La Grave-La Meije, o fascínio da alta montanha
La Grave é uma encantadora aldeia francesa, dominada a sul pelo imponente maciço de La Meije e pelos seus glaciares. O leitor João Paulo Casquilho visita-os com frequência.
La Grave é uma encantadora aldeia francesa, localizada nos Alpes, empoleirada no vale do rio Romanche, a 1520 metros de altitude. É dominada a sul pelo imponente maciço de La Meije, cujo pico chega aos 3984 metros de altitude, e pelos seus glaciares. Pertence à rede das aldeias mais belas de França. Situa-se na região dos Hautes-Alpes e à beira do maciço dos Écrins, conhecida como o “el dorado das caminhadas em montanha” em França.
É a este ambiente de média e alta montanha que rumo frequentemente em Junho-Julho, à descoberta dos seus itinerários pedestres, de grande beleza paisagística, com os seus vales profundos onde escoam as torrentes alimentadas pelo degelo dos glaciares, alguns dos quais repito sempre que lá vou. Há actividades para todos os gostos e forma física, das caminhadas mais fáceis ao alpinismo. Geralmente caminho sozinho nesses trilhos bem marcados e frequentados, para gozar a calma e comer o meu farnel no silêncio da montanha, tendo o cuidado de me informar sobre a previsão meteorológica, e informar a simpática gerente do hotel qual o percurso do dia!
Por vezes consigo assistir a um ou mais concertos do festival Messiaen “no país de La Meije”, dedicado à música deste compositor do século XX, que muito aprecio, e a compositores contemporâneos, geralmente na igreja de La Grave. Conheci esta região quando tive a oportunidade de fazer o trabalho do meu doutoramento em Grenoble há uns bons anos, quando ainda tinha bons joelhos para fazer esqui no Inverno, e tive a sorte de assistir a alguns concertos de música de Messiaen na presença do compositor, que se inspirou em paisagens desta região em várias das suas obras. Este ano assisti a um excelente concerto para dois pianos com obras de Messiaen e de Yvonne Loriod, sua mulher e intérprete.
Geralmente, como aquecimento e habituação à altitude (vou de Lisboa de carro…), no primeiro dia de estadia subo ao planalto de Emparis, a 2400 metros de altitude sobre La Grave. Caminhada fácil, de 600 metros de desnível positivo a partir da aldeia de Chazelet, onde chego de carro. Almoço o meu farnel em frente aos glaciares do maciço da Meije, paisagem de que nunca me canso.
Durante a semana geralmente consigo um guia para fazer uma caminhada ou uma pequena ascensão (não sou grande alpinista, então agora…) no glaciar em frente ao planalto de Emparis. A subida a 3200 metros é fácil, pelo teleférico mesmo em frente ao hotel. Depois subir mais uns 400 ou 500 metros sobre neve e gelo, com crampons e piolet, encordado ao guia e aos outros membros do grupo, se os houver. A caminhada deste ano não era técnica e qualquer bom caminhante aprende depressa a usar os crampons, que se podem alugar em La Grave, assim como o piolet. Boas botas de montanha são indispensáveis. As vistas são magníficas: para sul o maciço dos Écrins, para norte o Alpe d’Huez, as agulhas de Arves e, num dia bom, o monte Branco.
Este ano, subindo de carro para norte, passei o famoso (da Volta à França) Col du Galibier e fiz uma caminhada para ver as agulhas de Arves, que tiveram em 2023 honras de paisagem no filme Anatomia de uma queda. Também se podem ver a partir do lado de La Grave – La Meije, subindo ao lago do Goleon.
Vale a pena descansar as pernas um dia e ir a Briançon, a cidade francesa com mais dias de sol por ano, perto da fronteira com Itália, e visitar a cidade fortificada de Vauban.
Nota ainda para uma caminhada no parque nacional dos Écrins, com acesso fácil a sul de La Grave e ao lado do maciço da Meije, na direcção do glaciar de Arsine e/ou das nascentes do Romanche (e que faz parte do mítico tour dos Écrins GR 54), que repito com frequência. Com mais uns dias vale ainda a pena ir ao interior dos Écrins, à zona dos grandes glaciares, que estão em recessão, e ver a mítica Barre des Écrins, o ponto mais alto do maciço (4101 metros), pelo lado da Vallouise-Pelvoux e/ou pelo lado da Bérarde.
Geralmente vou de carro a partir de Lisboa, 2000km com calma, ficando uma noite em Saragoça, e outra noite na bonita cidade de Arles, seguindo depois para La Grave, passando por Aix-en-Provence, por Briançon e pelo Col du Lautaret (2000 metros de altitude, com uma vista fabulosa sobre a Meije). Em alternativa, pode-se ir de avião por Lyon, alugando um carro e passando por Grenoble, ou por Marselha, passando por Aix e Briançon. Para caminhadas fora da época de esqui, aconselho meados de Junho a meados de Julho, depois meados de Agosto a meados de Setembro. Conseguir alojamento a partir de 15 de Julho até finais de Agosto é difícil, e é a época do calor e das trovoadas de montanha.
João Paulo Casquilho (texto e fotos)