Humanizar o fim de vida já chegou a mais de 50 mil pessoas

Apoiar famílias e pessoas com doença avançada é o objectivo do programa Humaniza da Fundação ”la Caixa” e do BPI, que completa cinco anos e tem mais de 100 profissionais dedicados por todo o país.

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“Procuramos estar junto das pessoas, ajudando a viver e a dar sentido a cada dia.” É assim que Susana Macedo, directora da Equipa de Apoio Psicossocial (EAPS) da Unidade Local de Saúde da Guarda, fala do trabalho desenvolvido desde 2018, no âmbito do programa Humaniza. O projecto nasceu em Espanha há 15 anos, como Programa de Apoio Integral a Pessoas com Doenças Avançadas, e chegou a Portugal há cinco anos através da Fundação ”la Caixa”, em parceria com o Ministério da Saúde.

Esta equipa da Guarda é uma das 11 EAPS do programa Humaniza a funcionar em todo o território nacional, de forma a fornecer a doentes e famílias “apoio psicossocial e espiritual em fim de vida”, começa por explicar Bárbara Gomes, directora científica do Humaniza. O programa apoia ainda cinco equipas domiciliárias de cuidados paliativos, sendo que, ao todo, 107 profissionais integram o projecto, na sua maioria psicólogos e trabalhadores sociais, além de médicos e enfermeiros. A abrangência serve o objectivo de “contribuir para uma maior qualidade nos cuidados a pessoas com doenças avançadas”.

E os resultados estão à vista: em cinco anos, 53.100 pessoas já foram apoiadas pelo programa Humaniza, das quais 23.800 doentes e 29.300 familiares.

“Temos subido o número de pessoas atendidas todos os anos desde 2020, mas pretendemos chegar a mais gente”, revela a directora, que espera ainda “melhorar o apoio prestado em casa e em lares”, por ser “um dos aspectos mais deficitários e complexos dos cuidados paliativos” em Portugal.

Além disso, está prevista a abertura do primeiro espaço Fundação ”la Caixa” no Instituto Português de Oncologia (IPO) no Porto para reforçar o trabalho já feito.

Um apoio inovador

Susana Macedo fala com orgulho do trabalho da EAPS da Guarda: “Já percorremos dezenas de milhares de quilómetros, apoiando doentes e familiares em todos os concelhos do distrito. Desde o início, apoiámos 4.228 pessoas, realizando cerca de 16.930 intervenções assistenciais”.

Além do apoio psicossocial e espiritual aos doentes e respectivas famílias, a EAPS da Guarda também faz acompanhamento do luto, dá apoio às equipas que cuidam destes doentes e pretende agora alargar a intervenção a estruturas residenciais para pessoas idosas (ERPI).

“Trabalhamos em presença nove horas por dia, 365 dias por ano, indo ao encontro daqueles que dela necessitam.”

Fomentar a partilha

Em Beja, é a EAPS da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo que chega a estes doentes e respectivas famílias. Em cinco anos, já apoiou mais de 1500 doentes e 3000 familiares.

Aqui, desde o início do ano que já se trabalha com doentes que vivem em lares, famílias e também funcionários das instituições, um dos grandes objectivos do programa Humaniza.

Guida Ascensão, directora desta EAPS, lembra que “muitas pessoas não sabem ainda o que são cuidados paliativos ou têm uma ideia errada acerca do papel da equipa”, sendo por isso parte do trabalho educar e incentivar a partilha, quer entre doentes e famílias, quer entre profissionais.

“O trabalho é muito, por vezes reveste-se de uma forte intensidade emocional, de muita gratidão às famílias que nos permitem estar na casa delas e viver um momento tão íntimo e difícil da vida delas: a perda de um ente querido. No regresso de algumas visitas, o silêncio reina, cada uma vive e revive o que acabou de acontecer e depois vem a partilha, a reflexão sobre o que foi vivido, o que correu bem o que poderia ter sido diferente.”.

“Máxima qualidade de vida”

Também a EAPS do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) não tem mãos a medir, prestando apoio num dos grandes centros urbanos do país. Criada em 2019, esta equipa já atendeu mais de 5000 doentes e famílias, focando-se numa abordagem interdisciplinar e integrada.

“O principal objectivo é garantir a máxima qualidade de vida e bem-estar, diminuindo o sofrimento da pessoa doente, familiares e/ou seus cuidadores desde o diagnóstico da doença até ao luto”, afirma Alexandra Ramos Cortês, directora da equipa.

“O programa Humaniza possibilitou ampliar o apoio psicossocial e espiritual nos serviços do CHULN aos quais a EAPS presta suporte e o balanço tem sido muito positivo, com grandes benefícios para os doentes, familiares e profissionais”, prossegue.

Os próximos passos passam por “alargar o apoio da EAPS a outras equipas receptoras e estender o apoio à comunidade”, esperando-se no início do próximo ano conseguir implementar o programa em lares de idosos que tenham protocolo com o CHULN.

Até 2022, o valor do investimento no programa Humaniza ascendeu aos 10 milhões de euros em Portugal, totalizando 100 instituições envolvidas, 35 delas de forma directa e mais do dobro de forma indirecta, na sua maioria hospitais e lares.

Satisfeita com os resultados do programa que permite a estas equipas trabalhar diariamente com mais recursos, Bárbara Gomes está certa de que o projecto irá consolidar-se e ajudar ainda mais pessoas: “O programa Humaniza está aqui para ficar e fazer diferença.”

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