Tesouro do galeão San José ainda está no fundo do mar mas já se faz uma ideia do que terá para mostrar
Investigação aos destroços da nau espanhola afundada em 1708 no Mar do Caribe mostra que 90 por cento da carga original se encontra a 600 metros de profundidade. Governo da Colômbia terá agora de decidir quem vai explorar o tesouro.
Passados quase quatro anos desde a sua descoberta, o galeão espanhol San José, afundado pela armada inglesa em 1708 na sequência de uma batalha na costa da Colômbia, continua ainda no fundo do oceano, por explorar e recuperar. Mas há já uma ideia do que estará “enterrado” a 600 metros de profundidade por entre os destroços da nau, e parece confirmar que se trata, de facto, de um dos maiores tesouros subaquáticos do mundo – que especialistas avaliaram já em milhares de milhões de euros.
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Passados quase quatro anos desde a sua descoberta, o galeão espanhol San José, afundado pela armada inglesa em 1708 na sequência de uma batalha na costa da Colômbia, continua ainda no fundo do oceano, por explorar e recuperar. Mas há já uma ideia do que estará “enterrado” a 600 metros de profundidade por entre os destroços da nau, e parece confirmar que se trata, de facto, de um dos maiores tesouros subaquáticos do mundo – que especialistas avaliaram já em milhares de milhões de euros.
Segundo um relatório da empresa anglo-suíça Maritime Archaeology Consultants (MAC), à qual o Governo da Colômbia encomendou a avaliação do tesouro e do seu estado, o fundo do Mar do Caribe guarda, numa área superior a mil metros quadrados, 600 metros cúbicos de peças de grande valor. Entre elas estão 22 canhões de bronze da Real Fábrica de Sevilha – uma chancela que permitiu confirmar tratar-se da San José –, uma âncora, centenas de botijas, cântaros, jarras e outras peças de cerâmica; lingotes, barras e moedas de ouro, além de ouro em pó, e ainda um número incontável de moedas de prata, ao lado de garrafas de fabrico holandês e de taças de porcelana chinesa, de contrabando, do tempo do imperador Kangxi (1654-1722)... A descrição é do jornal espanhol El País, que teve acesso ao relatório entregue pela MAC ao Governo colombiano.
Recorrendo a dois sofisticados robôs submarinos (Remotely Operated Vehicules) que registaram mais de sete mil imagens, esta empresa de capitais ingleses mas com sede na Suíça descobriu que, na sequência da explosão que ditou o seu posterior afundamento, a nau San José ficou fragmentada em várias partes, e a sua carga dispersa por uma área de 1.074 metros. “Em consequência do peso e da velocidade do afundamento, o casco perfurou o fundo do mar, já que 96,2 por cento é formado por lodo”, refere o relatório da MAC. Mas mantém-se preservada 90 por cento da carga, dois terços dela acima do leito lodoso do oceano.
Caberá agora ao Presidente Iván Duque Márquez determinar se vai atribuir à empresa anglo-suíça a exploração efectiva do tesouro – o que lhe valerá ficar com 50% dos achados –, ou se será o Governo colombiano a recuperá-lo, por sua conta. A ser assim, e como obriga o contrato assinado em 2015 pelo então Presidente Juan Manuel Santos, a Colômbia ficará obrigada a pagar à MAC uma indemnização no valor de sete milhões de euros.
O El País avança também que o Governo espanhol já se ofereceu, entretanto, para ajudar as autoridades colombianas na recolha do galeão, com o objectivo de “honrar o cemitério dos marinheiros espanhóis” mortos na Batalha de Baru. Recorde-se que em 2015, após o anúncio da descoberta do galeão San José, e invocando a convenção da UNESCO sobre a Protecção do Património Cultural Subaquático, o Governo espanhol começou por reivindicar “a titularidade do Estado cuja bandeira estava no pavilhão” do navio. Na mesma altura, também a empresa norte-americana Sea Search Armada (SSA) e o Instituto Oceanográfico Woods Hole, do mesmo país, reivindicaram os seus direitos sobre o tesouro, que teriam identificado em explorações anteriores.
O galeão San José foi afundado no dia 8 de Junho de 1708 pelo navio inglês Expedition, comandado por Charles Wagner, que assim impediu que o carregamento de ouro, prata, pedras preciosas, especiarias e outros produtos “exóticos” carregados no Panamá viessem ajudar a financiar a Guerra de Sucessão espanhola (1701-1704), na sequência da morte de Carlos II. A nau transportava 600 viajantes, entre militares e civis, e do naufrágio terão sobrevivido apenas uma dezena.