Contratar dentro de casa

Quando falta menos de um mês para o início do campeonato da Liga de basquetebol, as contratações dos candidatos ao título parecem estar concluídas. O dinheiro não abunda e, por isso, as opções recaíram sobre "artistas" já conhecidos. As trocas de camisola de Greg Grant, Kris Hill e Doug Muse foram as mais sensacionais.

A cerca de um mês de ser lançada ao ar a primeira bola no basquetebol profissional, da época 1999/2000, as principais equipas parecem ter já feito as suas aquisições mais importantes. Greg Grant acabou por ser um dos principais protagonistas, não só por se tratar de um dos estrangeiros mais valiosos do campeonato, mas também porque simplesmente saiu do Benfica para ingressar no FC Porto, numa morna reedição das guerras de outros tempos. Lembre-se a saída tempestuosa do luso-brasileiro Fábio Ribeiro das Antas para a Luz, há três épocas, que gerou uma violenta troca de palavras entre dirigentes dos dois clubes.Ainda longe de deterem o poder financeiro dos clubes dos principais campeonatos europeus, as equipas portuguesas apostam cada vez mais pelo seguro e, por isso, foi com naturalidade que aconteceram mais trocas intramuros do que vindas de atletas não testados na nossa prova. Tome-se como exemplo equipas como FC Porto, Ovarense, Portugal Telecom, Oliveirense ou CAB, que foram buscar jogadores já com provas dadas no básquete nacional. Este grupo inclui, de resto, os principais candidatos ao título nacional, podendo apenas o vice-campeão Illiabum tomar o lugar do CAB.Seixal e Estrelas da Avenida (alegou dificuldades financeiras e foi para a I Divisão) foram duas das principais vítimas desta colheita sazonal. Os seixalenses viram sair 11 elementos, entre os quais Kris Hill (jogador mais valioso da fase regular, que a Ovarense foi buscar), José Pedrera (FC Porto), Pepe Artiles (Portugal Telecom) e Laverne Evans (Illiabum), o mesmo sucedendo com os estrelistas: Doug Muse, Artur Cruz (ambos na Telecom), Flávio Nascimento (Seixal), Juan Barros, Paulo Simão (CAB) e Joaquim Arcega (Oliveirense).Curioso é verificar que um dos crónicos candidatos ao título, o Benfica, não se tenha socorrido deste estratagema para formar a equipa que vai atacar o próximo campeonato. A única entrada de um atleta já conhecido foi, até à data, a de Euclides Camacho, um base oriundo da escola da selecção de juniores. As baterias da equipa da Luz viraram-se, desta vez, para o mercado espanhol e, após a vinda do extremo Jeronimo Bucero, o treinador Carlos Lisboa escolheu Eric Cuthrell, um americano, mas que actuou na II Liga espanhola, no Abecona Ferroll - segundo melhor marcador (média de 21,2 pontos) e melhor ressaltador (11,7) da prova.Outros dos aspectos que há a ressaltar no Benfica deste ano é o facto de ter sido quebrada em definitivo a tradição de pouco mexer no grupo de trabalho. Durante vários anos, a equipa da Luz mantinha um núcleo duro, reforçando-o apenas com um ou dois elementos importantes. As saídas de Pepe Blanco, Pepe Cargol, Greg Grant e Luís Silva são a prova de que há algo de novo para os lados da Luz.Por seu lado, o FC Porto regressou à táctica de recrutar o que já conhece, como se pode comprovar pelas contratações do ex-benfiquista Greg Grant e do ex-seixalense José Pedrera. Esta dupla não foi a cereja em cima do bolo que a equipa técnica desejava, pois a aposta maior era num ataque forte à Europa, mas as saídas forçadas de Nuno Marçal (Fuenlabrada) e de Rogelio Legasa (Bréogan) obrigaram a corrigir a estratégia. O eterno problema de ter um cofre mais magro do que a maioria dos europeus voltou a fazer a diferença e o técnico Alberto Babo vai ter de tocar guitarra com as unhas que tem.Mesmo assim, o FC Porto é claramente um dos mais fortes candidatos ao título, já que mantém nas suas fileiras as mais-valias que são Jared Miller, Paulo Pinto e Rui Santos. Existe ainda a possibilidade de chegar mais um reforço comunitário às Antas, lá mais para o final deste ano, mas tudo vai depender do dinheiro que os portistas puderem desembolsar.O vice-campeão Illiabum, depois de uma época notável, viu sair duas das suas grandes armas: os americanos Steven Grayer e Ray Thompson, mas, segundo as indicações disponíveis, Gary Williams (extremo de 2,03 metros) e Larry Tiller (poste de 2,05 metros) parecem substitutos à altura. A entrada de Laverne Evans (ex-Seixal) poderá dar à equipa de Carlos Gouveia um pouco da experiência necessária para os grandes momentos.Quem apostou em força foi a Ovarense, depois de uma época em que os vários erros de avaliação quase deixavam o clube no fundo da tabela. O ponto de partida para o reforço da equipa foi a entrada do treinador Jorge Araújo, que ressuscitou o CAB e o levou a uma inédita participação europeia. Além do já referenciado Kris Hill, o técnico foi buscar David Berbois e Joffre Lleal à Telecom, levando consigo, da Madeira, o importante Todd Merrit.Outro dos grandes candidatos ao título nacional que se reforçou em grande foi a Portugal Telecom, que, além do experiente treinador Luís Magalhães, contratou os já citados Luís Silva, Muse, Cruz e Artiles, bem como António Tavares (ex-Seixal) e Ernesto Serrano (ex-Unicaja). As saídas de Bruce Chubick, Eric Cardenas, Alex Gomez, David Berbois e Joffre Lleal não deverão afectar a previsível solidez do conjunto.A fechar o quinteto de candidatos, a Oliveirense também recorreu a "artistas" conhecidos, casos de Jordi Tombas (ex-CAB), João Reveles (ex-Ginásio), Anthony Blackely (jogou na equipa há duas épocas) e Alexandre Pires (ex-Aveiro Basket), além do ex-Estrelas da Avenida Joaquim Arcega. Depois de ter estado muito perto de ganhar o campeonato da Liga na sua primeira edição, a equipa de Oliveira de Azeméis volta a apostar forte quatro épocas depois e resta saber que mossa vão fazer as ausências de Jordi Pardo ou do seu irmão Ivan.No lote das equipas que estão numa segunda linha de candidatos, cabe ao Seixal e ao Clube Amigos do Básquete o maior destaque. Os seixalenses quase não recorreram ao mercado nacional, excepção feita a Flávio Nascimento (ex-Estrelas), mas o técnico Valentyn Melnychuk já provou ter qualidade suficiente para ir buscar jogadores de grande valia. O lituano Gyntaras Stulga, o alemão Zvonimir Paradzic e o americano Jermaine Willform podem ser surpresas agradáveis no próximo campeonato. Por seu lado, na Madeira, o CAB possui agora um grupo com mais soluções para cada posição, havendo alguma expectativa em redor das novidades Ken Roberts (poste americano) e Chima Valentine (nigeriano).

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