Rui Rio na hora da verdade
Neste seu segundo fôlego, Rio tem direito ao benefício da dúvida. Deixem-no, pois, trabalhar e mostrar que pode corrigir as suas terríveis debilidades e exercer as suas indiscutíveis qualidades.
Luís Montenegro perdeu o combate pela liderança do PSD não agora, mas há um ano, quando decidiu desafiar Rui Rio num acto de puro apetite pelo poder. Se, apesar desse passo em falso, foi ainda capaz de conquistar o apoio de 47% dos militantes do partido, é apenas porque Rui Rio foi até agora um líder frágil, sem chama nem capacidade para restaurar o velho músculo de um partido que sempre baseou a sua força na capacidade de congregar diferentes sectores da sociedade portuguesa. Após as eleições directas deste sábado, Luís Montenegro não está morto politicamente, mas ficou severamente fragilizado; e Rui Rio está vivo, mas vai ter um enorme desafio para se assumir como alternativa a António Costa.
O PSD vinha de um limbo e continua num limbo. Só uma rápida erosão do Governo e da imagem do primeiro-ministro poderão colocá-lo no lugar que lhe compete. Como Rui Rio diz, um partido tanto serve o interesse nacional no poder como na oposição. E o país precisa de oposição. Uma oposição responsável, como o reiterado líder apregoa, mas uma oposição credível. Ser o rosto de um PSD conflituoso, intransigente, fechado sobre dogmas travestidos de princípios não basta para essa missão. Rui Rio tem a seu favor a aura de um líder que diz o que pensa, que não cede a lobbies, que não sacrifica valores a interesses, que recusa o politicamente correcto, mas essa qualidade dilui-se vezes de mais na sua teimosa e obstinada intransigência. A abertura ao debate, à crítica, à divergência ou a vontade de congregar, de reunir e estabelecer compromissos são qualidades que lhe escapam.
Com os despojos das facções activas do PSD novamente derrotados, Rui Rio tem todo o direito de reclamar paz para mostrar o que vale. E os seus críticos têm igualmente o direito de questionar as suas escolhas e a sua liderança, mas com lealdade e frontalidade que raramente exibiram. O destino do principal partido da oposição tanto depende do que Rui Rio vier a fazer, como do empenho dos dissidentes em deixar que ele exerça sem restrições o mandato que os militantes lhe conferiram. É neste equilíbrio que o partido prepara o seu futuro. O PSD precisa de um líder forte e seguro, mas precisa ao mesmo tempo de um estadista cosmopolita, confiante e capaz de conceber o debate, a dissidência e a liberdade de expressão como valores cruciais. Neste seu segundo fôlego, Rio tem direito ao benefício da dúvida. Deixem-no, pois, trabalhar e mostrar que pode corrigir as suas terríveis debilidades e exercer as suas indiscutíveis qualidades.