"Se o mundo não mudar, Cuba vai acabar por ser mais um país capitalista"
Se Che Guevara ainda fosse vivo, a América Latina seria livre e socialista, acredita o seu irmão mais novo, Juan Martin Guevara. A revolução socialista ganhou alicerces em Cuba porque, como disse o seu irmão, os revolucionários dos irmãos Castro aproveitaram um momento em que "o imperialismo estava distraído". Mas agora já não há distracções.
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Se Che Guevara ainda fosse vivo, a América Latina seria livre e socialista, acredita o seu irmão mais novo, Juan Martin Guevara. A revolução socialista ganhou alicerces em Cuba porque, como disse o seu irmão, os revolucionários dos irmãos Castro aproveitaram um momento em que "o imperialismo estava distraído". Mas agora já não há distracções.
O seu livro retrata um período de enorme conturbação política na América Latina, falando de duas situações que conhece bem, a revolução cubana e os processos por que passou a Argentina. Se o seu irmão fosse vivo, que apreciação faria se fosse hoje a Havana?
Respondo com uma metáfora. Se o Che estivesse vivo, a América Latina seria livre, soberana, independente e socialista, porque tudo o que ele metia na cabeça, fazia. O chamado capitalismo bom, do Estado social e de bem-estar, inclusivo, eleitoralista, não deixa de ser capitalismo. O neoliberalismo, que é tremendo, todo ganância, em muitas oportunidades foi funcional. Estes regimes nunca abdicaram do poder, não enfrentam o poder, dependem dele. É assim na Argentina, no Peru, no México, no Brasil, no Chile… o que aconteceu ao capitalismo bom?
Como justifica a actual viragem à direita na América Latina, que há uns anos parecia ter consolidado um bloco regional de governos de esquerda?
O progressismo não era realmente esquerda, e a esquerda não era realmente o que dizia ser. O progressismo era um capitalismo disfarçado e os socialistas eram oportunistas camuflados a trabalhar para ou com as grandes empresas. Há um escrito em que o Che diz que uma das coisas excepcionais que houve em Cuba foi que nesse momento o imperialismo estava distraído. Mas essa foi a excepção, o imperialismo deixou de estar distraído.
Como vê a actual política de abertura económica de Cuba?
Os cubanos defendem o que conquistaram, mas como todos os países estão a sofrer o ataque do capitalismo. A defesa não pode ser para voltar para trás e sim seguir para diante. Vão conseguir? Não sabemos. Não é possível que um país de 11 milhões de habitantes possa sozinho manter a revolução para sempre. Se o mundo não mudar, Cuba vai acabar por ser mais um dos países capitalistas que temos por aí. Eu digo sempre aos jovens que criticam Cuba, que não é com críticas que a situação se resolve, mas com a revolução nos outros países. Quando fizermos a revolução, Cuba deixa de ter o garrote ao pescoço. Se não a fizermos, vai continuar a apertar-se. Quando deixamos de fazer a revolução, voltamos para trás – a União Soviética demonstrou isso. As revoluções também geram e criam poderes. Agora, depois disso, são favoráveis ao povo? No caso da Rússia e da China, não.