Investimento de 22,5 milhões feito no Alqueva em risco de se perder
Quem visite a Herdade de Roncão d"el-Rei, em Reguengos de Monsaraz, onde está a ser instalado o primeiro empreendimento turístico da era Alqueva, dificilmente deixará de se interrogar sobre as consequências do contencioso entre a Sociedade Alentejana de Investimentos e Participações (SAIP), promotora do investimento, e a Caixa Geral de Depósitos (CGD), que acaba de cortar o financiamento do projecto.
As infra-estruturas em curso, que já envolveram um investimento de 22,5 milhões de euros, correm o risco de abandono se não surgir um promotor interessado em dar continuidade ao projecto Parque Alqueva.
O campo de golfe com 18 buracos que já se encontra em adiantada fase de construção - estaria em condições de utilização dentro de quatro meses - é o investimento de maior vulto, a par do hotel de cinco estrelas, cerca de 15 milhões de euros.
Apesar da dimensão do investimento já executado, quase metade dos 49,7 milhões disponibilizados através do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN), a CGD "não confiou" no projecto, acusa a SAIP, que não poupa as críticas à instituição bancária. Esta "poderia ter dito de forma clara e atempada" que o Parque Alqueva lhe suscitava dúvidas, observa a empresa, salientando o que considera ser "um desperdício de tempo e de dinheiro para todos os envolvidos e, em especial, para o promotor que foi até ao limite".
Um projecto que foi declarado de interesse estratégico nacional "acaba por falhar por falta de apoio do banco do mesmo Estado", lamenta a empresa, que diz "nunca ter acreditado que a CGD tirasse o tapete".
As consequências deste tsunami que submergiu o único empreendimento turístico a nível nacional classificado, por despacho do actual Governo, em Setembro de 2011, como Projecto de Interesse Estratégico Nacional (PIEN), podem vir a observar-se a curto prazo.
A SAIP deixa claro que a sua função termina com a entrada em funções do administrador da insolvência que impende sobre as sociedades do grupo.Os cerca de 700 hectares de área da Herdade de Roncão d"el-Rei necessitam de constantes trabalhos de manutenção que neste momento são executados por 25 funcionários. Mas eles só têm salário garantido até ao final deste mês. "Alguém tem de cuidar rapidamente dos cerca de 130 hectares de espaços arrelvados do campo de golfe", adverte a SAIP, receosa de que o equipamento maior do Parque Alqueva possa ser transformado "num Marvão II", numa alusão ao abandono de um outro campo de golfe localizado neste concelho do norte alentejano, que foi transformado em pasto para ovelhas. "Deixamos ainda concluídos arruamentos e redes de água, electricidade e comunicações e o hotel com projecto aprovado e licenciado", assinala a empresa.
Desfecho triste
Guilherme Santos, 55 anos, é um dos 25 trabalhadores que têm o seu posto de trabalho ameaçado. "É um desfecho muito triste, o terminar de um sonho que era lindo", frisa consternado. Ao seu colega Arlindo Saramago, 50 anos, só lhe resta o que considera uma certeza: "A alternativa é o desemprego". Mas o que mais lhe custa é saber que tem um filho a frequentar um curso de turismo "a contar com o projecto do Alqueva" e "não vai ter sorte nenhuma".
Duarte Pereira, 30 anos, descreve o que representava o projecto dinamizado por José Roquette: "Estávamos convencidos - e como nós muita gente - que seria a primeira pedra do turismo em Alqueva".
O inconformismo alimenta os argumentos de José Calixto, presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz. "Continuo a lutar pelo projecto Parque Alqueva." "Ainda não perdemos nada", afirma peremptório e disposto a prosseguir contactos com todas as entidades que ajudem a desbloquear o contencioso que opõe a CGD e o grupo SAIP. Mas, se tal não for possível, o autarca diz que os responsáveis pelo que está a acontecer ao único projecto de turismo em obra no espaço Alqueva "têm de ser identificados", assinalando que "há muitas vidas e economias familiares" que apostaram investir em Reguengos de Monsaraz a contar com o Parque Alqueva