E dizê-lo cantando a toda a gente
Florbela Espanca, percebo agora, foi uma alma perturbada e instável, perdida em relacionamentos intensos e caóticos, numa busca incessante pelo amor ideal que a idade nos ensina que não existe.
Nos oitos de Dezembro da minha infância, acordava cedo e esperava que a minha mãe me preparasse o farnel. Depois, já de mochila às costas, ficava encostada à porta de ferro vermelha da nossa casa, ainda do lado de dentro, a contar os minutos que faltavam para poder fazer-me ao caminho. Tinha tanto medo de perder o autocarro que saía de casa muito antes do necessário, mas, ainda assim, fazia o caminho todo em passo de corrida. É claro que chegava à Igreja de São Domingos Sávio, local combinado para a partida, muito antes do autocarro e de qualquer uma das outras crianças. Aliás, a minha única companhia durante quase meia hora era o padre Basílio, que morava paredes-meias com a paróquia e que se ria sempre que me via chegar afogueada quase uma hora antes do combinado.
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