É a juventude, estúpido!

É no debate filosófico entre individualistas e comunitaristas que a verdadeira questão da juventude se coloca: que sociedade querem os jovens?

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Desde março que ouvimos falar muito dos jovens, da pertinência de estes se envolverem politicamente, mas, especialmente todos os jovens envolvidos na “coisa pública”, questionam-se como, a médio e longo prazo, podem fazer mais jovens acreditarem na política e, sobretudo, nos políticos.

Dos sociólogos aos cientistas políticos, todos querem entrar neste debate. Os tempos que vivemos são diferentes, os métodos para chegar às pessoas desenvolveram-se com base no novo mundo digital. Hoje, um jovem tem acesso a toda a informação possível através de um clique, há 50 anos não era assim. A diferença é que, hoje, um jovem, tendo acesso fácil, investiga menos do que um jovem há 50 anos pela dificuldade maior que tinha em pesquisar.

O fácil tornou-se complexo, e foi a partir daí que os partidos de regime se foram afastando do eleitorado mais jovem. Este vê como solução partidos novos, frescos, mas especialmente partidos que, “supostamente”, apresentam novos métodos de fazer política, muito através da comunicação digital.

A forma como atualmente se elabora o Orçamento do Estado e todo o seu processo de debate reflete-se muito no que um jovem pensa da política e do estado da nação.

Bem sabemos que uma das medidas que dividiram os dois grandes partidos da nossa democracia era destinada à juventude: o IRS Jovem – uma bandeira da Aliança Democrática em campanha eleitoral, que já se sabia injusta, ineficaz e impraticável, que felizmente caiu por terra.

O problema é a interpretação que os jovens terão feito de toda essa discussão. Muitos entenderam que a retirada da proposta inicial foi mais um entrave à sua emancipação e a aumentos salariais, não pensando na questão de forma sistémica e global. O apelo ao individualismo e à apologia do “self-made man” continuam a crescer na juventude portuguesa, o que justifica o seu descontentamento como postura social face às políticas públicas. É exatamente no debate filosófico entre individualistas e comunitaristas que a verdadeira questão da juventude se coloca: que sociedade querem então os jovens?

A essa pergunta, como jovem, eu respondo. Quero uma sociedade solidária, fraterna e que lute para que os jovens se consigam emancipar e permanecer no nosso país. Além disso, quero um governo que ajude a alcançar estes objetivos. Mas não é este o caminho.

Em primeiro lugar, os 55% de redução do IRS previstos no OE são da responsabilidade do anterior Governo do PS. Depois, este é um Orçamento que baixa impostos diretos que só alguns pagam, mas aumenta os impostos indiretos que todos pagam, inclusive os jovens.

O atual Governo, que prometia resolver todos os males em 60 dias, apresenta um Orçamento do Estado (OE) que que não responde às urgências do nosso tempo, como a educação, a saúde, o ambiente e não só.

O que está inscrito na proposta do Governo são menos 50 mil novos empregos por ano face ao prometido pela AD, o que implica menos 200 mil até 2028.

O escrutínio ao Governo tem vindo a demonstrar a falta de transparência e os erros constantes de previsões: prometeu mais investimento público, porém baixa-o na rubrica respectiva do OE. Prometeu crescimento económico e de emprego, mas baixa as previsões para patamares muito conservadores. Prometeu uma dívida menor, mas há unanimidade em todas as instituições em que ela vai derrapar. Prometeu aumentos salariais acima da inflação, mas os aumentos previstos são mínimos e incomparáveis com o prometido.

É por isso fulcral os partidos serem capazes de denunciar este embuste, especialmente na comunicação com os jovens portugueses. Somos a geração mais qualificada de sempre e por isso temos de ser mais exigentes com quem nos governa e com aqueles que nos usam como chavão político.

Os jovens portugueses não podem admitir a falta de rigor e a política do "falar muito e nada fazer". Este Governo, durante todo este dito "estágio", em pouco ou nada serviu a nossa juventude. Parece que está na altura de os jovens se imporem e de exigirem políticas e políticos mais sérios.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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