A ignóbil farsa do SIRESP
Nacionalize-se, compre-se e revenda-se, destrua-se e faça-se de novo, seja o que for. Para o país, tudo é melhor do que a perpetuação da ignóbil farsa do SIRESP.
O SIRESP tornou-se há muito o emblema da fraqueza do Estado pintado com contratos “opacos” (quem o diz é o Tribunal de Contas), custos elevados e prestação de serviços da era da ferrugem na era das telecomunicações digitais. Já todos sabíamos dessa vergonha que envolve políticos transumantes entre o público e o privado, incompetência e muita bravata inconsequente.
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O SIRESP tornou-se há muito o emblema da fraqueza do Estado pintado com contratos “opacos” (quem o diz é o Tribunal de Contas), custos elevados e prestação de serviços da era da ferrugem na era das telecomunicações digitais. Já todos sabíamos dessa vergonha que envolve políticos transumantes entre o público e o privado, incompetência e muita bravata inconsequente.
O que não tínhamos visto ainda era os gestores de uma empresa que presta um serviço de emergência arrogar-se ao direito de ameaçar com o desligamento do serviço que presta na época dos incêndios se o Estado não lhe pagar 11 milhões de euros em dívida. Não bastavam as desgraças de algumas parcerias público-privadas, não chegava Joe Berardo ter ido ao Parlamento para nos insultar: faltava o SIRESP vir a público ameaçar pôr as nossas vidas em perigo só para encostar o Estado à parede.
Perante uma ameaça desta dimensão, seria de esperar não apenas uma crítica em uníssono de todos os partidos, mas também uma diligência do sistema judicial que tem por dever a defesa dos cidadãos perante ameaças de chantagem. O que vimos e ouvimos, porém, não foi para lá de palavras de apaziguamento ou de promessas de serviços mínimos ou da nacionalização do nefando SIRESP.
Como explicar esta tibieza a roçar a cobardia? Basta recordar toda a história do SIRESP, os contratos, os fracassos, os 463 milhões de euros desbaratados no “sistema”, a impunidade ou os actos, omissões e promessas falhadas deste Governo para pôr o processo na ordem.
Tudo isto, e muito mais, é a prova de que essa suposta rede de comunicações de emergência não passou de uma negociata que capturou o interesse público numa teia obscura de poderes. Quando uma empresa admite pôr em causa vidas de cidadãos, não estamos perante uma tomada de posição firme perante divergências negociais: estamos perante um poder que se julga acima da lei, acima do Estado, acima de todos nós.
Falta pouco para que o pesadelo acabe — lá para 2021. Mas, por uma questão de decência pública, perante o abuso de uma entidade à qual o Estado prometeu dar 11 milhões para que faça o serviço a que se comprometeu, face a um contrato escandaloso que só criaria penalizações por falhas de serviço se o caos se instalasse, é urgente acabar de vez com a incompetência, abuso e fanfarronice do SIRESP. Nacionalize-se, compre-se e revenda-se, destrua-se e faça-se de novo, seja o que for. Para o país, tudo é melhor do que a perpetuação desta ignóbil farsa.