Passamos a vida a ouvir que esta é a geração mais bem preparada de sempre. E não será mentira. Ao contrário de muitos de nós, os jovens estudam até mais tarde e têm experiências fora do país. Isso permite-lhes crescer, ser autónomos, tornarem-se bilingues ou trilingues, aprenderem a resolver problemas sozinhos, conhecerem outras realidades... Tudo competências que qualquer empregador deveria valorizar.

Contudo, quando esses jovens regressam, o que as empresas têm para lhes oferecer são migalhas, fracos salários, uma vida estagnada. Não só as empresas, mas quaisquer instituições do Estado. Por exemplo, é lamentável o comportamento dos professores de ensino superior e investigadores, eles próprios precários e com medo da concorrência que vem de fora, fechando as portas e acabando por contribuir também para a estagnação do desenvolvimento do país.

E, os jovens pensam: porquê ficar? Se é para ter dificuldades em encontrar casa, então mais vale ter esse problema nos Países Baixos, onde uma renda é igual à que um senhorio lisboeta pede, mas o salário é o dobro que uma empresa nacional oferece. E não passam frio dentro de casa, como por cá! Depois, tal como os emigrados nas décadas de 60 e 70, suspiram de saudades. Não com saudades da aldeia, mas da praia, do calor, dos amigos, das saídas à noite.

Por que podem os expats e/ou nómadas digitais usufruírem de tudo isso e não eles? Conheço a mãe de um filho que está num país nórdico, muito bem colocado, com um bom ordenado, que se irrita com os franceses sentados nas esplanadas do Príncipe Real, em Lisboa, e com os alemães e americanos que apanham ondas nas praias do Oeste, depois de terem cumprido o seu horário de trabalho à distância. Vida boa. Por que são eles, da mesma idade que o seu filho, a usufruir do sol e não ele?, lamenta-se, zangada e cheia de saudades.

Não me preocupa apenas a saúde mental desta minha amiga e de todos os pais que vêem os seus filhos partirem — repito, miúdos bem formados, licenciados nas nossas escolas, pagos pelos nossos impostos (que as propinas são simbólicas) —, e que culpam os últimos governos (PSD e PS que nada fizeram para que Portugal não fosse o país da UE com mais emigração nos últimos 20 anos). Preocupa-me a demagogia que se cria em torno desta situação (o olharmos para os migrantes com raiva, sejam mais brancos ou mais escuros do que nós); preocupa-me o futuro de um país onde, embora o ano passado tenham nascido mais crianças, poderiam ser mais, já que os bebés de mães portuguesas no estrangeiro equivalem a 20% dos nascidos em Portugal. Preocupa-me o futuro de um país de velhos, velhos, velhos.

É giro dar passes aos miúdos para fazerem um intra-rail quando terminam o secundário; é bom atribuir um prémio salarial a quem ficar no país (o valor é irrisório, quando dividido por um ano de trabalho); mas faltam políticas sérias de habitação, políticas amigas das famílias, hospitais, creches e escolas de qualidade. Falta pensar no futuro do país.

Tudo isto me surgiu enquanto pensava em Margarida II da Dinamarca, que decidiu abdicar, em favor do seu filho Frederik. Pensei: "Olha que bom, deu lugar a Frederik antes que este chegue a uma vetusta idade, como aconteceu com o pobre Carlos de Inglaterra." Estarão outros monarcas preparados para seguirem os passos da dinamarquesa? A cerimónia é neste domingo, daqui a pouco. No Ímpar, damos ainda a conhecer quem é Mary, a primeira australiana a chegar a rainha. E o primeiro na linha de sucessão.

Acreditem! Pensei que faltam mais pessoas assim, como Margarida, generosas, que não estão agarradas ao poder, que não se importam de dar lugar aos novos, porque é deles que dependem para ter um futuro digno quando chegarem a velhos.

Votos de boa semana!