Ao sétimo álbum, MOMO. quis fazer um disco para a filha dançar, e nasceu Gira

A viver em Londres desde 2021, o cantor e compositor brasileiro Marcelo Frota, MOMO., lançou um duplo álbum que ganhou quatro estrelas da MOJO e da All About Jazz.

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Marcelo Frota, aliás MOMO. DUNJA OPALKO
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Quando MOMO. esteve em Portugal este ano, em Julho, no Festival de Músicas do Mundo de Sines, já tinha começado a gestação de Gira, o seu sétimo álbum de estúdio que acabou por ser publicado em Outubro. Nessa altura, a sua vida já tinha dado mais uma volta. Nascido no Brasil, em Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, em 17 de Fevereiro de 1979, viveu em Luanda, Rio de Janeiro, Estados Unidos (Michigan), Barcelona, Lisboa (2015 a 2021) e vive em Londres desde 2021. O primeiro álbum, A Estética do Rabisco (2006), já o lançou como Momo, nome tirado do livro homónimo do alemão Michael Ende (1929-1995).

Isso ainda no Brasil, onde também viria a gravar Buscador (2008), Serenade of a Sailor (2011), e Cadafalso (2013). Numa passagem por Lisboa (2013-2014), integrou o grupo que gravou o álbum O Clube, com dois brasileiros, Cícero e Wado, e quatro portugueses, Diego Armés, Fred Ferreira, Alexandre Bernardo e Bernardo Barata. Não tardaria a mudar-se para a Lisboa, onde lançou mais dois álbuns a solo, Voá (2017) e I Was Told To Be Quiet (2020), seguidos de um EP que juntou vários singles: Sail Your Boat Into My Sea (2020).

Até que se mudou novamente, desta vez para Londres, em 2021, onde veio a integrar o Total Refreshment Centre, para onde confluem numerosos músicos. O novo álbum, Gira, nasceu já a partir daí e do cruzamento de dois acontecimentos na sua vida pessoal.“O ponto de partida deste disco foi o nascimento da minha filha Leonora”, explica Marcelo. “Quando ela começou a dar os primeiros passos, a gente colocava uma musiquinha e ela dançava. Mas eu colocava os meus discos anteriores e vi que ela não reagia tanto, porque é um repertório de uma música mais lenta, mais contemplativa. Aí, fiquei com vontade de fazer um disco para ela dançar.”

“A minha mãe, que era muito minha amiga, a gente tinha uma relação muito forte, com muita amizade, faleceu uma semana antes da minha filhinha nascer. Eu não consegui ir ao Rio de Janeiro, quando ela ficou doente, porque a minha parceira estava prestes a ter a Leonora.” O luto, de mistura com a alegria pelo nascimento da menina, resultou num disco de alma aberta: “Eu não quis fazer um disco triste, tristonho, porque a minha mãe era uma pessoa muito positiva, muito alegre, muito viva”, diz Marcelo. “Em vez de ir pelo caminho da tristeza, da perda, da falta, resolvi falar na abundância do ser que ela era, de toda a generosidade, alegria e bom humor que a caracterizava. Preferi falar da vida de que falar da morte. O disco é isso.”

O processo de criação de Gira foi diferente dos anteriores: “Ele não surgiu das músicas de voz e violão, como sempre fiz. Neste disco, já que a ideia era fazer o corpo se mexer, comecei a fazer uns ensaios, umas jam sessions, com o Nick [Woodmansey], o baterista que gravou no disco, e na época um outro percussionista que acabou não entrando. Substituí o violão de nylon pela guitarra eléctrica, e a gente começou a criar ondas, grooves e eu fui gravando no telefone. Ia experimentando melodias, levadas, harmonias, e fiquei com uns bons esboços.”

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A capa de Gira>, de Marco Papiro e Juilia Lüscher

O resultado está para o trabalho de MOMO. (ele começou por escrever este nome em minúsculas, passando nos discos mais recentes a maiúsculas rematadas por um ponto) como o célebre Bitches Brew esteve para Miles Davis em 1970: sendo um trabalho experimental e, de certo modo, de ruptura, do acústico para o eléctrico, traz consigo o lastro da herança anterior. Na capa do LP, um pequeno autocolante começa assim: “When Brazil meets London”. E esse acerto num encontro de culturas já lhe valeu 4 estrelas nas revistas MOJO e All About Jazz.

“Este disco privilegia mais a secção rítmica, mas as melodias estão lá, e trabalhei-as depois”, diz Marcelo. “Gravadas a bateria e a percussão, fiz depois esse trabalho em estúdio, fazendo overdubs, adicionando camadas, sopros, e no final é que convidei o meu amigo Wado para fazer com ele as letras.” Foi com Wado que assinou em parceria seis dos dez temas do disco (alguns são de maior duração, acima dos 6 ou 8 minutos): Pára, Rio, Passo de avarandar, Jão, Beija flor e Gira. Três são assinados apenas por Marcelo (My mind, Summer interlude e A walk in the park) e um, Oqueeei, resulta de uma parceria de Marcelo Frota com Angus Fairbairn.

Nas gravações de Gira participaram, com Marcelo Frota (voz, guitarras, sintetizador), Nick Woodmansey (bateria), Magnus Mehta (percussão), Francesca Ter-Berg (violoncelo), Caetano Malta (guitarra, baixo, sintetizadores), Carwyn Ellis (piano), Regis Damasceno (baixo), Mikey Chesnutt (sintetizadores), Angus Fairbairn (saxofone), Phil Madeira (piano), Kika (voz), Giullia Cavallini, Julia Nutter (pássaros) e, como convidados especiais em certos temas, Jessica Lauren (teclas), Rosie Turton (saxofone), Tamar Osborn (saxofone) e Liz Elensky (coros).

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