Millie Bobby Brown, mulher do ano para a Glamour, quer libertar-se de Stranger Things
A pequena Eleven, que nos pôs presos ao pequeno ecrã em Stranger Things, cresceu. E, com um livro acabado de lançar, quer ser mais do que uma personagem de uma série icónica.
Quando Stranger Things se estreou, Millie Bobby Brown (n. 2004, Marbella, Espanha, filha de pais ingleses) tinha apenas 12 anos. Hoje, com 19, é, além de actriz, produtora, empresária com a linha de cosmética Florence by Mills e acaba de lançar o seu primeiro romance. Um percurso que a revista Glamour decidiu homenagear, incluindo-a no leque de homenageadas de 2023, entre as quais está também a actriz America Ferrera (Betty Feia).
A sua vida pessoal, conta à revista que faz dela capa global, também vai de vento em popa: encontrou o homem com quem se quer casar, Jake Bongiovi, 21 anos, não obstante comentar que todos os vêem como demasiado novos para isso.
Mas, tanto para um como para outro, isso não é um problema. Afinal, explica, ambos têm pais que se casaram cedo (o noivo é filho de Jon Bon Jovi e Dorothea Hurley, casados há 34 anos, mas namorados desde o liceu) e que permanecem apaixonados. “Nós viemos de modelos maravilhosos de relacionamento, então é algo que estamos naturalmente inclinados a fazer.”
Também a UNICEF não olhou à idade e fez de si a mais jovem celebridade a assumir o papel de Embaixadora da Boa Vontade. Tinha 14 anos.
No reverso da medalha está a pressão a que confessa estar sujeita e que lhe provoca, amiúde, ataques de pânico — conta com o seu cão, Winnie, para ultrapassar as crises. Também não gosta de ter de andar sempre acompanhada por um segurança e não é imune à pressão das redes sociais. “Vou ao Instagram e vou ver cinco raparigas diferentes, todas lindas — Impecáveis! Incríveis! (…) Sei que não sou assim”, desabafa.
Fala também da pressão dos media e do escrutínio do público. Foi acusada de “roubar as atenções” e chamada de “idiota”, “estúpida” e “fedelha”. “É difícil ouvir isso aos 13 anos”, recorda.
Conseguiu ultrapassar as críticas muito graças ao apoio da família, entre a qual destaca a avó que a defendia quando outros adultos desvalorizavam a sua opinião. “A minha avó [nunca] toleraria isso.” E é precisamente a matriarca da família que está no centro do seu primeiro livro, Nineteen Steps, que já é um bestseller do jornal New York Times, para o qual Millie contou com as memórias da avó sobre a Segunda Guerra vivida num dos bairros mais pobres de Londres (e com a colaboração da autora Kathleen McGurl, que escreveu a trama a partir da investigação da actriz).
O romance, editado pela HarperCollins (e ainda sem tradução para português) conta a história de Nellie Morris, uma jovem de 18 anos, a viver uma vida tranquila na comunidade de Bethnal Green, no East End, pronta para se casar com o vizinho que sempre foi apaixonado por ela. Até que a chegada de um belo aviador norte-americano vai abalar as certezas da jovem. E um trágico acidente vai mudar tudo.
É também a família que lhe permite estar a construir um império: a produtora é gerida por todos os irmãos (a irmã Paige assina consigo a produção de Enola Holmes, melhor filme em streaming nos Saturnos) e a Florence by Mills é gerida pela cunhada.
Aos 19 anos, também acredita que pode mudar o mundo, não com grandes feitos, mas com “pequenas coisas que ajudem as pessoas”. Como Embaixadora da Boa Vontade da UNICEF, trabalha para que o acesso aos cuidados menstruais e à educação não seja um privilégio, mas um “direito”. E afirma-se feminista, valores que quer passar nas suas produções — na forja está Damsel, no qual interpretará uma princesa que luta contra dragões ao lado de Angela Bassett e Robin Wright.
Com o fim anunciado de Stranger Things (a última temporada estreia em 2025), Millie não se mostra ingrata a tudo o que a série lhe deu, mas deixa escapar um certo alívio pelo seu término. “Estou pronta para dizer ‘obrigada e adeus’”, declara, revelando o desejo de se libertar da imagem de Eleven, tal como, lembra, outras actrizes infantis — Winona Ryder (com Eduardo Mãos de Tesoura), Natalie Portman (Star Wars), Jodie Foster (Taxi Driver) — conseguiram avançar com as suas carreiras, deixando os êxitos iniciais no passado.