Universidade do Porto revela manuscrito inédito de Abel Salazar “na casa dos mortos”

Exposição Todo o Abel Salazar na Casa Comum da Reitoria reconstitui a vida do cientista, do intelectual e do artista, até 17 de Fevereiro de 2023.

PP - 19 NOVEMBRO 2022 - PORTO - REITORIA  EXPOSICAI SOBRE ABEL SALAZAR
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Exposição Todo o Abel Salazar está patente na Casa Comum da UP até 17 de Fevereiro de 2023 Paulo Pimenta
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A dimensão de Abel Salazar artista está profusamente documentada na exposição Paulo Pimenta
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Um dos espaços da Casa Comum reconstitui uma exposição histórica de Abel Salazar no Salão Silva Porto Paulo Pimenta
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Exposição Todo o Abel Salazar está patente na Casa Comum da UP Paulo Pimenta
PP - 20 NOVEMBRO 2022 - PRTO - LOJAS FECHADAS NA BAIXA DO PORTO RUA 31 JANEIRO
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Exposição ilustra as várias vertentes da obra de Abel Salazar Paulo Pimenta
PP - 19 NOVEMBRO 2022 - PORTO - REITORIA  EXPOSICAI SOBRE ABEL SALAZAR
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A vida e obra de Abel Salazar revista pela Universidade do Porto Paulo Pimenta
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O artista também cultivou a caricatura Paulo Pimenta
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Exposição de Abel Salazar no Salão Silva Porto DR
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Abel Salazar (1889-1946) é uma figura incontornável na história da ciência e da arte da primeira metade do século XX português. A sua vida e obra estão a ser revisitadas pela Universidade do Porto com a exposição Todo o Abel Salazar que, desde o passado dia 14 e até 17 de Fevereiro de 2023, pode ser visitada na Casa Comum da Reitoria. Mas o acontecimento desta nova homenagem ao artista e cientista é a edição do manuscrito inédito que ele escreveu na viragem das décadas de 1920-30, quando esteve internado na Casa de Saúde de São João de Deus, em Barcelos.

Com o título Testamento de um Morto Vivo Sepulto na Casa dos Mortos, em Barcelos, esta edição da U.Porto Press e da Casa-Museu Abel Salazar vem revelar um dos momentos mais difíceis da vida do médico e professor, aqui descrito com particular realismo e crueza.

O estudo e tratamento deste manuscrito deve-se a Teresa Cabral, psiquiatra, que, quando prestava serviço de voluntariado na Casa-Museu Abel Salazar, em São Mamede Infesta, foi alertada para a existência deste documento inédito do cientista. “O texto, que não é muito extenso, não está datado, mas, depois de pesquisar o contexto em que ele o escreveu, percebi que o fez quando estava na fase final do seu internamento em Barcelos”, disse Teresa Cabral ao PÚBLICO, quando da inauguração da exposição e do lançamento do livro.

Abel Salazar padeceu, de facto, de uma então designada “doença melancólica” – uma “depressão maior”, diz-se hoje, explica a psiquiatra –, que o levou a um primeiro internamento, em 1926, na Casa de Saúde de S. Francisco, no Porto, e que o próprio descreveu numa carta enviada nesse ano ao seu amigo Celestino da Costa, histologista e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa: “(…) Uma doença maldita e horrível obriga-me há sete meses a andar para trás e para diante fechado num quarto. Imagine o meu horror. O meu sofrimento não tem descrição possível; passar duma actividade frenética à absoluta inactividade, a um boneco, é o cúmulo do horror”.

Em Novembro de 1928, Abel Salazar dá entrada, em Barcelos, na recém-inaugurada Casa de Saúde de São João de Deus, onde ficará internado até ao final de Março de 1931.

Teresa Cabral, que faz acompanhar a edição de Testamento de um Morto Vivo Sepulto na Casa dos Mortos, em Barcelos com um prefácio onde contextualiza a sua gestação, acredita que o texto terá sido escrito “quando Abel Salazar percebeu que a sua doença teria passado a crónica, e que o tratamento já não teria utilidade”, por isso, já muito próximo do seu regresso à vida real.

Além da edição fac-similada do manuscrito, e do gráfico com que, no final, o autor descreve a evolução e a duração da sua doença, o novo livro tem também a reprodução da folha onde Abel Salazar desenha aquele que terá certamente sido o seu quarto no centro de saúde mental de Barcelos e escreve o poema O Túmulo. “Neste mundo gelado/ Onde paira a triste Morte,/ Se afundou, martirizado,/ Tolo Destino sem sorte!”, assim começa o poema, que, oito estrofes depois, desagua numa “Noite cruenta, (…) Prefácio de Eternidade!”

A reprodução deste poema numa das paredes da Casa Comum é uma das mais de uma centena de peças que poderão ser agora vistas na exposição da UP, e que em três salas revisita a vida do artista, do professor (que em 1935, por determinação legislativa de outo Salazar, o ditador do Estado Novo, seria expulso da sua cátedra e do seu laboratório na UP) e do cientista (cuja relevante carreira viria a mobilizar, em 1976, a criação do ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar).

Do artista, além de uma profusão de obras nas diferentes técnicas que Salazar cultivou – desenho, aguarela, óleo, cobre martelado… –, a terceira sala da Casa Comum faz a reconstituição aproximada do que foram as exposições que ele realizou, em 1938 e em 1940, no Salão Silva Porto, que à época era o principal espaço de divulgação de arte na cidade.

Notícia corrigida: Celestino Costa foi professor da Faculdade de Medicina de Lisboa e não do Porto.

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