Entre Olivença e a Galiza

Se da parte dos oliventinos houvesse algum movimento de reintegração em Portugal, então, sim, o país poderia e deveria agir em consequência. Como não é o caso, resta-nos preservar essa história comum.

Ouça este artigo
00:00
02:38

Tem-se falado muito sobre Olivença neste final de Verão de 2024 – após as mais recentes declarações do nosso actual ministro da Defesa, em que reafirmou a legitimidade (juridicamente indiscutível) de Portugal reclamar o território administrado por Espanha já há mais dois séculos –, mas, a nosso ver, bem mais pertinente é falarmos sobre a Galiza.

Não, esclareça-se desde já, para reclamarmos igualmente esse território (assaz mais extenso) – apenas porque o interesse por Portugal (e, por extensão, por todo o espaço lusófono) é bem maior na Galiza do que em Olivença. O que se compreende: Olivença é uma pequena cidade que, década após década, se integrou perfeitamente na Estremadura espanhola; a Galiza é uma região histórica com uma consciência muito maior da sua diferença no Reino de Espanha, equiparável às regiões da Catalunha e do País Basco.

Num e noutro caso, o que mais importa, a nosso ver, é que Portugal olhe para o outro lado da fronteira, a Norte e a Este, reconheça o que aí se passa e actue em consequência, sem qualquer ingerência política. O futuro de Olivença passa essencialmente pelos oliventinos e o futuro da Galiza passa, de modo não menos essencial, pelos galegos. Essa é, aqui, a premissa fundamental.

Se, da parte dos oliventinos, houvesse algum movimento político-social relevante de reintegração em Portugal, então sim, Portugal poderia e deveria agir em consequência. Como manifestamente não o tem havido, de forma relevante, resta-nos, pois, preservar essa memória histórica comum – como, de resto, tem sido feito, sobretudo no plano cultural. Já no caso da Galiza, bem mais expressivos – em quantidade e em qualidade – têm sido esses sinais de interesse. Não apenas, reiteramo-lo, por Portugal, mas, por extensão, por todo o espaço lusófono.

Recorde-se, a esse respeito, o reiterado empenho de algumas associações galegas em terem sido reconhecidas como Observadoras Consultivas da própria CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – o que passou por insistentes contactos com as embaixadas de vários países da nossa Comunidade, não apenas com Portugal. Refiram-se ainda, a esse respeito, os muitos eventos que têm feito essa ponte – nomeadamente, neste início de Outono, o II Encontro de Filosofia e Cultura Luso-Galaica, promovido por diversas universidades e associações da sociedade civil dos dois lados fronteira (a saber: Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, Universidade de Santiago de Compostela, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Centro Português de Vigo, Casa Impulsionadora da Lusofonia na Galiza, PASC: Plataforma de Associações da Sociedade Civil/ Casa da Cidadania e MIL: Movimento Internacional Lusófono).

Sugerir correcção
Comentar