Novos donos do Tivoli querem abrir 15 hotéis da cadeia fora de Portugal
Os tailandeses do Minor Hotel Group protagonizaram o maior negócio na hotelaria ao comprar os Tivoli, arrastados pelo colapso do Grupo Espírito Santo. Qatar e Banguecoque são os próximos destinos.
Depois de um conturbado processo de venda, o Minor Hotel Group (MHG) está a arrumar a casa e prepara-se para expandir os hotéis Tivoli para o Médio Oriente. E o primeiro destino da marca portuguesa, criada há 83 anos e arrastada pelo colapso do Grupo Espírito Santo (GES), é o Qatar. Segue-se, depois, Banguecoque.
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Depois de um conturbado processo de venda, o Minor Hotel Group (MHG) está a arrumar a casa e prepara-se para expandir os hotéis Tivoli para o Médio Oriente. E o primeiro destino da marca portuguesa, criada há 83 anos e arrastada pelo colapso do Grupo Espírito Santo (GES), é o Qatar. Segue-se, depois, Banguecoque.
Dillip Rajakarier, presidente executivo do Minor Hotel Group, adiantou ao PÚBLICO, que até ao final do ano haverá uma unidade “de topo” naquele país do Médio Oriente, onde a empresa já gere dois hotéis. “Estamos também a olhar para Banguecoque e temos planos para ter lá um Tivoli. Nos próximos cinco anos teremos dez a 15 fora de Portugal, o que significa duplicar o actual portefólio”, continuou.
O grupo tailandês formalizou a compra dos 14 hotéis Tivoli em Fevereiro por 294 milhões de euros, protagonizando o maior negócio do sector em Portugal. Gere e detém um total de 151 unidades e 19 mil quartos, a funcionar com as marcas Avani, Marriott ou Four Seasons em 22 países na Ásia, Médio Oriente e África. A estratégia para os portugueses Tivoli – a porta de entrada do MGH na Europa e no Brasil - passa por “elevar a marca” e posicioná-la como um produto “premium”. Por isso, além da expansão internacional, o grupo tem 50 milhões de euros para investir em remodelações em Portugal e até ao final do ano espera ver concluídas as obras em oito hotéis.
Dillip Rajakarier admite que as unidades geridas pelo GES estavam em pior estado de conservação do que o esperado. “Já remodelámos quatro hotéis, os edifícios estavam em muito mau estado. Eram geridos por uma empresa não hoteleira que não investiu dinheiro nos últimos 20 anos. Quanto tentamos aumentar o perfil dos Tivoli, temos de fazer renovações primeiro”, justifica.
O Tivoli Lisboa será o hotel “bandeira” com 15 milhões de euros disponíveis para uma remodelação, que inclui lobby, bares e restaurantes. As obras arrancam em Novembro e devem terminar em Abril. Está ainda prevista a construção de um centro de convenções em Vilamoura, com investimento previsto de dez milhões de euros. Os hotéis no Brasil (São Paulo e Praia do Forte) também já foram alvo de remodelações.
Há sete meses a gerir as 12 unidades em Portugal e duas no Brasil, o MHG admite que a marca “estava em declínio”. “Ainda não foi possível aumentar a percepção até ao standard que gostaríamos mas fizemos um grande trabalho”, afirmou o presidente executivo. “Só isso permite elevar a marca e aumentar o preço por quarto”, continuou, referindo-se às renovações.
A intenção do grupo tailandês é clara: criar uma cadeia hoteleira de luxo e atrair os seus habituais clientes da Ásia (sobretudo China) e Médio Oriente a Portugal. Mas enquanto as obras não terminarem, não haverá esforços para atrair clientes habituais do MHG. “Seria prejudicial para a marca. Se vierem e verificarem que os hotéis estão velhos, não regressam. É importante subir o nível, garantir que os hotéis e as instalações estão modernizadas e as pessoas treinadas. Para que, quando venham, regressem”, diz Dillip Rajakarier, que tem planos concretos para promover os Tivoli na China. “Ajudaria ter um voo directo, mas acredito que o Governo promoverá isso em breve”, atirou.
Para já, no Tivoli Vilamoura e no Tivoli Oriente (Lisboa) os preços já aumentaram entre 10 a 15%. “Esse é o primeiro passo. Não podemos aumentar logo o preço 50% ou 100%. Temos de aumentar de forma gradual, distinguir-nos face às marcas locais e garantir que o serviço está lá. O que estamos a tentar fazer agora é elevar o Tivoli a marca internacional”, detalha.
Além da expansão da empresa portuguesa, o MHG vai trazer para Portugal marcas hoteleiras que tem noutros países. O Tivoli Victoria, no Algarve, será transformado no primeiro resort Anantara na Europa. Dillip Rajakarier adianta que também há planos para transformar o Tivoli Jardim, em Lisboa, num hotel Avani.
Questionado sobre o interesse em comprar novos hotéis, o CEO do grupo tailandês adiantou que “está sempre à procura”. Em Portugal, o Porto é um dos locais que a empresa “está a analisar”. “Também estamos a analisar os Açores, mas ainda estão muito no início” do desenvolvimento turístico, acrescentou. Na Europa, os planos são expandir para Espanha e Londres, numa perspectiva de “longo prazo”.
Cinco passos de uma aquisição atribulada
- O colapso do Grupo Espírito Santo e do Banco Espírito Santo apanhou a Hotéis Tivoli em pleno processo de negociação para a venda dos seus activos. Em Janeiro, acabou por entrar em Processo Especial de Revitalização. Os bens foram, entretanto, arrestados pela justiça e um dos credores, o Montepio, reclamou 60 milhões de euros de dívidas.
- O Minor Hotel Group anuncia em Janeiro a compra de dois hotéis Tivoli no Brasil e quatro imóveis da cadeia hoteleira por 168 milhões de euros.
- Cinco meses depois, o grupo tailandês avançou com uma proposta de 82,5 milhões de euros para controlar os hotéis Tivoli, assumindo também o passivo no valor de 69 milhões de euros
- No final do ano, em Outubro, avança a compra do hotel Tivoli Oriente.
- Com o fim do arresto, em Fevereiro de 2016, é finalizada a aquisição de outros sete hotéis da cadeia que ainda não estavam na sua posse. Fica, assim, com 14 hotéis (12 em Portugal e dois no Brasil).