Café com um propósito: o da inclusão
Foi no passado dia 28 de Março que teve lugar, no Café Joyeux, em Cascais, a talk que trouxe consigo um propósito: falar sobre inclusão social e perceber que lugar ocupam as empresas neste paradigma.
Incluir é um dos verbos do presente. Porque cada vez mais a diferença é trazida para o centro de vários debates, mostra-se mais importante do que nunca percepcionar a inclusão social e de que maneira nos posicionamos face a ela, mas também de que forma organismos como as empresas têm contribuído para que esta possa ser, de facto, uma realidade.
Dia 21 de Março celebrou-se o Dia Internacional da Síndrome de Down e dia 2 de Abril o Dia Mundial do Autismo. Durante essa semana, apelidada de “Yellow Week” pela Nespresso Portugal, que criou este movimento pela primeira vez, a marca juntou-se ao Café Joyeux, para discutir o papel das empresas naquilo que é a inclusão de pessoas com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento, assim como do desenvolvimento motor, e dos desafios que enfrentam no acesso ao mercado de trabalho. No dia 28 de Março, o debate abriu portas ao público e a conversa teve lugar no Café Joyeux, em Cascais, onde Carolina van Zeller, Gestora de Projectos da Associação Salvador, Filipa Pinto Coelho, Presidente da Associação VilacomVida - IPSS que gere os cafés Joyeux em Portugal, Madalena Ribeiro, Recruiter na IKEA Portugal, e Teresa Martins, responsável de Recursos Humanos da Nespresso Portugal, se juntaram numa talk moderada por Fernanda Freitas, para perceber o verdadeiro papel das empresas na inclusão.
Nespresso e Café Joyeux - um encontro com propósito
“A Yellow Week surge como uma forma de podermos trazer para a esfera pública este tema da diversidade, equidade e inclusão, e também a forma como conseguimos incluir pessoas com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento dentro das empresas, criando não só oportunidades de emprego, como também de crescimento”, começa por dizer Teresa Martins, acrescentando: “Nós acreditamos que o nosso café pode ter um impacto positivo na sociedade. A força que a nossa marca tem associada ao Café Joyeux, e a forma como consegue comunicar os temas que estão em torno da Yellow Week tem um impacto muito positivo na sociedade”. Já para Filipa Pinto Coelho, esta não poderia ser uma parceria de maior sucesso: “A associação VilacomVida, quando nasceu, tinha como objectivo criar uma aproximação da sociedade à diferença. O facto de termos esta oportunidade com a Nespresso, uma marca que é tão próxima das pessoas pela qualidade, pelos valores que comunica, é um privilégio enorme. O café Joyeux responde a uma necessidade que todos nós, enquanto cidadãos, temos, que é fazer parte. Todos nós estamos ao serviço de uma mesma missão, que é desmistificar preconceitos e aproximar”.
As empresas e a inclusão
Enquadrar as empresas naquilo que é a inclusão da diferença, mostrou-se, ao longo de toda a manhã, não só coerente como necessário. “As pessoas com necessidades específicas chegam a nós, muitas vezes, muito inseguras desta sua inserção no mercado de trabalho. É uma realidade, que para elas se mostrou muito negativa durante muito tempo e que só agora está a dar, em Portugal, os primeiros passos para uma verdadeira e genuína inclusão das pessoas”, afirma Carolina van Zeller.
“O projecto de apoio à empregabilidade da Associação Salvador vem ajudar, tanto as pessoas com deficiência como as empresas, a encontrar aqui oportunidades na retenção de talento, para ambas as partes. Queremos criar oportunidades para as pessoas com deficiência e facilitar a sua entrada no mercado de trabalho, através da sua capacitação”. Palavras de Carolina van Zeller, que rapidamente se esforça por explicar que grande parte desta reticência que tanto empregadores como empregados sentem vem de um lugar-comum: o desconhecimento. “Os receios vêm do desconhecimento e das barreiras que tanto as empresas como as pessoas, com algum tipo de necessidade específica, vivem. Nós ajudamos a quebrar essas barreiras, esses medos, porque não há que ter medo. Quando as pessoas começam a trabalhar, as empresas realmente percebem o valor da diversidade. Somos todos diferentes. A única coisa que realmente nos une é a diferença”, remata.
Falando também da perspectiva de alguém que faz parte do recrutamento de uma grande empresa, Madalena Ribeiro aproveitou a oportunidade para explicar um pouco sobre aquela que é a realidade do trabalho desenvolvido pela IKEA: “As pessoas com deficiência fazem parte de um dos grandes quatro pilares da inclusão na IKEA. Temos uma pessoa dedicada a esta área, temos parcerias com associações, tanto a nível nacional como a nível local. Temos um grande interesse em recrutar pessoas com deficiência, mas nós não recrutamos só porque sim. As pessoas são recrutadas porque têm, realmente, capacidades. Olhamos primeiro para as capacidades e só depois para a incapacidade que ela possa ter”.
E se é verdade que cada vez mais são as empresas que se juntam a esta causa e fazem a sua parte para que, aos poucos, a inclusão se torne na norma, também ficou claro que ainda há muito trabalho pela frente. “Em Portugal, nós ainda estamos um bocadinho longe daquilo que é a realidade de outros países. Foi necessário implementar uma lei que impõe uma quota para conseguirmos, no fundo, começar a mexer-nos. Eu acho que isto também é revelador do esforço que nós, enquanto empresas, temos de fazer para assegurar que temos práticas que trabalham a diversidade, a equidade e a inclusão”, reforça Teresa, não deixando a oportunidade para sublinhar o papel das lideranças neste sentido: é delas que tem de partir o exemplo e é com elas que tem de ser fomentada a mudança. No caso da Nespresso, o “objectivo é abrir as mentes e os corações de todas as pessoas para que sejam mais receptivas e percebam que ter algum tipo de incapacidade não tem necessariamente de ser limitador”.
Reveja aqui a talk:
Dar e ser o exemplo - rumo a um futuro que não exclui
Ao longo de toda a conversa, ficou claro que também é através do exemplo que determinados comportamentos podem ser alterados. Se cada um de nós, enquanto parte de uma empresa e/ou de uma sociedade, se comprometer a criar as condições necessárias para que todos sintam que têm acesso de forma equitativa e universal a determinadas oportunidades, o sentimento de pertença de que tanto se falou vai tornar-se, gradualmente, numa realidade. E aqui, as empresas assumiram-se sempre como uma parte fundamental no percurso. A parceria Nespresso x Café Joyeux é um exemplo catalisador de mudança e quem o diz é a Responsável de Recursos Humanos: “Esta parceria deixa-nos mesmo muito orgulhosos. E acreditamos que é este o caminho, unirmo-nos a associações que acreditamos que também nos podem ajudar a trazer este tema para as organizações e, adicionalmente, conseguirmos também ter um impacto positivo na sociedade. Nós trabalhamos em 3 grandes áreas na Nespresso: por um lado, queremos alterar esta percepção daquilo que é a empregabilidade destas pessoas com algum tipo de necessidade intelectual e de desenvolvimento; participamos também activamente naquilo que é a formação e capacitação de pessoas com deficiência; depois, adicionalmente, tudo o que são as actividades de recrutamento. Vamos continuar a investir nestas actividades, assegurando que incluímos pessoas com incapacidade e, ainda, que dentro do que são as actividades de recrutamento mantemos esta cooperação com algumas associações”.
Quanto ao futuro, e porque o caminho é longo e recheado com vários desafios, sobrou ainda tempo para deixar no ar alguns desejos. “Desejo que mudemos a nossa forma de falar deste tema. Deixar de dizer - eu incluo -, para passar a dizer - eu não excluo. Incluir é assumir que há duas coisas diferentes. Não excluir é assumir que somos um só”. Desejo de Filipa, que em muito se assemelhou ao de Teresa: “Cada um de nós deve fazer a reflexão sobre o que nos impede de incluir. Desejo que as organizações se inspirem neste nosso exemplo. Há muitas coisas que podemos aprender, também, com outras empresas. É um propósito, enquanto marca, que possamos criar uma sociedade mais inclusiva”.
Foi com estas mensagens em mente que a talk chegou ao fim, com a certeza de que todos nós podemos ser os agentes da mudança. E que tudo pode começar com um “simples” café.