Acidificação dos oceanos será a 7ª “fronteira planetária” a ser ultrapassada. São nove
Há quinze anos, definiram-se nove “fronteiras planetárias”, limites físicos que a humanidade não deve ultrapassar se quiser permanecer numa “zona segura”. São os sistemas de suporte de vida da Terra.
Com a crescente acidificação dos oceanos, o planeta prepara-se para cruzar "inevitavelmente" um novo limiar de alerta que contribui para afectar a estabilidade da Terra, a sua capacidade de resiliência e a sua habitabilidade, de acordo com um relatório do Instituto Potsdam para a investigação do impacto climático (PIK).
Há quinze anos, os cientistas definiram nove "fronteiras planetárias", limites físicos que a humanidade não deve ultrapassar se quiser permanecer numa "zona segura". Os sistemas de suporte de vida da Terra estão a enfrentar maiores riscos e incertezas do que nunca, com a maioria dos principais limites de segurança já ultrapassados em resultado das intervenções humanas em todo o planeta
Passámos seis de nove limites planetários e há pontos sem retorno. Uma investigação recente publicada no final de 2022 na Science identificou 16 pontos sem retorno que resultam das alterações climáticas, a partir dos quais os sistemas do planeta se vão alterar e haverá consequências para milhões de habitantes da Terra.
Sob o efeito das actividades humanas, seis destes "limites" já foram ultrapassados nos últimos anos e, segundo o novo relatório do Instituto Potsdam para a investigação do impacto climático (PIK) publicado na segunda-feira, um sétimo, a acidificação dos oceanos, está prestes a ocorrer "num futuro próximo".
Os seis limites amplamente ultrapassados dizem respeito às alterações climáticas, à desflorestação, à perda de biodiversidade, à quantidade de produtos químicos sintéticos (incluindo plásticos), à escassez de água doce e ao equilíbrio do ciclo do nitrogénio (insumos agrícolas, ou seja, produtos usados na agricultura).
A situação continua a deteriorar-se, alertaram na segunda-feira os autores do relatório "Exame de Saúde Planetária", uma avaliação da saúde do planeta que será agora actualizada todos os anos.
Acidificação inevitável
No que diz respeito à acidificação, esta está ligada à absorção de dióxido de carbono (CO2) pelos oceanos: enquanto as emissões deste gás com efeito de estufa continuam a aumentar, a água do mar vê o seu pH diminuir e torna-se prejudicial para muitos organismos (corais, conchas, plânctones, etc.) e, em última análise, toda a cadeia alimentar marinha, fenómeno que, por sua vez, também reduz a capacidade de absorção de CO2.
"Mesmo que as emissões sejam reduzidas rapidamente, algum nível de acidificação contínua pode ser inevitável devido ao CO2 já emitido e ao tempo de resposta do sistema oceânico", explicou Boris Sakschewski, um dos principais autores do relatório.
"Portanto, ultrapassar o "limite" de acidificação dos oceanos parece inevitável nos próximos anos", acrescentou este investigador do PIK.
Muito abaixo do limiar de alerta, apenas encontramos o estado da camada de ozono, que tem vindo a recuperar desde a proibição de substâncias nocivas em 1987. Esta recuperação deverá demorar mais algumas décadas, observou o relatório.
Por último, um nono elemento -- a concentração de partículas finas na atmosfera -- está próximo do limiar de alerta, mas apresenta sinais de melhoria graças às medidas tomadas em alguns países para melhorar a qualidade do ar.
Os investigadores alertaram, no entanto, para o risco de deterioração nos países em rápida industrialização. Quanto mais limites são ultrapassados, mais "aumenta o risco de minar permanentemente as funções de suporte de vida da Terra" e de ver desencadeados pontos de ruptura irreversíveis, referiram os investigadores.