Auriol Dongmo perdeu a batalha dos centímetros em Budapeste

Atleta portuguesa fica em quarto na final do lançamento do peso, com a mesma marca da terceira, mas a perder nos segundos melhores arremessos.

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Dongmo ficou a quatro centímetros do bronze Reuters/ALEKSANDRA SZMIGIEL
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Foi por apenas quatro centímetros que Auriol Dongmo não chegou ao pódio na final feminina do lançamento do peso nos Mundiais de atletismo que estão a decorrer em Budapeste. O melhor lançamento da atleta portuguesa, a 19,69m, foi igual ao que deu a medalha de bronze à chinesa Gong Lijao, com a diferença a fazer-se nos segundos melhores arremessos - a chinesa fez 19,67m, Dongmo fez 19,63m.

A portuguesa parecia até ter conseguido recuperar um lugar no pódio no último lançamento, com o engenho a aterrar em cima da linha dos 20 metros, mas o ensaio foi considerado nulo pelos juízes e Dongmo ficou mais uma vez fora do pódio em grandes competições globais - já havia sido quarta nos Jogos de Tóquio em 2021 e quinta nos Mundiais de Eugene em 2022.

Com legítimas expectativas de chegar ao pódio na capital húngara, Dongmo, a única das três portuguesas na final (Jéssica Inchude e Eliana Bandeira não passaram das qualificações), esteve boa parte do concurso nos lugares da frente e apenas o primeiro lugar lhe parecia inacessível – a norte-americana Chase Ealey liderou do primeiro ao último lançamento, terminando o concurso com 20,43m. Depois de uma primeira tentativa modesta a 18,79m, Dongmo saltou para o segundo lugar na segunda ronda com 19,63m.

Depois baixou para terceiro, atrás dos 20,08m da canadiana Sarah Mitton (marca que lhe valeria a prata), e, depois, para quarto, quando Gong Lijao, a supercampeão chinesa, resolveu aparecer no concurso, com 19,69m. Logo a seguir, a portuguesa respondeu com um lançamento de igual valia e recuperava a posição de bronze.

Só que Lijao ainda tinha nos braços um lançamento a 19,67m, mais quatro centímetros que o segundo melhor de Dongmo. E a isto a portuguesa já não conseguiu responder – aquele arremesso final parecia dar conta do recado, mas o seu pé direito terá saído ligeiramente fora da caixa dos lançamentos e foi julgado nulo.

Este quarto lugar, a melhor classificação portuguesa de sempre na disciplina em Mundiais de atletismo, tem um natural sabor a frustração para Dongmo, camaronesa de nascimento que compete por Portugal desde 2020. Ela tem coleccionado títulos e medalhas em grandes competições internacionais, sobretudo em pista coberta - bicampeã europeia em 2021 e 2023 e campeã mundial indoor em 2022, para além de uma medalha de prata nos Europeus ao ar livre em 2022.

"Custa mais porque não é a primeira vez. E agora foi mesmo um resultado igual, não é uma coisa fácil, mas é o que me motiva para continuar a trabalhar para fazer mais", lamentou Dongmo, em declarações à agência Lusa. "Eu vim a pensar que podia fazer mais, mesmo com o objectivo de ir ao pódio. Não funcionou, estou muito triste, não posso esconder. Eu também senti que podia fazer mais, mas agora não há nada a fazer, é olhar para a frente e continuar a trabalhar", reforçou. Sobre o último lançamento, que foi considerado nulo, a portuguesa considera que podia ter chegado para a medalha: "No último lançamento consegui, mas o juiz diz que foi nulo. Eu não senti que tivesse sido, toquei com a perna, mas não senti, não posso fazer nada."

Dongmo foi a última atleta portuguesa em competição em Budapeste. A lançadora era a maior (única) esperança de uma posição de pódio, mas o seu quarto lugar significa que Portugal fica sem medalhas pela primeira vez desde 2011, em Daegu – é a sexta vez, em 19 edições, que Portugal não tem posições de pódio em Mundiais de atletismo.

O penúltimo dia dos Mundiais de Budapeste teve muitos vencedores esperados. Na final masculina do salto com vara, Armand “Mondo” Duplantis ganhou o ouro com um salto normal (para os seus padrões) a 6,10m e, com o título no bolso, tentou um recorde do mundo a 6,23m – não pareceu longe, mas não chegou lá. Atrás do sueco, o filipino Ernest Obiena ficou com a prata, passando a fasquia dos seis metros, enquanto o australiano Kurtis Marschall ficou com o bronze (5,95m).

Nos 800m masculinos, foi o gigante canadiano Marco Arop (1,93m) a vencer, ele que havia sido bronze nos Mundiais de Eugene em 2022. Nos 5000m femininos, a queniana Faith Kipyegon dobrou o seu ouro em Budapeste (já tinha vencido em 1500m), batendo na aceleração final a neerlandesa Stifa Hassan. O decatlo masculino teve um campeão inédito, o canadiano Pierce LaPage (8909 pontos), tal como a maratona feminina, a etíope Amane Beriso. Já nas estafetas de 4x100m, não houve qualquer surpresa. Vitória dos EUA nas duas.

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