O que há de novo no tratamento do tumor cerebral?

No caso dos tumores mais agressivos, a cirurgia não cura, mas permite, com a remoção da massa tumoral, que os tratamentos complementares de radioterapia e quimioterapia tenham maior eficácia. Nesta terça-feira assinala-se o Dia Mundial do Tumor Cerebral.

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Manuel Roberto

Os tumores cerebrais, apesar de raros, existem e podem afectar qualquer pessoa. Não havendo muitos factores de risco conhecidos, torna-se necessário fazer um diagnóstico atempado de forma a que possam ser diagnosticados numa fase ainda precoce.

O aparecimento de dores de cabeça, a modificação das características das dores de cabeça habituais ou o aparecimento conjunto de vómitos, devem levar a uma avaliação médica. Além das dores de cabeça, são também frequentes o aparecimento de défices neurológicos, ou seja, o aparecimento de dificuldades na mobilização dos membros ou na linguagem. O surgimento de crises epilépticas pode também ser um sintoma associado ao desenvolvimento dos tumores cerebrais, embora esteja associado mais frequentemente a tumores com menor agressividade. Outro sintoma que pode surgir, e que devemos estar atentos, é a alteração do comportamento, que em muitas circunstâncias é apenas muito subtil, mas que um familiar mais atento não deixa passar despercebido.

O diagnóstico é feito através de exames de imagem com a tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM), que devem ser realizadas em todos os doentes que apresentem os sintomas descritos. Demorar na realização destes exames só vai atrasar o diagnóstico e os tratamentos que se seguirão.

É importante que o diagnóstico e tratamento do tumor cerebral seja realizado por equipas clínicas diferenciadas e com experiência no tratamento desta patologia. Hoje em dia dispomos de algumas armas terapêuticas que melhoram a sobrevivência dos doentes com tumores cerebrais.

No caso dos tumores benignos e nalguns tumores com muito baixa agressividade, a cirurgia com remoção completa do tumor é curativa, não havendo necessidade de qualquer outro tratamento complementar. No caso dos tumores mais agressivos, a cirurgia não cura, mas permite, com a remoção da massa tumoral, que os tratamentos complementares de radioterapia e quimioterapia tenham maior eficácia. Daí que, sempre que possível, se deve proceder à remoção completa do tumor, embora saibamos que remoções superiores a 75% já podem ter um elevado benefício oncológico.

Actualmente, com a evolução da tecnologia e técnicas cirúrgicas, as cirurgias são realizadas de uma forma muito mais segura e eficaz, diminuindo o risco e as complicações operatórias e aumentando o grau de remoção cirúrgica. Falamos, por exemplo, da utilização de ferramentas como ecografia intra-operatória ou a neuronavegação, semelhante a um GPS que guia o cirurgião pelo cérebro aumentando a precisão e a segurança da cirurgia.

É também possível realizar cirurgia com o doente acordado para realizar o mapeamento das funções cerebrais e a sua estimulação, garantindo uma maior segurança na remoção do tumor. Outra técnica relevante é a fluorescência intra-operatória, que identifica as células tumorais e torna-as visíveis com o recurso a microscópios com lentes especiais, permitindo aumentar as taxas de remoção completa dos tumores.

Estas técnicas existem já em alguns hospitais privados, como é o caso do Hospital CUF Porto, e requerem equipas multidisciplinares especializadas e com treino específico, uma vez que estamos perante uma doença com elevada complexidade e cujo tratamento deve ser particularizado a cada doente.

Existem tratamentos inovadores para os tumores cerebrais malignos? A utilização de marcadores genéticos tem permitido que nos casos de algumas recidivas se possa adequar o tratamento de quimioterapia às alterações encontradas. Para isso é feita a sequenciação genética do tumor e identificadas mutações que serão os alvos dos tratamentos dirigidos. Nalguns tumores pequenos e profundos, cuja remoção cirúrgica não é possível, pode ser feita a destruição por LASER guiada por ressonância magnética. A termoterapia pode ser uma opção, embora os seus resultados ainda sejam muito variáveis.

Além dos avanços nos tratamentos e do acompanhamento por uma equipa médica especializada e motivada, a integração do doente e da família no tratamento é fundamental. Uma família participativa e interessada, que questiona o médico e que promove o bem-estar do doente, contribui muito para a melhoria da sua qualidade de vida.

A prevenção e o diagnóstico precoce de muitas doenças são fundamentais para o um tratamento mais eficaz, pelo que não deve haver receio em procurar o médico sempre que algum sintoma surja. Manter um estilo de vida saudável, associado a uma vigilância médica apertada, contribui para aumentar o bem-estar e prevenir o aparecimento de situações inesperadas.

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