Aprender as lições da crise
A recessão é um bom momento para mudar os padrões de vida que nos conduziram à catástrofe.
Depois do desastre que assolou as nossas vidas, a pergunta é: seremos capazes de não tropeçar na mesma pedra? A resposta será dada pelo governo PS de António Costa.
Faz oito anos que o sistema financeiro mundial parecia à beira do abismo. A economia portuguesa e o desemprego alcançaram níveis dramáticos (e ainda está aí), num buraco aberto por uma gigantesca dívida pública – acumulada por anos de excessos.
Notam-se ténues sinais de recuperação, com crescimento da economia e aumento das exportações que compensa o efeito que tem o gasto das famílias com as importações.
É preciso aprender com a crise e, como muitos temem, podemos tropeçar de novo na mesma pedra. A venda de carros aumentou substancialmente.
Quando se fala da importância de Portugal mudar o seu modelo de crescimento, parece que voltamos de novo ao mesmo.
O excesso de concentração de actividade num só sector não é bom. Ainda mais, é muito arriscado se essa concentração se faz financiada com dívida.
A economia está a recuperar, mas não se percebe qual a intensidade das novas áreas. Seria importante crescer com maior intensidade no conhecimento. Na componente tecnológica, que permita aplicar preços competitivos frente às economias emergentes e procurar ter salários mais elevados.
A recuperação feita à custa de salários baixos é pão para hoje e fome para amanhã; com salários baixos, as pessoas não pagam as suas dívidas.
Felizmente que Portugal já não depende da construção civil, como antes da crise.
O turismo é um motor importante, cada vez mais estrangeiros vêm a Portugal, onde podem desfrutar de boa gastronomia, bom clima e bons serviços.
O que é que aprendemos com esta crise, se é que aprendemos alguma coisa? Os cidadãos aprenderam a informar-se melhor sobre a economia e a ter alguma ponderação nos seus gastos.
Muitos economistas já tinham advertido para o que ocorreu. A principal lição é que e instabilidade financeira não é um episódio isolado e estava no centro. O sistema bancário tem que ser regulado e reforçado.
O que se pode fazer para evitar repetir erros? É necessário uma mudança de paradigma de crescimento. Um dos maiores erros foi o financiamento constante de elefantes brancos que fez com que aumentasse a dívida portuguesa: grandes projectos, pouco ou nada úteis, impulsionados pelos poderes públicos. Os EUA estimularam a economia com deduções fiscais.
No contexto actual não se deve continuar com políticas contractivas fiscais e austeridade. Temos feito um exercício de masoquismo desnecessário, parece que nos autoflagelamos. É o momento da inversão pública para criar um fundo para melhorar as infra-estruturas tecnológicas. Aquilo a que os economistas chamam economia de rede: interconexões, banda larga e fomento da natalidade empresarial.
A queda de muitos bancos foi um mal necessário que se repercutiu em todos os cidadãos. Há uma grande concentração do dinheiro, mas seria importante fazer o que diz Juncker: "a desbancarização da Europa em que uma empresa pode financiar-se nos mercados - o crowdfounding".
A banca privada entrou em degeneração e por vezes em colapso. E, não está a financiar a economia real. Está a atentar resolver os seus próprios problemas.
Depois da crise, mudou a forma de consumir dos cidadãos e a forma de se endividarem. Sempre se disse que tudo ia bem mas equivocaram-se. Não podemos voltar a cair no mesmo erro. As pessoas e as famílias estão mais sensíveis ao comportamento financeiro. O crédito é um negócio, mas a crise demonstrou que há negócios que se devem desincentivar e colocar limites.
A precaridade e o desemprego estão aí para durar. Vamos ter uns anos que não vão ser nem melhores nem piores.
Temos que corrigir os problemas de desigualdade, a forma mais eficaz de reduzir a desigualdade é ter uma fiscalidade eficaz. De onde pode vir o emprego? Facilitar o despedimento não é a solução. Deve sim facilitar-se a contratação.
As famílias endividaram-se porque também foram ludibriadas. Há episódios que passaram à história da infâmia financeira. Houve excessos, como financiar mais de 100% dos imóveis e falta de garantias como fazer face à divida.
Uma sociedade civilizada necessita de acordos mínimos e compromissos da estrutura institucional que devem ser negociados.
A recessão é um bom momento para mudar os padrões de vida que nos conduziram à catástrofe. Será que vamos aproveitar essa oportunidade? Vamos ver se somos capazes de não voltar a tropeçar e cair de novo. É importante aprender com os erros. Espero bem que tenhamos aprendido a lição…
Fundador do Clube dos Pensadores