Nas nossas mãos

A humanidade deveria dedicar-se a tornar deliciosa e irrecusável a experiência de lavar as mãos (e a cara, já agora).

As loções desinfectantes estão esgotadas mas as conclusões a tirar não são, quanto a mim, as correctas.

Lavar bem as mãos (e a cara, já agora) é muito mais eficaz do que esfregar as mãos com um gel de álcool mas as pessoas preferem os géis porque a verdade é que não gostam de lavar as mãos.

Poder-se-ia aproveitar esta oportunidade para tentar arranjar uma maneira de tornar a lavagem das mãos numa experiência aprazível e desejável - duma vez por todas.

Porque é que as pessoas não gostam de lavar as mãos? Porque leva tempo: os lavatórios ficam mais ou menos fora de mão. Porque é ligeiramente repugnante: os lavatórios ficam perto das sanitas e, para além dos cheiros e dos resíduos, desconfia-se que não estejam impecáveis.

Tem-se nojo da louça do lavatório e das torneiras porque temos nojo das outras pessoas - e fazemos muito bem em ter, para nos protegermos.

Para além disso, os lavatórios não têm água quente e as toalhas são de papel e não têm nada de luxuoso.

Deveriam ter. Os lavatórios deveriam ser como jacuzzis – embora os jacuzzis também sejam nojentos, fazendo pensar em viveiros de bicharadas invisíveis.

Lavar as mãos deveria ser um luxo, como aquelas toalhas quentes nos restaurantes japoneses ou como nas casas de banho dos melhores hotéis.

A humanidade deveria dedicar-se a tornar deliciosa e irrecusável a experiência de lavar as mãos (e a cara, já agora).

Mesmo que levasse trinta anos a cinquenta milhões de designers, microbiólogos, engenheiros, economistas, arquitectos e psicólogos, valeria a pena.

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