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Promover a evidência e trabalhar com evidência faz bem à saúde

A propósito do 1.º Fórum Saúde + Sustentável, Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), e Filipe Costa, professor na Nova SBE, reflectem sobre o tema.

27 de Fevereiro de 2024, 11:58

Opinião

Óscar Gaspar, Presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada

‘Maior evidência para maior eficiência’ é um excelente mote, uma vez que um dos desafios centrais para a sustentabilidade dos sistemas de saúde é o aumento da eficiência na prestação dos cuidados e no tratamento dos doentes.

Uma evidência mais robusta permite uma melhor terapêutica e uma maior certeza no diagnóstico – e este é o primeiro ganho de todos e para todos – e proporciona também uma maior eficiência na prestação dos cuidados de saúde.

No século XXI é cada vez menos admissível que possa haver algum tipo de resposta terapêutica, sem uma evidência comprovada sobre o resultado das mesmas nos doentes e seria um inaceitável desperdício se não colocássemos o potencial tecnológico e a investigação aberta ao serviço dos cidadãos.

Por outro lado, mais evidência é também um factor absolutamente essencial para a sustentabilidade dos sistemas de saúde porque foca os agentes nas actividades que sejam mais eficientes e incentiva a que a contratualização, aos mais diversos níveis, olhe definitivamente para ‘o doente no centro do sistema’, considerando as estruturas e os processos como instrumentais.

Para termos evidência é preciso ter dados. Neste aspecto, será essencial ter acesso a informação mais robusta, completa e sistemática. Portugal tem neste momento acesso a verbas europeias do PRR, e sabemos que houve dotação inicial de 1383 milhões de euros aplicados à saúde, mais especificamente ao Serviço Nacional de Saúde e serviços regionais, e que, deste valor, 300 milhões de euros são dedicados à digitalização na saúde. Esta é uma oportunidade única de investir mais na capacitação do digital, no reforço dos registos e na interoperabilidade, quer em termos de investigação como em termos de aplicação na prestação de cuidados de saúde.

Costumo citar Michael Porter, um reconhecidíssimo homem da economia, mas que dedicou as últimas décadas também à economia da saúde, que afirma que a “missão da saúde é gerar valor”. Tal significa que só conseguimos gerar verdadeiramente valor se estivermos a trabalhar naquilo que importa para o cidadão/doente e que lhe permitirá ter mais ganhos na sua saúde.

Enquanto Presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) gostava de deixar desde já nota de que somos um dos fundadores do Instituto da Saúde Baseada na Evidência, ou seja, nós convictamente entendemos que a saúde baseada na evidência é uma questão estratégica e deve ser uma prioridade na política de saúde. É muito importante que exista esta ligação à academia, aos hospitais e aos profissionais de saúde, sem esquecer as associações de doentes.

Em 2022 a APHP promoveu a primeira edição dos prémios europeus da hospitalização privada e uma das categorias que quisemos destacar e premiar foi exactamente o The Most Advanced Hospital em termos de Value Based Healthcare.

Saúdo de forma entusiástica este evento “Maior evidência para maior eficiência” porque juntar players do sector é sempre estimulante e prospectivo. Termos disponibilidade para partilhar as nossas ideias, as nossas iniciativas, o que é que estamos a fazer em prol do Value Based Healthcare e da promoção da Real World Evidence, permite gerar conhecimento, ganhar sinergias e acelerar processos. Por fim, também é de realçar que estes eventos são importantes para a promoção da literacia e para a criação de modelos de governação de valor em saúde.

Opinião

Prof. Filipe Costa, Nova SBE

Os dados em saúde para que evidenciem a respectiva importância e relevância devem de ser transformados em informação, e respectivamente em conhecimento e sabedoria.

Desta forma, é estrutural que a acção do nosso dia-a-dia naquilo que é a principal missão em saúde – produzir os melhores resultados para os nossos doentes – seja efectivamente baseada não em percepções mas sim em evidência com resultados que produzimos diariamente.

Neste sentido, não podemos de forma alguma estar perante uma tomada de decisão tão importante quanto a da saúde, baseando-nos apenas em conceitos teóricos. Temos que efectivamente demonstrar um conjunto de decisões que sejam factuais e actuais, e que nos permitam descodificar aquilo que são os dados de forma a termos a melhor informação para a melhor tomada da melhor decisão, com a respectiva consequência directa de produção de melhores resultados para os nossos doentes, ao custo adequado, e desta forma evidenciarmos a produção efectiva de valor naquilo que são os cuidados de saúde prestados.

Sem a capacidade de produção de evidência como resultado, somos meramente um conceito teórico naquilo que é uma tomada de decisão sobre aquilo que é o produto mais importante que existe: a saúde!

Assim, é quase paradigmático actualmente como é que, hoje em dia, cada vez mais tomamos decisões sem terem por base a evidência da produção desse resultado. Observando o histórico progressivo daquilo que é a despesa, quer em padrões de ineficiência do sistema de saúde, praticamente identificamos como uma normalidade, devido ao facto de não conseguirmos avaliar qual o impacto das decisões não mensuráveis do ponto de vista de resultados e como consequência a naturalidade de não sabemos o que efectivamente estamos a gerir.

É estrutural que numa cadeia de valor seja possível medir e avaliar para tomarmos melhores decisões que vão levar, certamente, a um melhor equilíbrio naquilo que são os nossos principais objectivos: produzir melhores resultados a um custo adequado.

Isto leva-nos a perceber que para além do impacto económico, há também a necessidade de interpretarmos aquilo que é a variabilidade do comportamento que nos leva necessariamente a uma escalada progressiva de custos, de forma a percebermos que a tomada de decisão consciente, baseada na evidência, pode efectivamente contribuir para produzirmos valor. Só com evidência e com dados é que podemos tomar melhores decisões em saúde!

Atingir os melhores resultados ao custo adequado é um modelo que nos obriga efectivamente a olhar para aquilo que é o comportamento baseado na evidência de o mundo real.

Hoje em dia, temos obrigatoriamente de estar numa relação directa com aquilo que é o modelo de Value Based Healthcare quer numa necessidade absoluta de mudança, quer na realidade da evidência, quer naquilo que é o resultado como modelo de financiamento alocativo para compensar verdadeiramente e ajustar quem é bom e produz melhores resultados para os nossos doentes, ao custo adequado.

Estes fóruns são essenciais naquilo que é uma reflexão sobre a realidade. São uma alavancagem significativa daquilo que eu considero que será fundamental, que é o verdadeiro impacto nos resultados dos nossos doentes, demonstrando qual é a relevância do nosso conhecimento, mas, acima de tudo, mostrar o verdadeiro impacto que estamos a criar no nosso sistema de saúde em termos de valor.

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