Grécia: a crise da dívida (que nunca acabou) voltou em força
FMI faz avaliação pessimista e desacordo entre a troika agudiza-se. Pedido comum é o de reformas ao Governo grego: mas não há sinais de que este se prepare para as fazer já.
A crise da dívida grega está de volta à ribalta e com uma série de complicações: desacordo entre o FMI e o Mecanismo de Estabilidade Europeu, divergências dentro do próprio FMI, rejeição pela Grécia “das exigências absurdas” que lhe são feitas, e o levantar de novo do espectro do "Grexit" pela Alemanha. Tudo isto, como sempre, com um prazo a aproximar-se sem que se veja solução, um pagamento que Atenas tem de fazer em Julho e que só conseguirá cumprir se houver um acordo entre todos.
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A crise da dívida grega está de volta à ribalta e com uma série de complicações: desacordo entre o FMI e o Mecanismo de Estabilidade Europeu, divergências dentro do próprio FMI, rejeição pela Grécia “das exigências absurdas” que lhe são feitas, e o levantar de novo do espectro do "Grexit" pela Alemanha. Tudo isto, como sempre, com um prazo a aproximar-se sem que se veja solução, um pagamento que Atenas tem de fazer em Julho e que só conseguirá cumprir se houver um acordo entre todos.
Num ano de importantes eleições na Europa – começando na Holanda já no próximo mês, França em Abril e na Alemanha em Setembro – os actores principais tentam um acordo que parece impossível antes de uma reunião do Eurogrupo, o grupo informal dos ministros das Finanças, a 20 de Fevereiro.
A divulgação da última avaliação do FMI agudizou a discussão sobre uma questão antiga: a sustentabilidade da dívida grega. O FMI diz que a Grécia dificilmente consegue sustentar a dívida – mas os europeus recusam um perdão. Vozes da Alemanha e Holanda, que vão ter eleições, foram rápidas a dizê-lo. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, repetiu-o, e acrescentou que só haveria perdão da dívida se a Grécia saísse do euro.
Por outro lado, o relatório do FMI tem uma série de vezes a expressão “a maioria dos directores pensa que”, nota o diário Financial Times, algo que não acontece frequentemente. Não é claro que efeito poderão ter estas divisões dentro do FMI – que neste momento presta apoio técnico e não contribuiu para o terceiro empréstimo, mas cujo aval e opinião técnica é considerada fundamental pela Alemanha.
Em resposta ao relatório do FMI, Klaus Regling, director do Fundo de Estabilidade Europeu, que empresta as verbas, escreveu no Financial Times que “a solução para a Grécia não é mais um alívio da dívida, mas a concretização de reformas para evitar demora na transferência da próxima tranche do empréstimo”.
Com protestos sociais a avolumar-se no país, não há sinais de que o Executivo de Alexis Tsipras esteja pronto a dar este passo.
Ainda esta quinta-feira, os agricultores bloquearam a fronteira com a Albânia, depois de na semana anterior o terem feito na Macedónia. Prometem ir até Atenas na próxima semana para lutar pela “sobrevivência”, ameaçada, dizem, pelo aumento dos impostos no sector e os cortes nas pensões.
No dia anterior, foram os bombeiros que encheram a praça Syntagma, dizendo que um terço dos empregos estão em risco pelas restrições à contratação para o sector público previstas pelos termos do programa de austeridade.
Três hipóteses
Até agora, os vários executivos gregos tendem a levar ao Parlamento centenas de páginas de legislação a ser aprovada em contra-relógio mesmo em vésperas de prazos de pagamentos.
O próximo é em Julho: sete mil milhões de euros que Atenas não tem como pagar se não tiver a verba do empréstimo. Perante isto, o primeiro-ministro grego tem agora três hipóteses, resume o Wall Street Journal.
A primeira é aprovar já rapidamente as medidas e não dar margem de manobra a especulação sobre o "Grexit". É um passo muito difícil para um Governo frágil, especialmente porque não há uma contrapartida imediata. A primeira reacção do Governo veio da ministra do Trabalho, Efi Achtsioglou, que disse que as exigências do FMI eram “pouco razoáveis” e classificou a posição do fundo como “problemática”. Não parece muito provável.
A segunda possibilidade é fazer o habitual: resistir às exigências, adiar, e tentar obter alguma vantagem nas negociações antes de aprovar o que seja preciso. Nessa altura já terão passado duas das eleições importantes, em França e Holanda – e ninguém sabe com que consequências –, mas faltam as alemãs. E é um risco adicional, já que, como dizia um responsável europeu ao Financial Times, “realisticamente, é em Fevereiro que é preciso chegar a um entendimento político”.
A terceira é a hipótese de marcar eleições antecipadas. Esta seria uma saída na medida em que o partido de Tsipras tem uma quase garantida derrota. O partido perderia o poder após apenas dois anos, mas poderia voltar à oposição no papel de força anti-austeridade. O novo Governo enfrentaria, no entanto, exactamente o mesmo problema.