ao de Carpenter. Constata-se então a colagem a um universo juvenil de classe média-alta (tudo se passa no "campus" de um colégio "fino"), onde o horror surge como resposta e punição das "transgressões" adolescentes (o sexo, a bebida, etc.) das personagens. No entanto, de forma muito baça, unidimensional, sem sombra da ironia corrosiva nem da intencionalidade formal de Wes Craven. Este último aspecto torna-se evidente logo na primeira sequência, palidíssima réplica dos famosos pré-genéricos de "Scream" e "Scream II": em vez de uma tensão psicológica construida no tempo aparece um catálogo de sustos, anunciadora do cinema obtuso e primário que "Halloween- O Regresso" tem para dar ao longo da hora e meia seguinte. Steve Miner não é Craven, certamente também não é Carpenter. "H20" nunca tem "espaço", nunca tem "mise-en-scène", não sabe o que há-de fazer com o formato largo do ecrã. É o cinema de horror confundido com a mera exploração da sua galeria de efeitos, a certa altura já pouco importa o facto de pretender ter uma relação com o "Halloween" de 78: da maneira como as coisas se processam, podia ser um filme qualquer, baseado ou não numa matriz qualquer. A prova mais clara dessa aleatoridade surge na sequência final, suposto clímax dramático (no sentido literal da expressão) da série "Halloween". É o confronto de Jamie Lee Curtis com Michael Myers, ou seja, o confronto catártico de uma personagem com a projecção dos seus fantasmas. Mas não se vê catarse nenhuma, nem há na cena qualquer ressonância especial. Tratada como mais uma cena que é preciso resolver em termos de "eficácia" e de "suspense" (espécie de "último susto para o caminho"), tudo se esvai, levando consigo a derradeira oportunidade que "H20" tinha para ser um filme minimamente interessante.
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Vinte anos depois do "Halloween" de John Carpenter, entretanto transformado num dos marcos do cinema de terror, eis que chega um "número especial", comemorativo ? como bem o vinca o título original, "H20" ? da efeméride. A "Halloween" aconteceu quase a mesma coisa do que ao "Psico" de Hitchcock: o seu sucesso e a sua promoção ao estatuto de "filme-culto" deram origem a uma gama de sequelas mais ou menos apócrifas (as duas primeiras ainda tiveram a chancela de Carpenter como produtor) que já pouco tinham a ver com original, presente apenas ao nível da repescagem de personagens, situações e efeitos. Em que é que "H20" pretende diferir dessas sequelas, que inclusivamente acabaram por dar mau nome à série? Pois bem, apostando num regresso à "pureza" do original (consubstanciado na presença de Jamie Lee Curtis, protagonista do filme de Carpenter e ausente da série desde o tomo II) e numa narrativa destinada a fechar o círculo: tudo se conclui pelo confronto definitivo (?) entre a personagem de Curtis e o seu irmão psicopata, o famigerado Michael Myers. Claro que entretanto aconteceram coisas novas no universo do filme de terror, e "H20" não se esqueceu delas. A principal terá sido o sucesso dos "Screams" de Wes Craven, e a consequente imposição de um modelo narrativo e temático ? dir-se-ia mesmo que este "H20", no seu modo de funcionamento, deve mais ao filme de Craven (que é explicitamente citado) do que ao de Carpenter. Constata-se então a colagem a um universo juvenil de classe média-alta (tudo se passa no "campus" de um colégio "fino"), onde o horror surge como resposta e punição das "transgressões" adolescentes (o sexo, a bebida, etc.) das personagens. No entanto, de forma muito baça, unidimensional, sem sombra da ironia corrosiva nem da intencionalidade formal de Wes Craven. Este último aspecto torna-se evidente logo na primeira sequência, palidíssima réplica dos famosos pré-genéricos de "Scream" e "Scream II": em vez de uma tensão psicológica construida no tempo aparece um catálogo de sustos, anunciadora do cinema obtuso e primário que "Halloween- O Regresso" tem para dar ao longo da hora e meia seguinte. Steve Miner não é Craven, certamente também não é Carpenter. "H20" nunca tem "espaço", nunca tem "mise-en-scène", não sabe o que há-de fazer com o formato largo do ecrã. É o cinema de horror confundido com a mera exploração da sua galeria de efeitos, a certa altura já pouco importa o facto de pretender ter uma relação com o "Halloween" de 78: da maneira como as coisas se processam, podia ser um filme qualquer, baseado ou não numa matriz qualquer. A prova mais clara dessa aleatoridade surge na sequência final, suposto clímax dramático (no sentido literal da expressão) da série "Halloween". É o confronto de Jamie Lee Curtis com Michael Myers, ou seja, o confronto catártico de uma personagem com a projecção dos seus fantasmas. Mas não se vê catarse nenhuma, nem há na cena qualquer ressonância especial. Tratada como mais uma cena que é preciso resolver em termos de "eficácia" e de "suspense" (espécie de "último susto para o caminho"), tudo se esvai, levando consigo a derradeira oportunidade que "H20" tinha para ser um filme minimamente interessante.