PJ detém mais um dos cinco reclusos que fugiram de Vale de Judeus. Tem “extensa carreira criminal”
Homem de 61 anos, referenciado por crimes especialmente violentos, foi detido em Trás-os-Montes. Ainda há três reclusos a monte, todos cidadãos estrangeiros.
A Polícia Judiciária deteve mais um dos cinco reclusos que fugiram da prisão de Vale de Judeus, a 7 de Setembro. Fernando Ribeiro Ferreira, de 61 anos, foi capturado numa casa em Trás-os-Montes depois de “um persistente, complexo e ininterrupto trabalho de investigação e de recolha de informação desta polícia”. O paradeiro do homem já era conhecido das autoridades "há alguns dias". Quando foi encontrado, estava sozinho e ainda tentou fugir, mas sem sucesso.
Fernando Ribeiro Ferreira estava em Vale dos Judeus a cumprir uma pena de 24 anos pelos crimes de tráfico de estupefacientes, associação criminosa, furto, roubo e rapto, num total de 11 condenações. Foi preso pela primeira vez em 1980.
Em conferência de imprensa pelas 11h, Luís Neves, director nacional da PJ, começou por dizer que as operações decorreram “em silêncio”, já que os fugitivos "de tudo fariam para se manter longe dos holofotes". "O trabalho silencioso, no passado, levou-nos à captura de um dos evadidos, em Marrocos", apontou. "Hoje, em Trás-os-Montes, foi um trabalho de filigrana e demorado."
Manuela Santos, directora da Unidade Nacional de Contraterrorismo, relevou que, à partida, Fernando Ribeiro será transferido para a prisão de alta segurança de Monsanto, onde aliás já deverá dormir esta noite. Sobre a operação, disse: "Estivemos a preparar as coisas para que corresse tudo da melhor maneira. Foi e continua a ser um trabalho de grande persistência. Fomos atrás de muitas pistas que não levaram a este desfecho. Este trabalho implica muito sigilo porque a partilha e recolha de alguma informação pode prejudicar o desfecho. Temos de utilizar pinças".
A responsável garantiu ainda que continua o trabalho de cooperação internacional para encontrar os restantes três fugitivos que ainda estão a monte — as autoridades desconhecem se ainda estarão em território português — e também para perceber quem apoiou "materialmente" a fuga de Vale dos Judeus.
Na casa onde o recluso estava foram encontradas várias munições, uma arma com um silenciador, "equipamentos tecnológicos que lhe permitiram comunicar de uma forma que não era detectável" e outros objectos, como walkie talkies e binóculos, alguns utilizados na fuga da prisão, acreditam as autoridades.
"É mais um sinal do elevado grau de preparação, de apoios tecnológicos que estas pessoas têm, sobretudo neste momentos em que têm uma pena pesadíssima de prisão para cumprir", disse Luís Neves. "Os resultados, com trabalho, mais tarde ou mais cedo surgem. Estamos a trabalhar com o mesmo afinco em sede de cooperação internacional para conseguir identificar os evadidos seja quando for. Podemos demorar um mês ou anos até chegar ao resultado que é a recaptura de todos."
Sobre Fábio Loureiro, detido em Marrocos, o director da PJ acrescentou que o português “não se opôs à extradição” e por isso será “uma questão de curto prazo” para que “regresse a território nacional”.
A PJ referiu antes, no comunicado, que a operação policial que capturou Fernando Ribeiro, baptizada Retorno II, contou com a colaboração da Guarda Nacional Republicana para recapturar este cidadão português com “extensa carreira criminal”, referenciado pela prática de crimes especialmente violentos, mas também de “criminalidade altamente organizada, dos quais se destacam os crimes de associação criminosa, homicídio, rapto, roubo à mão armada, tráfico de estupefacientes e detenção de arma proibida”. “Sobre Fernando Ribeiro Ferreira recaía um mandado de detenção internacional emitido pela autoridade judiciária competente, constando de notícia vermelha na Interpol”, diz ainda a PJ.
Três reclusos ainda a monte
Natural da Lousã, Fernando Ribeiro era líder dos “Mosqueteiros”, grupo que, segundo o Notícias de Coimbra, “aterrorizara a região centro” com assaltos com armas de fogo a hipermercados e ourivesarias. Em Julho de 2010, a PJ anunciava que identificara e detivera “seis homens e duas mulheres”, com idades compreendidas entre os 24 e os 58 anos, sendo os “suspeitos membros de um dos grupos mais organizados e violentos que actuavam na zona centro do país”.
Em 2012, segundo o Correio da Manhã, Fernando Ferreira foi condenado a uma pena de 11 anos por ter raptado e torturado um empresário de 31 anos em Agosto de 2009. “Batiam-me todos os dias e apertavam-me os dedos dos pés com um alicate”, disse a vítima em 2010, em entrevista ao mesmo jornal.
A ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, reagiu à detenção de Fernando Ribeiro, dizendo que “este êxito” só foi possível graças ao trabalho “persistente” da PJ e à colaboração com a GNR.
“A captura de mais um evadido de Vale de Judeus deixa-nos com um sentimento de orgulho e confiança nas nossas forças policiais que todos devemos enaltecer. Gostaria também de enaltecer o trabalho conjunto das forças policiais, em particular a colaboração da GNR. Os profissionais que todos os dias trabalham para que tenhamos um país mais seguro merecem a nossa gratidão e reconhecimento”, lê-se numa nota enviada pelo gabinete da ministra.
O grupo de cinco reclusos fugiu da prisão em Alcoentre, Lisboa, a 7 de Setembro deste ano, num sábado. A fuga, premeditada, ocorreu com recurso a ajuda externa de três homens, “através do lançamento de uma escada, que permitiu aos reclusos escalarem o muro e acederem ao exterior”, como explicou a Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais em nota de imprensa enviada às redacções.
Segundo dados do Relatório de Auditoria à Actuação dos Serviços de Vigilância e Segurança, divulgados poucos dias depois pela ministra da Justiça, a fuga terá durado apenas seis minutos. Às 9h55 os três cúmplices entraram no estabelecimento prisional, às 9h57 teve início a “evasão dos reclusos” e às 10h01 estavam os cinco fora da prisão.
Só por volta das 11h dois guardas prisionais deram pela falta dos reclusos. Um deles circulava de viatura no perímetro da cadeia de Vale de Judeus, quando viu uma escada verde. Nos minutos seguintes, toda a corporação foi avisada. Entre a aproximação dos cúmplices e a detecção da fuga pelos guardas decorreram 65 minutos. A Polícia de Segurança Pública (PSP) soube de fuga da prisão quase três horas depois do início da fuga e a Polícia Judiciária (PJ) cinco horas depois.
No início de Outubro, exactamente um mês depois da fuga de Vale dos Judeus, Fábio Fernandes Santos Loureiro foi o primeiro recluso do grupo que fugiu a ser detido, em Tânger, Marrocos. Estão ainda a monte três dos fugitivos, todos cidadãos estrangeiros —Rodolfo Lohrmann (Argentina), Mark Roscaleer (Reino Unido) e Shergili Farjiani (Geórgia).