Madeira

Variações à volta de uma pérola saturada

O fotógrafo e arquitecto Tiago Casanova mostra-nos as paisagens que foram sendo abertas na paisagem da ilha da Madeira. Pearl é uma alusão à “pérola do Atlântico” e vai estar exposta no Museu da Imagem de Braga a partir do dia 12 de Abril e no Museu de Arte Contemporânea do Funchal, entre 10 de Novembro e 3 de Janeiro de 2015.

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Se há coisa que as fotografias têm dificuldade em dar-nos são evidências. Tendemos, de maneira inocente, a olhar para elas como se fossem o registo mais próximo da verdade, um meio fiel. Mas isto joga muitas vezes a seu desfavor (pela dimensão da expectativa criada) e aquilo que nos aparece como evidente não passa de uma ilusão ou de uma realidade demasiado mutilada. As imagens do ensaio Pearl, de Tiago Casanova, dão-nos várias evidências, e uma das mais marcantes é a da saturação de um espaço, a ilha da Madeira.

Nos últimos anos, o fotógrafo, natural do arquipélago, dedicou-se a recolher imagens que mostrassem o confronto entre natureza e construção, tentando evitar os juízos e as “leituras políticas” que um trabalho com estas características declaradamente potencia.

Os caminhos que Tiago Casanova foi trilhando por prédios, estradas, pontes, marinas, colunas, miradouros, piscinas, cimento, alcatrão abriram-lhe um novo campo de pesquisa — o fascínio pelas paisagens que foram sendo abertas nas paisagens que já existiam e onde as linhas entre o belo e o feio se revelam muito ténues, subjectivas. Uma entrada num diário de viagem do fotógrafo (arquitecto de formação) atesta esse estado de espírito, meio caminho entre o deslumbramento e a repugnância: “O construído confronta o natural de um modo dual. Grandes cicatrizes são abertas, mas a consumação do acto torna os elementos construídos parte de uma nova paisagem, que nos provoca tanto descrença como fascínio.”

Pearl (uma alusão a “pérola do Atlântico”, epíteto pelo qual é conhecida a Madeira) vai ser mostrada no Museu da Imagem de Braga a partir do dia 12 de Abril (passará depois para o Museu de Arte Contemporânea do Funchal, entre 10 de Novembro e 3 de Janeiro de 2015). O início deste trabalho, Paisagem Híbrida, uma série de polaróides a preto e branco, foi reconhecido em 2013 com uma menção honrosa no Prémio de Novos Talentos FNAC de fotografia. Com esta exposição, que engloba ainda imagens da série Madeira e um livro (maquete que foi destacada pela fotógrafa britânica Vanessa Winship para First Book Award, da editora Mack), o fotógrafo dá por concluído este projecto, que procurou dar pistas de reflexão sobre os fenómenos de transformação e do impacto do edificado na paisagem madeirense.

Outra evidência (esta, apesar de tudo, menos evidente…) que transparece das fotografias de Pearl é a de que o ser humano parece sempre disposto a tentar ultrapassar os limites. E não são só os do espaço físico e os da natureza — são, sobretudo, os do senso comum. E os da decência também.