É verdade que o rendimento nunca cresceu em Portugal como agora?
Mário Centeno fala de sequência inédita de crescimento do rendimento per capita de mais de 4% desde 2015
A frase
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A frase
“O rendimento per capita português cresceu mais do que 4%, ano a ano, desde 2015. Nunca esta sequência de crescimentos anuais se tinha verificado em Portugal” Mário Centeno, em entrevista à Lusa
O contexto
Os jornalistas da Lusa questionaram o ministro das Finanças sobre se era possível falar de “uma revolução” na economia, se as taxas de crescimento do PIB continuavam a ser relativamente moderadas em comparação com as registadas no passado e Mário Centeno defendeu os resultados dos últimos anos, utilizando um indicador poucas vezes usado no discurso político: o rendimento per capita português.
Em vez do habitual crescimento real do PIB, o ministro recorreu aos dados mais recentes apresentados pelo INE – que a seguir a uma actualização de base revelaram uma revisão em alta do crescimento da economia em 2016, 2017 e 2018 – e utilizou como métrica o rendimento nacional bruto (RNB), em termos nominais e levando em conta a dimensão da população.
A diferença entre o mais habitual PIB e o RNB é que, enquanto o primeiro mede a riqueza obtida dentro do território português (quer por residentes, quer por não residentes), o segundo se concentra nos resultados registados (em Portugal ou no estrangeiro) pelos agentes que vivem efectivamente em Portugal.
O facto de usar o crescimento deste indicador per capita faz também com que se leve em conta a evolução da população portuguesa, que tem vindo a diminuir, procurando desta forma medir o rendimento médio de cada residente em Portugal.
No actual cenário de diminuição da população, é mais difícil a economia crescer rapidamente. O indicador usado por Centeno leva isso em consideração, enquanto o crescimento real do PIB não.
Os factos
Desde 2015 até agora, como afirma o ministro, o RNB por residente em Portugal cresceu sempre mais do que 4%. Os novos números do INE revelam uma variação deste indicador de 4,4% em 2016, 5,3% em 2017 e 4,4% em 2018. E na série divulgada pelo INE esta semana, que apenas recua até 1999 não é possível encontrar outro período de três anos em que tal tenha acontecido.
No entanto, usando séries anteriores à entrada de Portugal no euro, rapidamente se encontram períodos de tempo iguais e superiores a três anos, em que o crescimento do rendimento per capita supera os 4% em todos os anos. Logo no final dos anos 90, entre 1995 e 1999, registaram-se quatro anos consecutivos de crescimento deste indicador acima de 5%. Este foi um período de forte crescimento económico e de inflação mais alta do que agora para Portugal.
Em resumo
Utilizando este indicador, que leva em conta o efeito negativo para a economia provocado pela diminuição da população, os últimos anos revelaram realmente desempenho inédito da economia portuguesa no período pós-euro. O ministro exagerou, quando disse que “nunca” tal tinha acontecido na economia portuguesa.
Sim, Talvez, Não
O ministro está correcto quando afirma que “o rendimento per capita português cresceu mais do que 4%, ano a ano, desde 2015”. Mas quando diz que “nunca esta sequência de crescimentos anuais se tinha verificado em Portugal”, parece estar a utilizar apenas a série mais recente do INE, que apenas inclui o período desde a entrada de Portugal no euro.