Familiares de vítimas dos incêndios processam autoridades
Um homem e uma mulher morreram ao tentar fugir das chamas e os seus familiares queixam-se de nunca terem recebido instruções sobre como escapar.
Familiares de uma mulher e de um homem mortos nos incêndios que deflagraram na semana passada nos arredores de Atenas decidiram processar o Estado helénico, os bombeiros e a polícia, disse uma fonte judicial esta quarta-feira.
As autoridades podem agora ser acusadas de homicídio involuntário, ofensas corporais e fogo posto na “catástrofe bíblica” de Julho, como classificou o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras.
As duas vítimas estavam a tentar fugir quando foram apanhadas pelas chamas, tendo os seus corpos sido encontrados a 400 metros das respectivas casas. Os familiares dizem que em nenhuma altura, antes ou depois do fogo, houve indicações por parte das autoridades em relação a rotas de fuga seguras.
À margem destes processos, o Supremo Tribunal grego está ainda a investigar a causa dos incêndios em que morreram pelo menos 91 pessoas, e que afectaram sobretudo a localidade de Mati. Foram os piores incêndios no país desde que são mantidos registos. Especialistas apontam o dedo a décadas de construções ilegais, falta de planeamento e a ausência de planos de evacuação.
Aproveitamento político?
Fora dos tribunais, oposição e Governo trocaram farpas sobre a gestão da catástrofe de Julho. Tsipras acusa a oposição de explorar a tragédia, e a oposição, por seu turno, sugeriu a demissão do primeiro-ministro.
Kyriakos Mitsotakis, líder do partido conservador Nova Democracia, a principal força da oposição, que neste momento está à frente nas sondagens, declarou: “Não percebo como é que algumas pessoas podem dormir à noite e continuar a exercer as suas funções”.
“Quando alguém assume responsabilidade política por algo, isso deve ter como consequência uma acção, e a demissão é uma acção de responsabilidade política”, disse Mitsotakis — embora não se tenha referido directamente a Tsipras, a declaração foi vista como uma sugestão que o primeiro-ministro se demitisse, já que Tsipras declarou que assumia a responsabilidade política.
Já o gabinete de Tsipras acusou a oposição de “tentativa de aproveitamento da dor e perda de dezenas de cidadãos”. “Vidas humanas não podem tornar-se um objecto de exploração política”, disse o comunicado do gabinete de Tsipras.