Crítica ao filme À Flor do Mar de João César Monteiro

Este filme ajuda-nos a compreender que João César Monteiro, antes das Recordações da Casa Amarela, antes das vascas "cellinianas" da dionisíaca figura João de Deus, seria talvez o mais apolíneo dos cineastas portugueses.

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Esta crítica foi publicada a 4 de Julho de 1996.

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Esta crítica foi publicada a 4 de Julho de 1996.

Este filme ajuda-nos a compreender que João César Monteiro, antes das Recordações da Casa Amarela, antes das vascas "cellinianas" da dionisíaca figura João de Deus, seria talvez o mais apolíneo dos cineastas portugueses. Nunca o amarelo dos arenitos, o azul do mar e essa insofismável luz do Algarve tiveram uma festa tão gloriosa como em À Flor do Mar. A partir daqui não podem ser recordados senão ao som do Adagio da Sonata, de Bach, e à imagem da metafísica das telas de Millet. Em À Flor do Mar tudo gira em torno de três mulheres, duas crianças e uma criada, à espera de nada numa casa de Verão, assaltadas pelo desejo que lhes chega sob a forma de um marinheiro que vem dar à costa. O filme faz-se assim uma espécie de versão Tempestade, de Shakespeare. Mas convém dar sinal do facto de que César Monteiro é o mais gourmet dos cineastas portugueses: em À Flor do Mar é um hino à frescura do robalo, com que abre o filme; em Recordações temos uma cabeça de pescada devorada com considerações axiológicas; e em A Comédia de Deus a sedução passa pelo peixinho frito. Bom apetite!