Arbitragem portuguesa quer tirar obstáculos às mulheres

A quota feminina de acesso aos campeonatos nacionais masculinos é uma das medidas que pretendem retirar obstáculos às mulheres na arbitragem.

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Sandra Bastos, uma das mais conceituadas árbitras portuguesas Rene Nijhuis/BSR Agency/Getty Images
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A arbitragem portuguesa quer mais e melhores árbitras no futebol nacional. Numa frase, foi isto que saiu do mais recente Fórum de Arbitragem, em Viana do Castelo, que vai retirar alguns obstáculos no acesso das mulheres aos campeonatos nacionais.

O PÚBLICO sabe que foram aprovadas duas medidas-chave: quota de uma mulher no estágio de acesso aos campeonatos nacionais masculinos e menos exigência de antiguidade às que querem aceder aos nacionais femininos.

A primeira medida pretende criar condições para que as mulheres cheguem às provas nacionais masculinas e que não se limitem à competição pelo acesso ao sector feminino. E vai acontecer de forma simples.

Cada associação distrital vai poder indicar uma árbitra ao curso de formação avançada (acesso à categoria C4 Core, a última categoria de provas nacionais), além dos três árbitros que já pode indicar (dois por via “normal” de desempenho distrital e um por via do programa Core distrital, criado para detecção de jovens talentos).

Em suma, isto não garante a uma árbitra o acesso à categoria nacional, mas dá-lhe a possibilidade de entrar no curso de acesso a esse grupo restrito que apitará nas provas nacionais masculinas – escalões de formação e, mais à frente, Campeonato de Portugal, Liga Revelação, Liga 3 e provas profissionais.

Patamar adicional

A quota vai permitir que árbitras do escalão distrital mais alto tenham um acesso facilitado, já que não precisarão de competir nas duas vagas gerais. E terá ainda uma dimensão adicional bastante provável em várias associações: caso haja apenas uma representante feminina nessa categoria distrital, cenário que não é incomum, a árbitra vai concorrer sozinha e terá, por extensão, presença garantida no curso de acesso à categoria C4 Core.

Sobre esta categoria importa explicar que também ela é uma novidade. A criação da categoria C4 Core, que vai estar entre a categoria C5 (mais alta distrital) e a categoria C4 (até aqui a mais baixa nacional), será destinada aos árbitros que sobem aos nacionais.

O plano será incluir mais um “filtro” aos juízes, que quando saem dos campeonatos distritais apitarão camadas jovens nacionais antes de serem lançados ao Campeonato de Portugal.

Em suma, um árbitro/a que suba aos campeonatos nacionais precisaria, no mínimo, de três anos para chegar à I Liga, mas passa agora a demorar pelo menos quatro.

Menos anos de actividade

A segunda medida aprovada não tem impacto imediato tão grande, mas terá, a médio prazo, alguma relevância.

A subida de árbitra distrital para as categorias nacionais femininas vai requerer apenas dois anos de actividade e não quatro, como até aqui.

Isto significa que haverá mais árbitras habilitadas a concorrerem aos nacionais, adensando a competição – ou, por outras palavras, reduzindo as associações em que árbitras sobem aos nacionais com pouca ou nenhuma concorrência.

Num cenário idílico, esta medida vai permitir que uma jovem árbitra especialmente talentosa não tenha de esperar quatro anos para subir aos nacionais. Mas, num cenário menos bom, permitirá que uma juíza pouco experiente consiga esse acesso, podendo vir a mostrar-se impreparada.

O tempo dirá qual das dimensões terá mais peso.

Agora com classificação

Mas nem tudo serão facilidades ou sequer a continuação de carreiras com menos obstáculos. Em 2023/24 haverá uma novidade com o lançamento de uma classificação para as árbitras assistentes que actuam na Liga BPI.

Até aqui houve uma aposta na construção de um quadro de árbitras assistentes, com uma actividade desprovida de avaliação individual e, portanto, sem subidas e descidas de categoria.

A partir da próxima temporada haverá, por outro lado, um perfil competitivo de avaliação de desempenho.

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