Covid-19: somos todos SNS
Todos os portugueses, incluindo as diferentes forças vivas da sociedade, devem entender que este é o momento de nos unirmos aos profissionais de saúde e de valorizar o SNS, deixando a litigância política e social para a fase pós-pandémica.
A covid-19 foi e é um enorme desafio para qualquer sistema de saúde. É um desafio à escala regional, à escala nacional, e mesmo para a União Europeia, porque se trata de um problema global que necessita de respostas articuladas no plano internacional. Talvez por isso, no discurso do Estado da União, a presidente da Comissão Europeia tenha sugerido a criação de uma União Europeia da Saúde com o objetivo de aumentar a capacidade de resposta a novas crises globais.
A pandemia pelo coronavírus demonstrou também a robustez do Serviço Nacional de Saúde para fazer face a esta terrível catástrofe. De facto, os países com sistemas públicos e universais de proteção da saúde, bem geridos e organizados, foram também aqueles que tiveram melhor nível de desempenho, ao minimizar os efeitos deletérios da pandemia. Não obstante, mesmo nos países mais desenvolvidos existiram sempre carências, dado que a imprevisibilidade da pandemia, e a falta de evidência científica rigorosa sobre o controlo epidemiológico do coronavírus, sobre os melhores métodos de tratamento, e mesmo sobre a eficácia das múltiplas vacinas, fazem com que seja difícil planear adequadamente as atividades da saúde. Ainda assim, o SNS mostrou uma enorme capacidade de resiliência, sendo de louvar o extraordinário empenho de médicos, enfermeiros e de outros profissionais de saúde.
Mas, um planeamento adequado da atividade do SNS deve ter em linha de conta as assinaláveis diferenças regionais existentes no nosso território nacional. Importa olhar para as diferentes regiões administrativas do país com a necessária acuidade de modo a perceber as diferenças socioeconómicas, geográficas, e mesmo a nível dos padrões de saúde e de doença. Pode questionar-se, por exemplo, porque é que o interior do distrito do Porto tem sido tão fustigado pela covid-19. Sendo nesta área geográfica do país que se encontra o foco inicial da pandemia, quer na primeira, quer na segunda vaga.
Ou seja, é necessário um adequado planeamento no plano dos recursos humanos, mas também dos equipamentos da saúde. Ouvindo aqueles que estão mais próximos dos cidadãos – nomeadamente os autarcas – pode-se perceber melhor quais as reais carências da população, sobretudo nos territórios de baixa densidade, no interior do país, ou nas zonas de maior densidade populacional, mas com problemas estruturais de outra natureza. Por maioria de razão, sabendo-se que existe, ainda hoje, uma distribuição assimétrica de médicos e outros profissionais de saúde, importa planear a longo prazo, sobretudo tendo em atenção a realidade demográfica dos profissionais de saúde.
Assim, seria importante para efeito de controlar a pandemia, mas, também, de planear adequadamente as atividades do SNS a nível territorial, proceder a uma avaliação detalhada das múltiplas variáveis regionais que permitem diferenciar o território nacional, sendo que a participação ativa dos diferentes agentes da sociedade é essencial para alcançar este objetivo. Esta “integração descentralizada” da saúde seria um importante contributo para um Serviço Nacional de Saúde ainda mais robusto e mais resiliente.
Assim, dada a importância fundamental do SNS quer na proteção da saúde dos Portugueses, quer na resposta a esta terrível pandemia, sugiro uma união de todos nós em torno do Serviço Nacional de Saúde.
Todos os portugueses, incluindo as diferentes forças vivas da sociedade, devem entender que este é o momento de nos unirmos aos profissionais de saúde e de valorizar o SNS, deixando a litigância política e social para a fase pós-pandémica. “Somos todos SNS” deve passar a ser o lema dos Portugueses nos próximos meses se queremos ultrapassar esta segunda vaga da pandemia com firmeza e sem sobressaltos.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico