Familiares de Marco Paulo abdicam da herança e desistem de impugnar testamento

O cantor romântico deixou uma fortuna patrimonial em Portugal que ronda os seis milhões de euros. Beneficiários são o compadre, o afilhado e, desde 2023, um amigo.

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Marco Paulo, figura do nacional-cançonetismo, em 1990 Luís Vasconcelos/Arquivo
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A herança de Marco Paulo, cujo valor está avaliado em cerca de seis milhões de euros em imóveis em Portugal (ainda não se conhecem os valores em imóveis no estrangeiro nem os montantes em depósitos bancários), tem feito capas de revistas desde a sua morte, a 24 de Outubro, sobretudo depois de se saber da existência de um segundo testamento que passou a incluir um amigo recente, um bombeiro, Eduardo Ferreira.

“[Os familiares] ficaram melindrados com a situação de perceber que houve alguém que se aproximou de Marco Paulo numa fase muito tardia da sua vida, numa fase muito complicada da sua doença e que criou sobre Marco Paulo uma ascendente tão grande que foi contemplado com 10% da herança”, explicou Pedro Proença, advogado da família do cantor, em declarações à SIC.

A exclusão dos dois irmãos e dos sobrinhos não era uma novidade: um primeiro testamento, revelado já em 2009, apontava como únicos herdeiros Marco António, o afilhado de Marco Paulo a quem o cantor tratava carinhosamente por Marquinho, e o pai deste, o amigo António Coelho, conhecido por Toni. No entanto, a revelação de um novo testamento, elaborado e registado a 20 de Fevereiro de 2023, no qual o cantor incluiu um amigo recente, o bombeiro Eduardo Ferreira, levou a que a família questionasse a possibilidade de haver ainda um terceiro testamento.

“A percepção que têm é que o Marco Paulo terá feito o segundo testamento debaixo de um estado emocional muito condicionado já pelo seu quadro médico”, começou por contextualizar o causídico. O agravamento do seu estado de saúde levara o cantor ao internamento num hospital lisboeta no final de Março de 2023, cerca de um mês depois da data do segundo testamento. O cenário, continuou o advogado, levou os familiares a suspeitarem que, “tal como foram surpreendidos por este segundo testamento, também pode acontecer que Marco Paulo num contexto da sua vida e da sua doença tenha querido, à última da hora, alterar a sua vontade”. Nesse sentido, a família do cantor “fez chegar à conservatória dos serviços centrais um pedido de informações”.

No entanto, declarou Pedro Proença na altura, “se não houver mais nenhum testamento e se não forem mesmo contemplados, irão respeitar a vontade de Marco Paulo, conformando-se com essa situação”. Agora, os sobrinhos confirmam a decisão de não tentarem impugnar o testamento.

Numa entrevista ao Correio da Manhã, publicada nesta sexta-feira, Pedro (filho do irmão Alfredo), Marco (filho do irmão Ernesto) e Ondina (filha de Maria de Fátima, que morreu em 2015) declaram que “não há, nem nunca houve, nenhuma guerra pelo dinheiro”. No entanto, desabafam, “houve espanto e surpresa da família [irmãos e sobrinhos] por não estar incluída no testamento”.

Por isso, quiseram saber “se o testamento era legal”. Confirmada a legalidade do documento, a família decidiu “respeitar a vontade” do cantor e “não impugnar o testamento”.

O herdeiro bombeiro

A decisão da família em tentar perceber se havia um terceiro testamento, que poderia impugnar o segundo, esteve relacionada com a descoberta de que havia um terceiro beneficiário sobre o qual ninguém teria conhecimento.

Eduardo Ferreira, de 39 anos, bombeiro em Braga, é um dos três beneficiários da herança do artista, tendo-lhe sido deixada em testamento uma fatia de 10%, ou seja, cerca de 600 mil euros. A estranheza levou a que lhe fosse atribuída uma relação amorosa com o cantor ou a promessa de uma, alegações que o bombeiro negou. Em declarações à revista TV Guia, Eduardo Ferreira afirmou-se de “consciência tranquila”, descrevendo como mentiras as insinuações de que “andava metido com ele” e considerando o legado “um mimo”.

O bombeiro explicou ainda que a sua inclusão no testamento fora prometida pelo artista, mas que ele não levou a sério a sua intenção: “O Marco disse-me que me ia pôr no testamento, mas a gente sabe como é que ele era — dizia hoje uma coisa, amanhã outra. Nunca me disse concretamente que estava.”

Eduardo Ferreira acrescentou ainda que, “depois de receber qualquer herança”, pretende permanecer ao serviço dos bombeiros, anunciando os seus objectivos futuros: “Quero acabar as obras na minha casa, dar estudos e um futuro ao meu filho Valentim.”

Marco Paulo, nome artístico de João Simão da Silva, morreu, de cancro, no passado dia 24 de Outubro. Ao longo da sua carreira, deu voz a êxitos como Eu tenho dois amores, Joana, Maravilhoso coração, Sempre que brilha o sol, Ninguém, ninguém ou Taras e manias, tendo vendido mais de cinco milhões de discos e somado troféus: de prata, ouro e platina (e até um de diamante).

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