Navegante: “É possível fazermos originais que soem a Portugal”

Após 25 anos embalados nas raízes, José Barros e Navegante lançam um disco só de originais, À’Baladiça. Este sábado no Olga Cadaval, em Sintra, com muitos convidados.

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Os Navegante tal como surgem na capa do disco À’Baladiça RUI MORENO
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José Barros RUI MORENO
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José Barros (à frente) com três Navegantes: Abel Batista, Miguel Tapadas e Carlos Santa Clara RUI MORENO

No Brasil chamam-lhe saideira, no Alentejo abaladiça. É a última bebida antes de ir embora, seja de um bar ou de uma taberna. E por ser a última costuma ser bem servida. Assim é o novo disco de José Barros e Navegante, que embora não seja o último nem se inclua na categoria dos líquidos, foi buscar a tal costume o seu título, À’Baladiça. Com onze temas, todos eles originais, o disco é apresentado este sábado no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, às 22h. E em ambiente de festa, já que o grupo completa 25 anos de existência. Com José Barros e os Navegante (Miguel Tapadas, Vasco Sousa, Abel Batista e Carlos Santa Clara) estarão presentes, como convidados, Isabel Silvestre, Rão Kyao, Carlos Alberto Moniz, Samuel, Rui Vaz, Mimmo Epifani, Armindo Neves, Rui Júnior, José Manuel David e Xico Malheiro. Nos coros, estarão as vozes de Helena Mendes, Helena Pratas e Sofia David e do Grupo Coral Os Alentejanos da Damaia.

O espectáculo, diz José Barros, será todo ligado, sem quebras de ritmo, com os temas encadeados uns nos outros. “O disco vai ser apresentando na totalidade e com uma coisa que eu nunca consegui fazer, porque não é fácil, que é ter em palco toda a gente que fez o disco.” Cantores como Carlos Alberto Moniz ou Samuel fizeram mesmo questão de ir. O primeiro vai cantar com ele um tema “clássico” dos Navegante, Saudade; e o segundo escolheu Porque o melhor…, com poema de Camilo Pessanha. “‘Porque o melhor/ é não ouvir nem ver…’ Fazemos isso todos os dias, vemos na TV crianças a passar fome e mudamos de canal. Isso é de uma actualidade incrível, e ele escreveu-o em 1919!”

Cravos e escravos

O disco abre com Músicos, cravos e rosas, letra e música de José Barros: “Tiramos a vírgula e fica ‘músicos escravos e rosas’. Porque somos cada vez mais escravos de nós próprios. A nossa música anda por aí, muitas vezes roubada, e a canção fala disso: os músicos têm coração e o coração é o pior que eles podem ter. Porque dizemos ‘sim’ demasiadas vezes a coisas que devíamos recusar.” Todas as composições do disco são dele, bem como a maioria das letras, com excepção de Porque o melhor, com poema de Camilo Pessanha (1867-1926); Passam horas passam dias e Viagem ao centro do peito, ambas com letra de Amélia Muge (na Viagem há uma guitarra eléctrica em distorção e “Mimmo Epifani a fazer hip hop”); e Flor de peito, a fechar, com letra de Teresa Muge.

“Este disco esteve para se chamar Viagens, mas já havia um”, diz José Barros. “Porque é um disco de partilhas de sonoridades, de músicos, países e outras culturas ao longo destes quase dez anos de interregno desde o último disco de originais. Porque as viagens foram muitas: México, Itália, Eslovénia, Croácia, Marrocos, Estados Unidos, Brasil várias vezes. E todas estas as viagens me tornaram naquilo que eu hoje sou. Este é o disco do Navegante em que eu toco mais instrumentos tradicionais, e tenho algumas estreias, como a minha ‘caipiresa’, que é uma mistura de viola caipira e de braguesa.”

Mar, fado e cultura

Destas viagens não podia estar ausente o mar, aqui com um toque de fado: É o mar que nos ensina. “É uma elegia à cultura portuguesa. As pessoas vêm a Portugal por variadíssimas coisas e uma delas é a cultura. E isso fala do que é ser português hoje no mundo. Dizem que o fado é triste, mas um povo que canta a sua própria tristeza não pode ser triste.”

Décimo-primeiro disco dos Navegante, À’Baladiça  inaugura uma nova era na produção do grupo. “O Navegante teve um momento certo. No início eram alguns temas tradicionais e alguns originais. Passámos 25 anos assim, esta é a viragem. Ou seja, com este projecto, José Barros e Navegante, a partir de agora só faço temas originais. À’Baladiça vai por aí. E quero provar que é possível fazermos coisas originais que soem a Portugal.”

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