“La La Land”, um “rewind” obrigatório

Mais do que falar de uma história de amor, fala de como o amor pode acontecer de uma maneira muito normal, o que por si só é uma lufada de ar fresco

Foto
DR

Nunca adorei musicais, sempre me obrigaram a distanciar do verdadeiro propósito da história e do seu enredo. Ando sempre mais preocupado com os agudos alucinantes e ensurdecedores do que com a trama que me costuma entusiasmar quer no drama quer no terror. Esta minha particularidade pode elucidar para um gosto muito próprio dos chamados trash movies, porque o verdadeiro apreciador adora os clássicos. Não me quero deixar rotular, porque eu próprio me deixei surpreender.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Nunca adorei musicais, sempre me obrigaram a distanciar do verdadeiro propósito da história e do seu enredo. Ando sempre mais preocupado com os agudos alucinantes e ensurdecedores do que com a trama que me costuma entusiasmar quer no drama quer no terror. Esta minha particularidade pode elucidar para um gosto muito próprio dos chamados trash movies, porque o verdadeiro apreciador adora os clássicos. Não me quero deixar rotular, porque eu próprio me deixei surpreender.

Longe de ser uma crítica à obra, este texto prende-se apenas com a minha interpretação. Até porque consiste numa non-spoiler review, e pouco há para descobrir nestas entrelinhas acerca do filme. Caso assim não seja, espero, aqui solene, os vossos insultos após sessão de domingo à noite.

Mais do que falar de uma história de amor, fala de como o amor pode acontecer de uma maneira muito normal, o que por si só é uma lufada de ar fresco no que toca ao cenário "socioamorosócultural" de hoje em dia, repleto de relações entupidas de cor-de-rosa. É a constante e inevitável personalização de uma realidade que é a nossa.

Vamos todos, por favor, encarar o que acabei de dizer sem tochas e forquilhas na mão e vamos, também, perceber que só apelo à normalidade e aceitação do destino, tal e qual a Mia e o Sebastian o fizeram.

Nas palavras do meu antigo colega Wilson Ledo, "La La Land não escolhe o caminho mais fácil para terminar. Pelo contrário, é como se tudo voltasse ao início. Em poucos minutos, mostra-se que tudo poderia ter sido de outra maneira —aquela que, lá no fundo, desejávamos". Que, apesar de ser uma análise adaptada, peca por não nos dar qualquer outra hipótese utópica e naive.

Este filme deu-me isso. A possibilidade de imaginar o meu próprio final para a história, de pensar nas escolhas que fiz, mas também nas que não fiz. Fez-me lembrar o meu velho hábito de ler de trás para a frente, que sempre me deu a sensação de estar mais preparado para o que aí vinha. Julgava estar um passo à frente, não sei bem de quem, mas dava-me uma vantagem jeitosa relativamente às personagens dos livros. Para além de que existe a máxima de que o tempo passa sem nos darmos conta, e desta maneira saberia pelo menos a que velocidade isso corresponde e poderia tentar ganhar uns segundos de avanço, adiantando-me um lusco-fusco.

Não com a finalidade de evitar quaisquer acontecimentos, mas de poder cerrar os punhos sempre que eles estivessem para chegar. Porque o meu problema sempre foi lidar com o presente e não com o que vem depois, nem com o que aconteceu antes, tal e qual os protagonistas deste filme.

Neste ponto tenho muito a aprender com estas personagens. Tomam todas aquelas decisões difíceis de amar ou não, de chorar ou não, sempre a cantar impecavelmente bem e a dançar como eu julgo dançar nas noites de sexta-feira.

Sim, porque eu adoro musicais desde pequenino.